Para jovens leitores
Há poucas livrarias em Roma que se dedicam somente aos leitores muito jovens. Uma das mais bonitas é a Ottimomassimo, no bairro de Trastevere. Há livros de todos os tamanhos, temas e preços. O mais interessante é que, durante a semana, e também aos finais de semana, a programação da livraria é intensa, com lançamento de livros, leituras em voz alta, cursos, laboratórios de desenho e muito mais. Bem pertinho da livraria fica a gostosa praça de San Cosimato, com um playground para os pequenos, onde no verão organizam um cinema ao ar livre para crianças e adultos.
Primeiro dia de escola primária
Quando me disseram que, no primeiro dia de aula da escola primária de meus filhos (gêmeos), os pais teriam que se reunir com os filhos no pátio interno da escola, onde as professoras chamavam os alunos um a um, confesso que achei a coisa meio estranha. Parecia cinematográfico, felliniano, dramático e um pouco desorganizado. Ora bolas, não era mais fácil afixar o nome dos alunos na sala de aula e os pais levarem os filhos diretamente?
Fui com o pé atrás. E cheia de sentimentos ambíguos. De um lado, feliz com esta nova etapa na vida deles. De outro, melancólica porque uma parte da infância estava voando embora. Agora não será mais só brincar e desenhar e faltar quando der na telha. Não terá mais a bedel para ajudar no banheiro se precisar. Agora, o negócio estava ficando sério: notas para receber, lição de casa para fazer. Mas, puxa vida, ainda são tão pequeninhos! Socorro!
Enfim, cá estou no pátio interno da escola com os dois. A maioria das crianças parece eufórica e ansiosa, todas com a mochila nova nas costas, grandes e desproporcionais ao tamanho deles, mas que podem acomodar livros, estojos e cadernos. Cada uma tem estampado seu personagem preferido: Star Wars, animais do WWF, Violetta, Winx, Homem Aranha, princesas. Exibem as mochilas como troféus, e só por elas já vale a pena este momento. Ainda não sabem muito bem o que os espera.
Uma grande emoção está no ar. A primeira professora aparece com uma bandeirinha de uma tartaruga, fazendo a chamada dos alunos de sua classe. Um por um juntam-se a ela, debaixo de uma chuva de aplausos dos pais. Cada um recebe um colarzinho com o desenho de uma tartaruga e seu nome. Ao ver o primeiro filho ir para o grupo da tartaruga, me aperta o coração. Não consigo conter o choro. Uma avó me passa um lencinho para enxugar as lágrimas. Respiro fundo e sinto o coração batendo apressado. E lá vai ele, para um novo caminho.
Formam-se outras duas classes: a do ursinho e a da joaninha. Ainda estou com o outro filho comigo. Finalmente, é a vez da última classe, a da abelha. Ele fica todo alegre quando o chamam. Está exultante que em sua classe há dois amiguinhos do maternal. Despede-se de mim, com a mãozinha que acena ciao, e vai com os alunos; depois ainda volta para me dar mais um beijinho.
O pátio vai se esvaziando. Ainda estão alguns pais e uma criança que chora copiosamente e se recusa a ir à sala de aula, pois na sua classe não há nenhum amiguinho do maternal. A diretora tenta resolver a questão. Aos poucos, os últimos pais vão embora e a diretora resolve a questão do menino. Fico lá sozinha no pátio deserto, inerte, perdida entre meus pensamentos e sentimentos. Sou a última a ir embora. O sol está brilhando hoje, um dos últimos dias de verão deste lado do Equador. Em uma semana vai chegar o outono. Adeus, verão, adeus primeira infância. Que a próxima etapa seja acompanhada da mesma doçura.