{mosimage}Uma Trattoria em Patù
A Itália, como a França, tem pequenos vilarejos sem grandes atrações turísticas, onde grandes gulosos precorrem quilômetros para comer bem. Existem, entre esses restaurantes estilo gourmand, alguns muito caros, com estrelas no Guia Michelin e outras trattorias simples, mas que servem ótimas refeições a bons preços. A Trattoria Rua de li Travaj, localizada na praça principal (ou seria a única?) do vilarejo de Patu’, na Puglia, é uma dessas.
O ambiente é gracioso, com uma área ao ar livre durante o verão. A comida é abundante (vieille cuisine, meno male), com um antipasto muito bem servido (quente e frio) com verduras, pittule (espécie de bolinhos fritos) e tantas outras delícias, sagne, um macarrão feito em casa maravilhoso, seguido por carne de cavalo e finalizando com um docinho. Cozinha caseira e saborosa.
Um pezinho em cada lado do Equador
Dizem que ser mãe é ter o coração batendo fora do próprio corpo. Acho que morar no exterior também tem um pouquinho disso. Quem mora longe da terra natal tem sempre o coração, ou uma parte dele, batendo em outro lugar.
Eu, morando fora há quase dez anos, também tenho esse sentimento esquisito. Quando me mudei para a Itália, não sabia das consequências e fui parar nessa enrascada. Eternamente dividida. Se estou na Itália, tenho saudades do Brasil. Se estou no Brasil, tenho saudade da Itália. Meu coração está partido. E essa bicicleta, eu bem que quis e vou ter que pedalar até o fim.
Esse amor pelos dois países sofre fases. Da mesma forma que ninguém é perfeito (como conclui em modo divertido o filme Quanto mais quente melhor), nenhum país é perfeito. Existem coisas que são melhores no Brasil e outras que são melhores na Itália. É uma constante balança, um equilíbrio delicado. Ora estou apaixonada pela pátria adotada, ora pelo meu Brasil natal. Desta última vez, que foi em agosto deste ano, me apaixonei pelo Brasil. Só não gostei da taxa de câmbio. Para europeu, o Brasil ficou muito caro.
Na minha terra natal adorada, pude comer tantas delícias. Muita carne (que continua mais barata que na Itália), muitos pastéis, escondidinhos mil, casquinhas de siri e até um extraordinário brigadeiro numa loja chamada, é claro, Maria Brigadeiro. Como dizem, tirei a barriga da miséria. Matei a saudade dos quitutes brasileiros. Matei a saudade dos brasileiros, que estão, em geral, de bom humor. Matei a saudade de farmácia 24 horas, supermercado 24 horas, tudo sempre aberto, que maravilha. No Brasil, agora, como mãe, percebi várias mudanças que favorecem a vida de quem tem filhos pequenos. Os shoppings têm sempre uma área especial reservada para trocar bebês e em alguns casos até carrinhos de bebê disponíveis para as mães passearem pelo shopping. Vários lugares se adequaram organizando uma área ao ar livre para as mamães: os clubes, as praias. Alguns cinemas fazem cine mamãe, com horários reservados às mães para vir com os seus pimpolhos. A boa impressão começou assim que o avião pousou no Brasil. Assim que fomos buscar as malas, nosso carrinho de bebê despachado no embarque já estava nos esperando. Viva o Brasil!
Qual foi minha decepção ao chegarmos na Itália e ficarmos com o bebês quase uma hora no colo até finalmente chegar o famoso carrinho despachado. E pior. Tivemos que buscá-lo em outro local, o departamento de malas fora de medida, afinal, segundo a lógica do aeroporto de Roma, os carrinhos de bebê não chegam ao mesmo lugar onde chegam as malas. Uma ideia “genial” de logística para complicar a vida de quem viaja com filhos. A famosa “organização” all’italiana. E isso é somente a ponta do iceberg. Em certos quesitos, a Itália parece mesmo terceiro mundo. E digo isso com grande angústia. Existe um conformismo geral que impede qualquer mudança.
Italia mia, não decepcione quem te adotou de coração. Acordem, Fratelli d’Italia. Está na hora de fazer um “lifting” no país.