Museu do guarda-chuva e do guarda-sol
Para aqueles que gostam de museus insólitos, aqui vai uma dica. Na cidade de Gignese, perto de Verbania, a cerca de 70 km de Milão, existe um museu interessante, o Museu do Guarda-chuva e do Guarda-sol. A coleção nasce de um projeto de Igino Ambrosini, filho e irmão de artesãos que realizavam esse artigo. O pequeno museu fazia parte do andar superior de uma escola desde 1939, mas, em 1976 foi inaugurado o museu na sua sede atual, com a colaboração da Associação Amigos do Museu e da prefeitura, sob a direção de Zaverio Guidetti, um empreendedor do mundo dos guarda-chuvas. São expostos 150 artigos, mostrando a evolução da moda, desde o início do século XIX até os dias de hoje.
Galochas, por que tê-las?
Chega o final de agosto e começam as primeiras chuvas na Itália. Em setembro, há dias de sol e dias de chuva. Metade das pessoas usa sandálias e camiseta e a outra metade já estreia o guarda-roupa invernal. Em outubro, prosseguem as dúvidas sobre como se vestir, mas, em novembro, não tem jeito, a chuva vem para ficar. E na Itália, quando chove, chove pra valer. Verificam-se vários episódios tristes, com grandes danos às cidades, como aconteceu na Ligúria e em outras regiões e como acontece também no Brasil.
Em Roma, geralmente não há graves consequências, só uma chuva chata que não para, às vezes, por uma semana seguida, com picos de tempestade, onde um guarda-chuva ralé não perdoa.
Mas a chuva não me pega mais. No ano passado, comprei um artigo que sempre julguei na minha vida o mais feio, cafona e desajeitado, um atentado à elegância: um par de galochas. Ora, eu pensava, galochas são para quem trabalha na fazenda e pisa na lama o dia inteiro ou para quem mora numa cidade com chuva 365 dias por ano. Resumindo, não era, em minha opinião, um objeto indispensável. Além disso, galocha sempre foi na minha cabeça associado ao termo “chato de galocha”. Ora, se alguém usava galocha só poderia ser um chato, uma mala-sem-alça. Dizem que a expressão tem como origem as pessoas que decidiam fazer uma visita num dia de chuva. Chegavam com a galocha toda cheia de lama e molhada e sujavam o chão da casa dos outros. Há quem conteste essa origem e diz que o termo vem do próprio objeto: o chato é como uma galocha, resistente e insistente, não larga do nosso pé!
Enfim, etimologias à parte, um belo dia vi uma promoção de galochas numa loja perto da minha casa, num outlet. Chovia cântaros (que eram os vasos para beber dos antigos gregos e romanos, providos de duas grandes asas e também o conteúdo desse vasos). Resolvi reagir. Entrei na loja decidida. E saí com um belo (na medida do possível) par de galochas pretas. Antigamente, as galochas se colocavam por cima dos sapatos. Hoje, as galochas são sapatos, ou seja, botas de borracha.
Assim, esperei com ansiedade a primeira chuva. E dá-lhe galochas. Saí de casa orgulhosa, com ar meio desengonçado, como se caminhasse com pés de pato, mas segui com passos firmes, decididos e experientes, de quem usa galocha há anos. Além da minha galocha, saí com meu guarda-chuva enorme. Assim, fiquei sequinha da silva, e passei pelas pessoas com tênis molhados e calças ensopadas, com um certo ar de superioridade. Caminhei pisando nas poças d’água com desdém, achando que estava abafando. Mas com certeza, um monte de gente deve ter passado por mim pensando “essa aí, sim, deve ser uma verdadeira chata de galocha!”