Com lágrimas nos olhos e voz rouca, Gildo Zegna emocionou-se ao apresentar a história da marca Ermenegildo Zegna, referência em vestuário e acessórios masculinos de luxo, fundada por seu avô em Trivero, no Piemonte. Diante de um público de 650 pessoas, o empresário mostrou os desafios e o papel do Brasil nos negócios da empresa que, com 104 anos de existência, fatura por ano mais de um bilhão de euros.
O aprendizado de gerações da família foi revelado durante a 10ª edição do Fórum HSM Family Business, Novas Estratégias para Perpetuação dos Negócios Familiares, em maio, na capital paulista. Fundado em 1910, o Ermenegildo Zegna Group conta com 543 lojas espalhadas em mais de cem países e é referência não somente em moda, mas também em gestão.
— A visão, o espírito pioneiro e a disciplina do meu avô, aliados ao forte valor familiar, foram responsáveis pelo fortalecimento da marca, que surgiu em uma vila e, posteriormente, ofereceu possibilidades de trabalho para milhares de pessoas — disse o executivo, vice-presidente da Câmara Nacional da Moda Italiana e formado em economia pela University of London.
O diferencial da grife começou com a busca por produtos qualificados, contou Zegna.
— Buscamos no mundo o melhor material. Importamos lã da Austrália, seda da China e materiais de países como Mongólia, África do Sul e Peru. Somos mais exclusivos e, por isso, temos alguns troféus, como o Vellus Aureum, criado pela artista americana Kiki Smith para premiar os esforços realizados para a obtenção das fibras de lã.
A internacionalização foi fundamental para a consolidação do grupo: a primeira loja no exterior foi inaugurada em Beijing, na China, em 1991. Seis anos depois, a grife chegou ao Brasil, com um estabelecimento em São Paulo. Atualmente, conta com lojas no Rio e em Curitiba, mas as peças continuam a ser produzidas na Europa, especialmente na Itália e na Suíça.
O executivo apresentou pesquisas da consultoria Bain & Company, que considera o Brasil um mercado emergente, com tendência à expansão no segmento de luxo. De acordo com os analistas, o faturamento do setor de luxo mundial deve crescer 50% mais rápido do que o PIB global, com uma expectativa de 6% na média anual até 2015, quebrando a barreira dos € 250 bilhões em vendas. Entre os artigos de luxo mais procurados no mundo, estão produtos sem logotipo e com materiais de alta qualidade, como vestuário, artigos de couro e acessórios.
Para Zegna, buscar presença em mercados em ascensão, como o Brasil, está entre as estratégias da marca. Segundo o CEO, outro aspecto importante para as vendas é a diversificação dos negócios.
— Atualmente, 53% do total das compras de luxo passa, de alguma forma, por canais online. São 7% delas diretamente online e 8% compras online, após a experimentação do produto nas lojas. Do total, 38% acontecem em uma loja, após as pessoas escolherem online — enumerou.
Ele ainda citou as parcerias com marcas famosas como a Maserati, partner na produção limitada de carros e barcos, com seda e design exclusivo da Zegna.
— O luxo está relacionado à experiência. Nós nos importamos mais com os consumidores do que com o mercado. Por conta disso, focamos na necessidade do cliente e variamos a distribuição por meio de licenciados, acessórios e franquias. Nos negócios, não podemos fazer nada sozinhos, precisamos de um bom grupo. Precisamos continuar focados e saber que a tecnologia faz parte dos negócios. Cada geração deve fazer uma contribuição, por isso, temos que evitar o individualismo — finalizou.
Responsabilidade socioambiental
Desde 2000, a Fundação Zegna auxilia famílias carentes com projetos de pesquisas sobre energias sustentáveis e bolsas de estudo para jovens talentos estudarem fora do país e voltarem à Itália com contribuição científica. Em 2012, o grupo lançou o ZegnArt, com foco na colaboração internacional no campo das artes visuais. Em primeira mão, o CEO anunciou que os Zegna apresentarão uma ação cultural na Bienal de São Paulo deste ano (de 22 a 31 de agosto), com instalações artísticas e intercâmbios entre profissionais.