Titignano
Vagabundando
O ócio é o pai dos vícios, diz o velho ditado. Mas ultimamente o ócio teve um upgrade. O ócio, em certas circunstâncias, é visto como coisa positiva. Afinal, se estamos sempre correndo, ocupados, quando é que temos tempo para pensar em maneira criativa? E os poetas, desde que o mundo é mundo, precisam de meditação, de contemplação, de ócio para escrever em modo sublime, criando uma combinação de palavras de rara sensibilidade.
Na realidade, a valorização do ócio vem dos antigos romanos, que não o consideravam como vagabundagem. O “otium” era um momento dedicado à especulação intelectual e criativa, diferindo do “negotium”, que era uma coisa mais prática, voltada às atividades de negócios.
Nos tempos modernos, Domenico De Masi, o sociólogo italiano, trouxe de volta à tona esse conceito de ócio benéfico. Na sociedade atual, as fronteiras entre trabalho, estudo e jogo se confundem, gerando o famoso ócio criativo.
Alguns profi ssionais têm a sorte de amar o que fazem; hobby e profi ssão parecem se misturar. Vale no mundo artístico: cantores, pintores, escritores. Diz o escritor Paul Morand: “O ócio é o pai de todos os vícios, mas o vício é o pai de todas as artes”.
Existe, porém, além do ócio criativo, o ócio preguiçoso, que é visto com maus olhos. Em Roma tem um ditado engraçado: “Voglia di lavorare saltami adosso.” “Vontade de trabalhar, pule em cima de mim.” Ai, que preguiça de trabalhar!
O personagem vagabundo, que quer fazer pouco ou nada é um dos personagens engraçados no universo cinematográfico italiano. No filme “O Matador” com Gassman, tem uma cena ótima. Ele é um ladrão profi ssional. E a namorada, que sabe disso mas quer levá-lo para o bom caminho, consegue um emprego para ele como vendedor numa loja de cristal. Mas ele, ao ser entrevistado pelo proprietário para conseguir o tal emprego, improvisa uns chiliques e cada vez que fala, a mão treme e derruba um objeto da loja. Obviamente o proprietário diz que é impossível contratá-lo com esse problema de tique-nervoso.
Na Itália, quem vive e não faz nada é batizado com o termo “fannulone” (faz-nada). Tem a canção famosa do Fabrizio De Andrè que homenageia a categoria: Il fannullone (Senza pretesa di voler strafare/ io dormo al giorno quattordici ore/anche per questo nel mio rione/godo la fama di fannullone.
Outra cançãozinha brincalhona é a filastrocca, (cantiga de roda infantil) que tira sarro da preguiça:
Il lunedì, ch’è il dì dopo la festa, o Dio, che mal di testa, non posso lavorare! Il martedì mi siedo sulla soglia ad aspettare la voglia che avrò di lavorar. Il mercoledì preparo i miei strumenti, ma ahimè; che mal di denti, non posso lavorar. Il giovedì, che fa così bel tempo, davvero non mi sento di andare a lavorar. Il venerdì, ch’è il dì di passione, mi sento in devozione, non posso lavorar. Sabato si ch’è proprio il giorno buono: ma per un giorno solo, che vale lavorar?
E este hino à preguiça, contagiou a mim também. Fico por
aqui. Até a próxima!