Hauner, pintor e enólogo
O que não falta na Itália é vinho bom. O turista que é também amante de vinhos não perde a oportunidade de visitar, quando dá para encaixar no roteiro, uma vinícola. Cada região, cada localidade italiana, tem seus vinhos de primeira.
Nas Ilhas Eólias, na Sicília, uma delas é a vinícola Hauner. Existente desde 1968, seu fundador, de origem da Boemia mas nascido em Brescia, era pintor e designer de prestígio. Chegou a Salina nos anos 60, quando o turismo na ilha estava no início. Foi amor à primeira vista. Depois de passar diversas férias em Salina, resolveu mudar para lá.
A vinícola Hauner é famosa pelo vinho Malvasia, que acompanha sobremesas à perfeição, mas eles produzem também vinho tinto e vinho branco. Hoje o filho de Hauner toca a empresa. Mas a marca do pai ficou para sempre nas maravilhosas etiquetas, reproduções de suas pinturas.
Fazer a scarpetta
Depois daquela bela macarronada, aquele molho delicioso ficou “dando sopa” no prato. O que fazer? Ora, pegar um pãozinho e recuperar todo o molho perdido, realizando assim um grand finale para a refeição.
Limpar o prato com o pão, em italiano, fare la scarpetta, é um costume antigo entre os italianos. Existem várias origens possíveis para a expressão. Uma é que embeber o pão no molho é parecido com o sapato que se calça no pé. O sapato passa pelo chão e recolhe tudo o que encontra e, da mesma forma, o pedaço de pão recolhe todo o molho. Outra teoria diz que provém da palavra scarsetta, ou seja, falta, pobreza, quando as pessoas pegam os restos do prato dos outros. Uma terceira explicação diz que, na Síria, nos tempos antigos, o pão tinha forma de sapato, pois era trabalhado pisando com os pés e colocando no forno logo depois. Na cultura daquele país, era comum usar o pão para molhar na sopa.
Atire a primeira pedra quem nunca fez uma scarpetta! Mesmo se, segundo a etiqueta, em italiano, o Galateo, a scarpetta se pode fazer só se for com o garfo, ou seja, com o garfo se emerge o pão no molho para saboreá-lo até o final. Mas fazê-la com o garfo me parece um tanto esnobe. Já que vai se aproveitar aquele restinho, melhor realmente conceder-se um ato “impuro” e um pouco popular, e usar a mão mesmo.
O livro Galateo, ovvero de’ costumi foi um livro escrito pelo Monsignor della Casa no século XVI, em homenagem a Galeazzo Florimonte, um bispo. Ele teve como objetivo escrever um manual não só para a nobreza mas também para o povo, que não tinha noção de etiqueta. Algumas regras caíram em desuso, ou mudaram, como a de devolver presentes valiosos depois que se termina o relacionamento e a de que o homem entra no restaurante antes da mulher para verificar se o ambiente é adequado. Hoje é mais comum deixar a mulher entrar na frente.
Até hoje o livro é usado como a Bíblia das boas maneiras. Algumas das dicas de bons costumes incluem coisas que todos nós bem sabemos, como, por exemplo, não apoiar os cotovelos na mesa ou não fazer barulho ao comer a sopa, não falar com a boca cheia, não abaixar muito o rosto com a cabeça para chegar ao prato, não colocar o guardanapo ao redor do pescoço. Mas outras são desconhecidas, como a de não se dizer bom apetite antes da refeição. Afinal, o escritor diz que é de mau augúrio. Quanto à scarpetta, de acordo com este manual, ela é proibida.
Mas etiqueta e bons modos à parte, uma bela macarronada com molho de tomate não é a mesma sem concluir com uma bela scarpetta, que nos perdoe o famoso Galateo!