Lixo ameaça região de Nápoles
Os resíduos urbanos tratados pelo Centro de Tratamento (CDR) são compactados em lotes de plástico, que se acumulam uns sobre os outros à espera de serem queimados. Entretanto, "sua combustão é impossível, porque o CDR não é capaz de fazer uma seleção entre dejetos secos e úmidos", explica o toxicólogo do Instituto do Câncer de Nápoles, Antonio Marfella.
"Caso se decomponham, produzem um líquido tóxico que pode se infiltrar nos solos e no lençol freático", continuou. Em Campania, na região de Nápoles, existem cerca de 400 mil toneladas de sacos de lixo como os de Caivano, segundo números oficiais. "A única solução seria secá-los um por um e, depois, enterrá-los. O que levaria, pelo menos, dez anos", explica o comissário do governo encarregado dos resíduos em Campania, Guido Bertolaso.
Em uma região com cerca de 6 milhões de habitantes, onde a máfia local, a Camorra, transformou em negócio o tratamento clandestino de resíduos industriais desde os anos 80, as autoridades estimam em 500 mil toneladas a quantidade de lixo "descarregado em locais de despejo ilegais ou às escondidas", calcula Bertolaso.
A paisagem ao redor de Caivano está desfigurada devido aos despejos de lixo. Às vezes ocorrem queimadas que liberam fortes odores tóxicos. "Isto desprende dioxina, há amianto que queima. É uma verdadeira loucura", afirmou Marfella em visita ao local com um grupo de jornalistas.
A região foi apelidada em 2004 como "o triângulo da morte" pela revista científica The Lancet Oncology, porque os índices de mortalidade por câncer de fígado, laringe e leucemia são superiores aos do resto do país. Esse aumento poderia ser explicado pela contaminação da água e de frutas e verduras cultivadas por substâncias tóxicas.