Na década de 1930, houve uma intensa imigração de craques do Brasil para Itália. Alguns, como Benedito Meneses, jamais tiveram um italiano sequer na árvore genealógica
O que o futebol tem a ver com registros falsos de cidadania italiana? Senão tudo, muito com certeza. A indústria da cidadania italiana é um antigo vício do esporte. No final dos anos de 1930, o Brasil vivia o dilema entre o amadorismo e profissionalismo no futebol. Os vizinhos uruguaios e argentinos já haviam optado pelos contratos e salários aos jogadores. O comodismos da maioria dos grandes dos clubes brasileiros da época indignava a imprensa e os jogadores. Da Itália, emergia um verdadeiro Eldorado. Migraram para lá vários craques da época, todos oriundi. Do Palestra Itália, hoje Palmeiras, foram Amílcar Barbuy, Serafini e Ministrinho, que se tornaria um dos maiores jogadores da história da Juventus. Do Corinthians, foram Del Debbio, Filó e De Maria. Do Palestra mineiro, hoje Cruzeiro, seguiram os irmãos Ninão, Niginho e Nininho. Filó e Nininho se tornaram ídolos da Squadra Azzurra, sendo que o primeiro foi campeão da Copa do Mundo de 1934. Todos eles verdadeiramente descendentes de italianos, mas havia uma leva que de italiano nada tinha na árvore genealógica. Sob a ditadura de Benito Mussolini, fanático torcedor da Lazio, o governo fazia vista grossa.
No Rio de Janeiro, ao contrário de São Paulo, não havia tanto oriundi assim. Ora, e quem disse que isso era empecilho? Inventava-se, então. Demósthenes Magalhães, zagueiro central do Fluminense, por sedução de outro brasileiro, Fernando Giudicelli, ex-craque do mesmo Fluminense e da seleção brasileira na Copa de 30, deixava de ser “Magalhães” para se transformar em “Bertini”. O pobre Demósthenes, morador da Ilha do Governador, saído do modestíssimo Jequiá para o tricolor das Laranjeiras, era, agora, um “oriundi”.
Ora, o que importa a genealogia? Para ela também se lixou o polivalente craque Benedito Menezes, um gaúcho que chegou ao Rio para estudar. Jogar bola, nem pensar. Recomendação expressa do severo pai bajeense. O rapaz amadureceu no Rio, encantou a lenda Carlito Rocha, ex-cartola do Botafogo, e se transformou em ídolo do alvinegro carioca. Casou. Mas foi aí o começo da insólita história de Benedito, segundo as linhas do jornalista Mario Filho: “Benedito de Oliveira Menezes seria Benedito Zacconi, adotando o nome do sogro. O sogro, o Zacconi, virou pai do genro. A mulher, irmã dele”. E a torcida do Torino, novo clube do Benedito, pouco se importava.
Valia tudo para mudar de pátria e ganhar liras e mais liras. Para uns, deu certo. Outros, porém, não tiveram destino feliz em solo italiano, que desde aquela longínqua década acolhe vários jogadores brasileiros. Uns oriundi, de fato. Outros, no entanto…