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{mosimage}Após sete meses do terremoto que deixou milhares de desabrigados, Emília-Romanha mostra a sua capacidade de união e recuperação, mas ainda há muito trabalho pela frente

Na madrugada de 20 de maio de 2012, às 4 horas da manhã, um monstro com enormes mandíbulas destroçou o norte da Itália. Após nove dias, com apetite voraz, ele voltou a dilacerar a região da Emília-Romanha. O gigante se chama terremoto, é imprevisível e quando desperta causa só desolação. Os dois abalos sísmicos de magnitude 5,9 e 5,8 na escala Richter deixaram 27 mortos e 350 feridos, além de ter destruído centenas de escolas e milhares de casas, edifícios, indústrias, inclusive monumentos artísticos, culturais e religiosos. A vida de mais de meio milhão de pessoas mudou. Passaram-se sete meses e o primeiro balanço público mostra que ainda existem obstáculos, mas prova sobretudo que os emilianos são capazes de arrancar a força das entranhas de uma tragédia, arregaçar as mangas e partir para a reconstrução.
Depois de um semestre, ninguém mais vive nas tendas. As aulas nas escolas começaram regularmente. A emergência foi superada graças aos esforços de cidadãos, administradores públicos e voluntários. No entanto, ainda há muito a ser feito.
O sisma atingiu uma das áreas mais produtivas da Itália, concentradora de diversas empresas agrícolas, agroalimentares, artesanais e industriais. Um exemplo é o queijo parmigiano-reggiano, marca registrada da região e um dos símbolos do Made in Italy. O tremor danificou 633 mil formas, causando um prejuízo estimado em 150 milhões de euros. Para ajudar os produtores, ao invés de se limitar às contribuições com doações, o consórcio de produtores do queijo formou um comitê. Assim, criou-se uma corrente de solidariedade que incentiva o consumidor a comprar pedaços de parmesão.
Além do agroalimentar, um dos setores mais importantes é o biomédico, conhecido internacionalmente, com seis multinacionais. Para se ter uma ideia, o ramo biomédico da Emília-Romanha produziu em 2011 um valor agregado de 19,6 bilhões de euros e gerou 12,2 bilhões de euros em exportações. O terremoto destruiu milhares de empresas e os danos foram estimados em 2,7 bilhões.
— A situação foi terrível, mas não nos deixamos dominar pelo desespero. Não podíamos perder os pedidos comerciais, as encomendas. Tivemos que agir imediatamente. Imagine um setor como o biomédico que requer um controle minucioso dos aparelhos e a esterilização completa dos locais de produção. Tivemos que ativar rapidamente novas salas esterilizadas próximas e transferir o pessoal aos novos locais. Passada a fase de emergência, 90% das empresas estão ativas e o fornecimento não foi interrompido — explica Giuliana Gavioli, responsável pelo setor biomédico da Confindustria de Modena e diretora da B.Braun Avitum Italia, uma empresa atingida pelo abalo sísmico que recuperou sua atividade após poucas semanas.
Prevaleceu a vontade de reagir, afirma o presidente da Confindustria de Modena, Pietro Ferrari.
— Nós somos como uma cadeia de produção. Bastava que faltasse um anel desta corrente para que saltasse tudo — explica Ferrari.

Pesados danos aos símbolos de uma identidade cultural
Após os tremores, deu-se início à contagem dos danos e à fase de controle. A Emília-Romanha agiu com rapidez e eficiência. Foram verificados 40 mil edifícios, dos quais 24.564 habitações, 963 escolas, 2.075 edifícios de uso produtivo, 2.697 de uso comercial, 1.139 escritórios, 11.311 armazéns e 174 imóveis destinados ao uso turístico. Os controles mostraram que 41% dos edifícios são imediatamente acessíveis, 23% são temporariamente ou parcialmente inacessíveis e 6% estão inacessíveis por causa do risco que um elemento externo pudesse cair no edifício. Os danos são estimados em cerca de 3,3 bilhões de euros.
As pessoas que tiveram as casas destruídas, inacessíveis parcialmente ou totalmente, puderam contar com a contribuição financeira para um alojamento autônomo. Este incentivo financeiro beneficiou 40 mil pessoas.
Outra emergência enfrentada pela região setentrional foi a reabertura das escolas. Era importante que crianças e jovens não perdessem o ano escolar. Por isso, logo após a tragédia, foram erguidos edifícios pré-fabricados para aproximadamente 70 mil estudantes. O custo deste programa é estimado em 166 milhões de euros.
O patrimônio cultural e arquitetônico sofreu danos terríveis. Os terremotos feriram as construções antigas, como igrejas, castelos e palácios que simbolizam a identidade da população. Estima-se que os danos diretos cheguem a 2 bilhões de euros e digam respeito a 2.100 estruturas. A região atuou com um programa para as primeiras intervenções urgentes, no valor de 1 milhão de euros.
— É importante reconstruir o patrimônio cultural onde estava e como estava, mas isso requer tempo. No nosso plano de reconstrução é fundamental a preservação da identidade — ressalta o assessor responsável por atividade produtiva, plano energético, desenvolvimento sustentável, economia verde e construções da Emília-Romanha, Gian Carlo Muzzarelli.
No entanto, antes de reconstruir, é preciso remover os destroços, o que também tem um custo: 21,3 milhões de euros. Nos últimos seis meses, foram recolhidas 221 mil toneladas de detritos.
O governo guiado por Mario Monti entendeu que, ao ajudar a região, estaria contribuindo para o crescimento do país. No entanto, ela espera mais do governo e do parlamento. Quer, por exemplo, que o governo enfrente dois pontos que ainda não foram resolvidos. Um deles encontra-se no plano fiscal para aquelas empresas que registraram uma queda evidente nas entradas, não por causa da crise econômica e sim pelo terremoto. O outro é permitir o adiamento dos pagamentos de alguns impostos para trabalhadores e empresas atingidas. Não se trata de um privilégio, mas é impossível fazer de conta que nada aconteceu.
— Desde o primeiro dia nosso objetivo foi claro. Nós não voltaremos a ser como antes, pois seremos mais fortes com a reconstrução — disse o presidente da região Emília-Romanha, Vasco Errani. Segundo ele, esta grande tragédia pode representar uma ocasião para crescer com mais segurança em relação às construções anti-sísmicas, à proteção ambiental, à economia energética e aos investimentos em energias alternativas, pesquisa, qualidade do trabalho e respeito à legalidade.

Um prejuízo total de 12 bilhões sentido por 57 cidades
Os terremotos atingiram 57 cidades de quatro províncias da região — Bolonha, Ferrara, Modena e Reggio Emilia. Trata-se de 33 municípios que entram na chamada cratera, ou seja, a área mais abalada. São sete na província de Reggio Emilia, 14 na de Modena, cinco na de Bolonha e sete na província de Ferrara. A população envolvida chega a 550 mil habitantes.
O abalo sísmico afetou uma das áreas mais industrializadas do país, com grande atividade agrícola e alto índice de emprego, além de densamente populosa. Na área da “cratera” está 1,8% do PIB italiano.
Os danos do sisma no norte da Itália foram estimados em 13 bilhões e 273 milhões de euros. Na região da Emília-Romanha, a estimativa é de 12 bilhões e 202 milhões de euros: 676 milhões para medidas de emergência; 3 bilhões e 285 milhões de danos para as construções residenciais; 5 bilhões e 237 milhões de danos nas atividades produtivas;  e 2 bilhões e 75 milhões de danos aos bens históricos e culturais e aos edifícios religiosos. A quota restante está subdividida entre edifícios e serviços públicos e infraestrutura.