Gole dell’Alcantara
Não muito longe do Etna, nos arredores de Taormina, na Sicília, fica uma das atrações sicilianas mais interessantes: a Gole dell’Alcantara, ou seja, as gargantas do Alcântara, espécie de cânion que tem o nome homônimo do rio que corre entre suas pedras lávicas. As gargantas ficam dentro do Parque Fluvial do Alcântara, uma fascinante reserva natural. A água é gelada (uns 10 graus), mas muitos corajosos encaram o banho no verão. A maioria recorre a um artifício: alugam uma espécie de salopete de plástico.
Arrivederci trem noturno
Para mim, a notícia foi uma grande tragédia. Eliminaram quase todos os trens noturnos na Itália. Com a crise, a ferrovia nacional teve que cortar pessoal e custos e os trens noturnos foram para as cucuias. Nem todos, mas a grande maioria. A qualidade, diga-se de passagem, já não era lá essas coisas. Mesmo assim, para mim e para tantos outros passageiros (além dos trabalhadores que perderam o emprego, é claro), foi um duro golpe.
Sou apaixonada por trens. Além do meu medo de avião (que confesso, meio envergonhada) e do meu romantismo por este meio de transporte retrô, existe, em minha opinião, uma certa praticidade em pegar o trem à noite. Afinal, partindo de noite de uma cidade, chegamos em outro lugar a 1000 km de distância bem cedinho no dia seguinte. Quantos encontros eu já tive nesses trens noturnos! Quanta gente conheci, quantos endereços troquei por toda a Itália, e também pela Europa. Parte dessa aventura era o famoso cuccettista, o senhor que pega as passagens assim que você chega na cabine, que traz os lençóis e as cobertas e que acorda você de manhã. Um verdadeiro pai!
O trem eliminado que mais doeu no meu coração foi o Roma-Paris. Era chamado de Palatino e ligava as duas cidades mais lindas da Europa (na minha humilde opinião). Lembro da época das vacas gordas, quando serviam cappuccino e croissant e davam o jornal de manhã em cada cabine. Dizem as gerações mais velhas que, no passado, serviam até champagne assim que se entrava no trem. O serviço foi piorando bastante: primeiro sumiu o jornal, depois o cappuccino e o croissant. Depois aumentaram os atrasos. Solução all’italiana: ora, ao invés de melhorar o serviço para resolver o problema, vamos cortar o mal pela raiz. Que tal eliminar o trem? E assim foi feito. Choveram protestos, mas de nada adiantou, pelo menos até o momento.
Para meu consolo, ainda bem que sobreviveu o Roma-Palermo.
Ah, esse também está no meu coração. Já fiz o trajeto umas seis vezes, mas a primeira vez a gente nunca esquece. O trem sai de Roma às onze da noite e chega de manhã na pontinha da Bota, em Villa San Giovanni. Mas a Sicília é uma ilha, então o que fazer? Ora bolas, colocar o trem no barco! Devagarzinho, eles vão encaixando os vagões no traghetto, o barco que atravessa o estreito de Messina, formando umas quatro ou cinco fileiras. A operação é lenta e barulhenta, mas qual foi minha excitação ao ver esse grande evento do trem que entra no barco pela primeira vez! Depois, todos devem deixar a cabine e subir no andar de cima, onde é possível tomar um belo cafezinho durante a brevíssima travessia de poucos quilômetros. Na chegada a Messina, mais uma operação: encaixar de novo todos os vagões para o trem adquirir seu aspecto original. Ora, claro que as pessoas chegam descabeladas, suadas e cansadas, mas quem se importa! Essa é que é uma verdadeira Odisséia, digna de Ulisses! E tem gente que ainda vem me dizer que de avião leva somente uma horinha…