Comunità Italiana

LAAD: Brasil inaugura nova era

Feira mostra tecnologia de ponta mundial no setor de defesa. 21 companhias mostraram potencial italiano. Destaque para a cooperação entre os dois países há mais de 20 anos

{mosimage}Em meio às discussões nacionais sobre o desarmamento – campanha que foi reacesa no Brasil após o ataque a uma escola no bairro carioca de Realengo que matou 12 crianças – a LAAD (Latin American Aero & Defence), a maior feira de defesa e segurança da América Latina, atraiu, ao Riocentro, no último mês de abril, 25 mil pessoas. Foram cinco mil visitantes a mais em relação à última edição, em 2009.

Durante a solenidade de abertura, no dia 12, tanto o presidente da República em exercício, Michel Temer, quanto o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, ressaltaram que a feira colabora com a cooperação entre os diversos países e, portanto, com a paz no mundo.

 

— Embora se trate de assuntos bélicos, colabora também para a paz porque faz a integração do setor público e privado. Na medida em que a defesa dos países, bem aparelhada, funciona como elemento dissuasório de qualquer conflito no mundo — defendeu Temer, que representou a presidente Dilma, em viagem à China. 

O ministro Jobim também deixou claro que promover negócios para a defesa não prejudica o combate ao crime:

— É uma solução que diz respeito à defesa, e não a agressões, a delitos, como foi o caso do atentado no Rio — declarou à imprensa.

Para o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, a LAAD estava sendo realizada em um “momento extraordinário para o Brasil”.

— Acordamos da letargia em relação à defesa e à segurança nacional, que geram riqueza e distribuição de renda. Certamente, muitos negócios serão feitos aqui. Os países desenvolvidos têm o que aprender conosco, e vice-versa, pois ninguém sabe tudo — afirmou durante a cerimônia de abertura.

Prestigiado pelos comandantes das Forças Armadas do Brasil e de diversas nações, o evento reuniu 663 expositores, entre empresas e delegações oficiais provenientes de 40 países. A Itália também aumentou sua presença. Se, em 2009, 12 companhias estiveram no Riocentro, este ano o país contou com estandes de 21 empresas italianas. Entre elas, Finmeccanica, Fincantieri, Telespazio, Agusta, Iveco, Selex Communications e Selex Galileo. O pavilhão italiano foi uma ação conjunta do Instituto Italiano para o Comércio Exterior (ICE); da Federação das Indústrias Italianas para os setores Aeroespacial, Defesa e Segurança (AIAD) e do Ministério italiano da Defesa.

Salto

Em palestra proferida na abertura do III Seminário de Defesa, o Ministro Nelson Jobim destacou a urgência de se recuperar o atraso tecnológico brasileiro no âmbito da segurança, decorrente do pouco investimento realizado nas últimas três décadas.

— É imprescindível dar um salto tecnológico, do chão ao teto. A tecnologia de ponta não alcança nada sozinha. Precisa estar associada à sabedoria política, incluindo pessoal bem treinado.

A necessidade de se fazer esse salto juntamente com os vizinhos da América do Sul para “romper o ciclo do atraso no continente” e a “grande discrepância entre o poder econômico e o de defesa do Brasil” foram destacadas por Jobim. Ele ainda afirmou que o fato de o país não ter inimigos “não significa que não iremos garantir a nossa segurança” e aproveitou para repelir qualquer projeto de internacionalizar a Amazônia, tese que classificou como “esdrúxula”.

Sobre a Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo Governo Lula em dezembro de 2008, Jobim afirmou representar o “ponto de partida” para as mudanças no setor, a qual privilegia três áreas: nuclear; espacial e cibernética. Diante do público presente, defendeu a criação de um plano plurianual para os gastos do setor dentro de “orçamentos minimamente estáveis”, pois “sem investimento, não há inovação, e sem inovação, não há investimento”.

Cooperação Brasil-Itália

Brasil e Itália mantêm estreitas relações no setor da defesa há mais de 20 anos. Uma das primeiras atividades foi o trabalho em conjunto entre os militares italianos e a Embraer, nos anos 1980, quando foi desenvolvido o velívolo MX, explicou o secretário-geral da Defesa italiano, o general Claudio Debertolis.

— A cooperação com o Brasil foi iniciada há muito. A relação entre as duas aeronáuticas também vem sendo reforçada. No Estado-Maior da aeronáutica italiana, há um escritório de representação militar do Brasil. E nós temos uma representação italiana no Estado-Maior brasileiro, desde o fim dos anos 80 — contou à Comunità Debertolis, que também é diretor nacional dos armamentos do Ministério italiano.

O acordo de cooperação da indústria de armamentos e defesa entre os dois países, ratificado em 15 de fevereiro de 2011 pelo parlamento italiano, prevê a possibilidade de aquisição de fragatas pela Marinha brasileira, afirma Debertolis.

— Existe um projeto de cooperação, pelo qual o governo brasileiro deve decidir se adquirir as fragatas projetadas na Itália, que seriam produzidas no Brasil. Trata-se de um dos projetos mais importantes que temos no momento — revela.

Enquanto no âmbito terrestre a empresa italiana Iveco, estabelecida em Minas Gerais, já tem atuado na projeção de veículos junto ao Exército brasileiro, para o setor aeronáutico, o general italiano acena com a possibilidade de cooperar com a Embraer.

— Para a aeronáutica, pensamos em uma futura cooperação com a Embraer, por meio de uma troca entre o Embraer KC390 e o nosso Aermacchi M-346 (da aeronáutica) — comenta.

O secretário italiano de Defesa vê com “facilidade” a cooperação com o Brasil.

— Quando venho ao Brasil, sinto-me em casa — comenta Debertolis, natural de Trieste e casado com uma carioca, com quem tem dois filhos.