Pela primeira vez, uma mulher ganha a premiação máxima na Bienal de Música de Veneza
Veteranos e nomes das novas gerações mostraram a vitalidade musical da atualidade durante a 57ª edição do Festival Internacional de Música Contemporânea, também conhecido como Bienal de Música de Veneza. O tema deste ano foi Altra voce, altro spazio (Outra voz, outro espaço), sob a direção do compositor Ivan Fedele.
A compositora russa Sofia Gubaidulina recebeu o Leão de Ouro pela sua carreira: ela tornou-se a primeira mulher a ganhar a honra máxima do evento. O prêmio para a artista foi recomendado pelo diretor Fedele e aprovado pelo Conselho de Administração da Bienal, presidido por Paolo Baratta. Os últimos vencedores foram Goffredo Petrassi (1994), Luciano Berio (1995), Friedrich Cerha (2006), Giacomo Manzoni (2007), Helmut Lachenmann (2008), György Kurtág (2009), Wolfgang Rihm (2010), Peter Eötvös (2011) e Pierre Boulez (2012).
Segundo Fedele, o Leão de Ouro atribuído a Sofia Gubaidulina reconhece o valor artístico e humano excepcional de uma artista que, por causa de suas escolhas estéticas não-conformistas, sempre teve que lutar contra o poder político da extinta União Soviética, que não hesitou em definir a sua música como “irresponsável”.
— Em 1979, Sofia estava na lista negra pelo VI Congresso dos Compositores da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas por causa de sua participação em um grupo de músicos dissidentes e em festivais condenados pelo regime. Apesar das enormes dificuldades, ela continuou se expressando com extrema coerência e liberdade, e ofereceu ao mundo da música sua inspiração, permeada por uma espiritualidade que é, ao mesmo tempo, delicada e incandescente, que lhe trouxe fama e admiração em todo o mundo — disse o diretor da Bienal, realizado entre 4 e 13 de outubro.
Sofia Gubajdulina, de 81 anos, tem participado do Festival desde os anos 1970, quando sua carreira internacional começou. A primeira peça a ser executada foi Rumore e silenzio para cravo e percussão (1977, da Bienal de dissidência); seguido pela estreia italiana de cinco estudos de harpa, contrabaixo e percussão (Festival Internacional de Música Contemporânea de 1979); Und: Das ist Fest em vollem Gang para violoncelo e orquestra (Festival Internacional de Música Contemporânea de 1995); e Fachwerk para Bayan, com corda orquestra e percussão, apresentado no último Festival, em 2012.
— É uma honra e um privilégio viver este momento em Veneza. Só tenho que dizer uma palavra: obrigada — disse Sofia ao receber o Leão de Ouro.
Leão de Prata fica em casa
A premiação concedida àqueles que incentivam a música, o Leão de Prata, ficou com a Fondazione Spinola Banna per l’Arte. Fundada em 2004, em Turim, por Marchesi Orsola e Gianluca Spinola, tem como objetivo promover as áreas de arte e de música contemporânea por meio de seminários, workshops e outras atividades.
Segundo o presidente da Bienal de Veneza, Paolo Baratta, um dos trabalhos da Fondazione Spinola Banna é particularmente inovador.
— O Progetto Musica, no qual a Fondazione atua, incentiva a criação de novas obras musicais, destaca os talentos de jovens compositores e dá visibilidade para as melhores experiências no campo da música contemporânea. É um trabalho admirável que merece ser reconhecido — elogia.
Cada concerto do Progetto Musica foi gravado e produzido em uma coleção de CDs, relançado ano após ano. A Fondazione Spinola Banna per l’Arte também está aberta a músicos para residências curtas, o que torna o Concert Hall disponível para gravação de CDs e contribui para a publicação de livros de interesse dos admiradores da música.
— Apoiamos a disseminação da nova música e colaboramos com os novos artistas, e é para eles que dedicamos este prêmio — disse Gianluca Spinola.
O Festival foi criado em 1930 e foi o primeiro a funcionar ao lado da Exposição de Arte Internacional, que caracterizou o nascimento da Bienal em 1895. Desde então, revela novas composições e promove estreias europeias e mundiais, e grandes orquestras e solistas, confirmando a vocação para ser um descobridor de novas tendências. A cada edição, tem evidenciado que seu objetivo é mostrar o panorama da música atual.