Comunità Italiana

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Uma pracinha em Recanati

Recanati é uma cidadezinha na região de Marche visitada pelos turistas que adoram as poesias de Leopardi. Por toda a cidade, há plaquinhas com estrofes de suas poesias. Sobre a colina onde ele se inspirou para escreveu o célebre poema Infinito, está escrita a primeira frase, no alto. Pode-se visitar a casa onde ele morou. Ao público está aberta a biblioteca, pois nos outros andares moram os descendentes. A Casa de Leopardi fica na praça hoje chamada Piazza Sabato del villaggio, nome de outro poema famoso do autor. Na pitoresca praça, fica também uma bela igreja e a casa de Silvia, a musa de Leopardi. Uma praça mágica — cheia de poesia.

 

 

 

 

Giacomo Leopardi e seu pai

Quem somos? Quanto exatamente somos o que somos devido ao nosso DNA e quanto ao ambiente onde nascemos e crescemos? Essa questão filosófica se repete há séculos. Dante seria Dante se tivesse nascido em outro lugar?
Somos o que somos devido a uma conjunção de fatores: nossos pais, a ordem de nascimento na família, o ambiente escolar e outros encontros que fazemos pela vida, a cidade e o país em que nascemos e crescemos, a sorte, o destino e infinitas variáveis.
Estive recentemente em Recanati, na região de Marche, e pensei nessas perguntas com maior força. Em Recanati, nasceu Giacomo Leopardi, o maior poeta italiano do século XIX e grande filósofo e filólogo. Nasceu em 1798 e morreu em Nápoles aos 39 anos. Seu pai, Monaldo Leopardi, filósofo, político e literato, cuja paixão era os livros, criou em sua casa uma biblioteca de 20 mil volumes. Com o tempo, abriu essa biblioteca pessoal aos cidadãos.  
Seu filho Giacomo era um verdadeiro menino prodígio, um autodidata. Com a biblioteca à disposição em casa, estudava horas e horas a fio, causando até problemas em sua coluna. Aprendeu entre os 11 e 19 anos latim, grego e hebraico. Teve também dois preceptores. Um deles desistiu de ensinar ao menino dizendo que o aluno já sabia mais do que o professor.
A um certo ponto da adolescência, sua erudição cedeu lugar à poesia, gênero pelo qual brilhou acima de tudo em sua vida.
Hoje, a biblioteca pode ser visitada somente com um guia que explica um pouco da história do grande poeta e do nascimento desta biblioteca impressionante. Uma das estantes é dedicada aos livros proibidos na época, para os quais era necessária uma permissão especial da Santa Sé.
Ao crescer num ambiente assim, com um pai voraz do ponto de vista cultural, Giacomo Leopardi acabou-se tornando o grande poeta que foi. Mas não seus irmãos. No caso de Giacomo, juntou-se, como diz o ditado popular, “a fome com a vontade de comer”, criando as bases para o gênio do poeta.
Caso parecido com o de Leopardi na Itália é o de Montaigne, na França. O pai de Montaigne também era um grande devorador de livros e cultura e Montaigne teve até uma ama-de-leite que falava com ele só em latim! Dois grandes homens e, por trás deles, dois grandes pais, talvez um pouco exagerados na maneira de educar, mas que criaram o ambiente perfeito para o florescimento de dois gênios. Teriam eles sido quem foram se não tivessem tido esses pais?