Senadores assinaram documento pedindo alterações
Após a cisão provocada pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi no Partido Democrático (PD), outra legenda da base aliada do governo italiano enfrenta uma ameaça de levante: o populista Movimento 5 Estrelas (M5S).
Na terça-feira da semana passada (24), durante uma reunião para eleger o novo líder do M5S no Senado, 70 dos 107 membros do partido na Câmara Alta assinaram um documento que pede mudanças no estatuto dos grupos parlamentares do movimento, com o objetivo de criar um modelo de gestão mais compartilhada.
A medida coloca em xeque o líder do M5S, o ministro das Relações Exteriores Luigi Di Maio, justamente no momento em que ele está em Nova York para a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).
“Pedimos em voz alta uma intervenção de Beppe Grillo”, disse o senador Mario Giarrusso, em relação ao comediante que fundou o M5S, mas se afastou da vida partidária no fim de 2017, quando Di Maio foi eleito líder político do movimento.
De lá para cá, o atual chanceler guiou o partido à maior vitória de sua história, nas eleições de março de 2018, quando alcançou quase 33% dos votos, e se tornou vice-premier e ministro do Desenvolvimento Econômico no governo de aliança com a ultranacionalista Liga, de Matteo Salvini.
Não demorou muito, no entanto, para Di Maio ser eclipsado por Salvini, que ganhou popularidade com sua cruzada contra migrantes e refugiados. Enquanto isso, o M5S colecionava derrotas em eleições regionais, culminando na terceira colocação na votação para o Parlamento Europeu, em maio passado, atrás da Liga e até do PD, que havia sofrido a pior derrota de sua história apenas um ano antes.
Di Maio chegou a ter sua liderança submetida a um referendo online na plataforma Rousseau, a ferramenta de democracia direta do M5S, mas foi reconduzido ao cargo com 80% dos votos. O pleito, no entanto, não foi suficiente para aplacar a insatisfação contra a liderança de Di Maio dentro do movimento.
As negociações para a aliança com o PD contribuíram para desgastar o ministro. Di Maio se mostrava aberto a reconstruir a coalizão com Salvini, mas sua posição era minoritária nas bancadas do M5S no Parlamento. O embate forçou Grillo a intervir no partido, como não fazia desde 2017, ao convocar uma reunião com os expoentes do movimento e declarar encerrada a experiência com a Liga.
“Como ele vai passar grande parte do tempo fora da Itália [como ministro das Relações Exteriores], não poderá continuar administrando o movimento. Precisamos de uma reviravolta”, explicou o senador Emanuele Dessì, um dos signatários da petição.
Ele também tentou contemporizar, afirmando que o objetivo dos 70 senadores é “modificar o regulamento” da bancada, e não questionar a liderança de Di Maio. “Esse processo foi instrumentalizado para atacar o M5S e seu líder”, justificou.
O fato é que o chanceler está sob pressão para reorganizar a estrutura do partido e abrir mão de parte de seu poder. “Fui eleito líder político com 80% da preferência, não com 100%, e é justo que existam pessoas em desacordo. Algumas pessoas que eu poderia definir como amigas me ligaram para dizer que é um grande mal-entendido”, disse Di Maio, em Nova York.
Apesar da turbulência, o chanceler ainda conta com a confiança de Grillo e do consultor de tecnologia Davide Casaleggio, “donos” do partido. (ANSA)