Termas de Caracalla
Ao ver as ruínas das Termas di Caracalla, é difícil imaginar como era 1800 anos atrás, quando foram construídas. Eram termas grandiosas, destinadas ao uso do povo nos bairros populares das redondezas, com uma capacidade de 1.500 pessoas. Era considerada por alguns, uma das sete maravilhas de Roma, pela beleza de sua decoração.
O local foi abandonado no século VI e parte de sua estrutura, como traves e colunas, foram usadas para outros edifícios na Itália, como o Duomo de Pisa e a Basílica de Santa Maria in Trastevere. Desde a segunda metade do século XX, as Termas são usadas no verão como teatro ao ar livre, principalmente com programa de óperas.
Os concertos da nossa vida
Escutar CDs favoritos em casa é uma grande alegria. Mas assistir aos nossos ídolos cantando em um concerto é outra coisa, uma emoção sem igual. Os concertos maravilhosos dos quais participamos ficam em nossa lembrança para sempre. Uma magia, uma comunhão do público com o cantor e os músicos. Claro que, se o concerto é ao ar livre, é mais emocionante ainda, pois a música sublime se mistura com a natureza, as estrelas, a lua, as cigarras, os pássaros. Se o concerto é de frente para o mar, como acontece no Rio, até as ondas do mar entram no ritmo.
Lembro bem dos concertos da minha vida. Quando eu era adolescente, do RPM, do Ultraje a Rigor, da Madonna. Depois, em idade adulta, foram inúmeros os concertos inesquecíveis. B.B. King, perto de São Francisco, Chico Buarque no Olympia de Paris, Chick Corea no Hollywood Bowl de Los Angeles, um lugar de encanto, onde as cigarras fazem coro nas montanhas dos arredores, formando uma acústica especial. E o show do Charles Aznavour no festival de música da Bretanha, região oeste da França, que emoção! E quantos shows memoráveis no Rio, na virada do ano! Mas se tem algo que sinto muito não ter assistido, pela minha idade, é a um concerto de Frank Sinatra ou de Elis Regina. Eu era uma menina na época em que Elis morreu e, quando morava em Los Angeles, o velho Frank não estava bem de saúde, portanto não fazia mais shows ao vivo. Paciência.
Roma, no que se refere a concertos, é um dos melhores lugares do mundo para assistir a um. Foi emocionante assistir ao Leonard Cohen e ao Gino Paoli na Cavea do Auditorium, uma área a céu aberto ao lado da sala de concertos projetada por Renzo Piano. Ou matar a saudade do Brasil escutando Caetano Veloso na Piazza del Popolo e outra vez na Villa dei Quintili — só com um violão debaixo do braço.
Mais recentemente, neste último verão, foi uma bênção ir ao show do Riccardo Cocciante na Terme de Caracalla, circundada pelo canto das cigarras, pelos rechonchudos pinhos italianos. Com minha mãe do lado, que vem me visitar a cada dois anos, foi emoção dobrada.
Cocciante não é unanimidade na Itália. Nem é o meu compositor italiano preferido. Mas ele marcou uma época de minha vida, o início de meu amor pela Itália. Escutava, ainda adolescente, Margherita, Bella senz’anima, com lágrimas nos olhos. Suas canções são teatrais, potentes, sobre o amor no auge, sobre a dor do fim do amor, sobre o amor cansado, sobre a amizade e tantas coisas mais. E ele, baixinho, com sua voz rouca, sua energia, passa uma emoção danada para todos. O público sabia de cor a letra de Margherita e cantou juntinho. As cigarras participaram no fundo. As estrelas brilhavam ainda mais. Tudo isso com o cenário das antigas Termas de Caracalla, com todo o peso de sua história…
Haja coração!