Due Ladroni
Em Roma há alguns restaurantes com nomes divertidos. Um deles é o Due Ladroni. Fica na piazza Nicosia, no centro histórico de Roma. O ambiente é aconchegante e a comida, muito boa. No outono, fazem um delicioso tagliolini com tartufo branco.
Mas o interessante é a origem do nome do restaurante. Foi aberto em 1945, por dois irmãos como osteria, ou seja uma espécie de restaurante mais simples. Atraídos pelos bons preços, os clientes mais assíduos eram os caminhoneiros. Mas o local começou a ganhar fama e a clientela aumentou. Como a lei da oferta e procura, quanto mais clientes eles tinham, mais os preços aumentavam. Os caminhoneiros, então, para marcar encontro com os colegas de profissão diziam: “A gente se encontra lá nos dois ladrões!”
Há mais de duas décadas, o restaurante tem outros proprietários. Mas a comida continua ótima, o restaurante continua cheio e os proprietários, sempre faturando muito.
Vizinhos: por que tê-los?
“I want to be alone”, dizia Greta Garbo. “O inferno são os outros”, dizia Sartre. Realmente, desde que o mundo é mundo, convivência nunca foi fácil. Se, até no casamento por amor, tantos são os sapos engolidos e, mesmo assim, muitos casais não aguentam, imagine com nossos caros cidadãos, que não são nem a doce metade, nem família, nem amigo. Convivência é uma arte reservada a quem tem uma boa dose de diplomacia.
Já escrevi, antes, nesta coluna, sobre os vizinhos na Itália, e sobre um senhor que “batendo” a toalha fora da janela, jogava as migalhas e, certa vez, uma faca, direto para o andar de baixo, ou seja, o meu! Enfim, mudei de condomínio. Vida nova, casa nova… Novo lar, doce lar. Novos vizinhos e obviamente…. novos problemas.
Existe até um livro publicado na Itália: Como sobreviver ao condomínio. Para ver como a questão é complicada. No condomínio antigo, tinha que lidar com as migalhas que voavam dentro de casa. Agora, além desse problema, que persiste, surgiram outros.
Os elevadores na Itália são pequenos e, às vezes, não partem do térreo e sim, de uma espécie de primeiro andar. Por esse motivo, muitas pessoas do meu condomínio deixam os carrinhos de bebê no térreo, principalmente os carrinhos maiores, que não entram no elevador a não ser fechados.
Pelo jeito, a prole vem se multiplicando muito rapidamente no meu condomínio e foram parar seis carrinhos “estacionados” no térreo. O que causou protestos, cartazes ferozes criticando os pais e vandalismo de alguns moradores.
Assim, foi convocada de urgência uma reunião de condomínio “devido a assunto de extrema importância”: eliminar os carrinhos deixados no térreo e os porta guarda-chuvas em frente à porta das casas.
Ora, eu era duplamente pecadora. Pelo carrinho e pelo porta guarda-chuvas. Assim, para defender a categoria dos pais e dos proprietários dos objetos, fui à primeira reunião de condomínio da minha vida.
Éramos seis gatos pingados: eu e cinco detratores do carrinho. Papo vai, papo vem. Eles mostram toda a indignação do mundo. Quando eles tiveram filhos, levavam sempre o carrinho para cima. Por que eu não podia fazer o mesmo? Eu me defendi dizendo que com gêmeos a questão era mais complicada. Uma exceçãozinha? “Ora”, diziam em coro, “mas se fizermos uma exceção, o futuro está comprometido… e os filhos dos futuros moradores?” Duas horas e muita saliva depois, eles acabam por autorizar somente os carrinhos de gêmeos. Ufa!
Entra em discussão outro assunto grave: os porta guarda-chuvas, um atentado à beleza do condomínio! Decisão: banido para sempre! Tudo bem. São os sapos engolidos em nome da convivência. Em outras palavras, a famosa diplomacia.
Assim, com meu carrinho duplo de bebê no térreo e com os guarda-chuvas dentro de casa, a vida no condomínio prossegue tranquila.
Isso é, até que um morador ache o próximo abacaxi.