Depois de dois anos de obras de restauração, a velha residência de caça dos Savoia é reaberta ao público, que pode conferir todo o esplendor dos tempos áureos da monarquia italiana
A Villa Reale reabre as portas depois de dois anos de reformas e incontáveis outros de abandono institucional. No centro de Monza, na Lombardia, dentro do maior parque urbano da Europa, a velha residência de caça dos Savoia retoma o esplendor dos tempos de ouro da monarquia italiana. A ala principal do complexo, composta por 40 ambientes diferentes entre si, foi inteiramente passada a limpo. Isso representa o trabalho de restauração de dez mil metros quadrados internos — paredes, pisos e tetos — a instalação de 2 mil metros quadrados de parque, além de 1.200 metros de cobertura para os serviços de eletricidade. Foram dois anos de reconstrução, com uma média de 90 operários presentes, todos os dias. Os números são tão superlativos quanto o objetivo do projeto: reviver e revitalizar a Villa Reale. O custo total chega a 24 milhões de euros, dos quais 19 foram financiados pela Região da Lombardia. O restante foi colocado pela iniciativa privada, não sem a polêmica pela concessão da gestão, por 20 anos, à empresa Italiana Costruzioni, responsável por toda a obra de reforma.
A restauração era uma aposta e uma corrida contra o tempo. Em plena crise econômica, o plano era criar parcerias entre o público e o privado. Com pouca liquidez no mercado e investimentos congelados à espera de melhores tempos, existia a urgência cívica de interromper o degrado instalado na Villa Reale e, principalmente, de devolver aos italianos e aos futuros visitantes de todo o mundo uma das joias mais valiosas do patrimônio artístico e arquitetônico do país, escolhido como sede institucional para os encontros oficiais dos altos representantes das autoridades dos países que estarão com pavilhões na Expo 2015, de Milão. O local vai ser a sede do Fórum da Cultura da Unesco, em função dos debates durante a Expo. Tudo muito mais importante e concreto do que iniciativas passadas, como quando o partido da Lega exigiu e conseguiu que algumas salas vazias e abandonadas da Villa Reale “funcionassem” com sede destacada do Ministério da Economia, durante a época de Tremonti. Elas nunca foram abertas ou usadas.
Palácio será sede de eventos durante a Expo 2015
No lugar de políticos acostumados às leis do “coronelismo”, a Villa Reale vai ter um corpo administrativo em sintonia com a comissão científica, composta por nomes de peso da cultura italiana, como Gianfranco Dioguardi, Philippe Daverio e Maria Antonietta Crippa. Eles já estão organizando três grandes eventos que serão realizados durante a Expo, cujos temas ainda não podem ser revelados. Outros planos já foram divulgados, como um restaurante do chef Andrea Breton no andar semienterrado. O Belvedere, totalmente reformado, irá abrigar um braço da Triennale de Milão, na realização de um Museu Permanente do Design. Os visitantes poderão passear nos aposentos reais do primeiro andar, como os apartamentos do rei e da rainha, e a biblioteca. Outros ambientes vão ser destinados a eventos, principal fonte de recursos do complexo. A Câmara de Comércio de Monza Brianza estima que o retorno da Villa Reale à ribalta cultural possa render algo como 42 milhões de euros por ano, com o turismo, as compras, a gastronomia, o transporte e os eventos. O valor pode subir para 130 milhões, levando-se em conta o “giro” de negócios envolvendo o restante do parque e o vizinho autódromo.
A devolução ao público coincide com a reabertura do circuito de museus da cidade, menor, porém não menos importante, que inclui o Duomo, o Cívico, a Cappela e o Arengario. Monza oferece uma miríade de possibilidades para investimentos futuros em requalificação de antigas fábricas e matadouros do centro histórico ou na imedita vizinhança. Como defende o arquiteto e senador vitalício Renzo Piano, é tempo de costurar a periferia, novamente, com a cidade. A reforma da Villa Reale deve ser o ponto de partida de uma nova mentalidade empresarial urbana, capaz de produzir riqueza com o culto da beleza e do trabalho, em nome de uma cultura maior. A Itália é um poço sem fundo de belas embalagens, mas que precisam ir ao encontro da modernidade. Não basta ser atraente apenas aos nossos olhos e sim também aos olhos dos outros também, em profundidade.