Comunità Italiana

Metalurgia no DNA

A história da família Dellaretti em Minas Gerais confirma a excelência metalúrgia que vem da Itália: agregar valor às peças produzidas é a alma do negócio da empresa

São muitas as famílias de origem italiana que podem contar uma história de sucesso familiar e empresarial. Comunità conversou com Kemel Rachid Dellaretti e Antônio Dellaretti Neto, respetivamente, diretor geral e diretor da Fulig, uma empresa de fundição implantada no Centro Industrial Coronel Jovelino Rabelo, em Divinópolis (MG).
Kemel começa nos contando como o avô Antonio Dellarett veio da Itália com o pai Leonardo, na época da guerra.
— Ele trabalhou com meu bisavô, que tinha formação voltada para a metalurgia — revela.
Em 1929, Antonio Dellarett foi para Divinópolis, onde começou a trabalhar, casou e teve três filhos. Após o falecimento de sua primeira esposa, ele casou-se com a irmã dela e tiveram mais 11 filhos, entre eles, Antônio Dellarett Filho, pai de Kemel.
— O meu avô era uma coisa fora do comum para trabalhar e isto puxou toda a família — resume Kemel.
Alguns dos 14 filhos estudaram no Colégio Caraça. Parte foi trabalhar na Marinha, outros se tornaram fiscais de estado, enquanto o pai e dois tios de Kemel, continuando as tradições da família, foram para a área de metalurgia. Um era um bom torneiro e outro um excelente mecânico. Ambos trabalharam na Fulig desde a fundação pelo pai de Kemel, em 1974.
— Meu pai foi contador, advogado e fez curso de sociologia, mas era um metalúrgico nato. Ele gostava de metalurgia, lia muito, aprimorava sua capacidade e, em 1974, saiu da empresa siderúrgica onde trabalhava como diretor. Resolveu montar seu próprio negócio e começou a trabalhar com produtos da área de saneamento. No ano seguinte, montou um laboratório para buscar a qualificação dos produtos que ele produzia — conta o oriundo.

Fabricar produtos de desempenho diferenciado é a meta
A Fulig tem uma área de 42 mil metros quadrados, sendo 25 mil de área construída. Possui forno elétrico com peça para tratamento térmico, usinagem, montagem, área de projetos e laboratórios de controle de qualidade interna. Agora, está buscando a internacionalização, a começar pela própria Itália. Porém, para Kemel, a fundição com a melhor metodologia possível continua sendo a alma do negócio:
— Trata-se de pegar um produto em ferro ou em aço, adquirir ou adicionar ligas metálicas, e transformar aquele produto em um produto de desempenho diferenciado.
Como exemplo desta busca de qualidade, Kemel cita os discos de freio produzidos pela Fulig, que rodam um milhão de quilômetros, enquanto aqueles da concorrência trabalham de 360 a 400 mil quilômetros. Antônio Dellaretti entra nos detalhes e explica que a Fulig é uma fábrica integrada, onde a elaboração do projeto parte do processo de simulação, realizado por simuladores específicos para a área de fundição, o que constitui uma inovação. Hoje, na América Latina, só existem cerca de cem usuários deste sistema. O software exige considerável investimento, mas permite elaborar projetos e obter resultados nos produtos e nos processos de forma alavancada.
Juntamente com a elaboração de projetos existe uma área de modelagem onde são construídos os ferramentais, o processo de fundição e toda a estrutura do processo fabril, a usinagem, o tratamento térmico e os laboratórios de ensaios e testes.
— Hoje, nós consideramos que o processo é integrado do início até o fim. A inovação nós conseguimos ver com relevância tanto na area de fundição quanto na área de elaboração de ligas. Temos vários produtos com desempenho realmente bem superior ao do mercado, muito em função do desenvolvimento que começou lá atrás com o fundador da empresa — explica Antônio.

Investir em formação interna e demitir o mínimo possível
Os processos fabris na empresa continuam sendo atualizados e, por trás desta gestão, existia também uma busca da profissionalização. A empresa participa do PAEX, com a Fundação Dom Cabral, um programa voltado para gestão da empresa e a melhoria dos controles direcionais e de gestão. Outro ponto importante da gestão é o treinamento: no interior da empresa, são organizados cursos e minicursos com o objetivo de melhor o conhecimento dos colaboradores.
— Depois que fomos surpreendidos pelo repentino falecimento de meu pai (ele um dia almoçou conosco em casa e faleceu naquela tarde na fábrica), começamos, há 12 anos, um trabalho muito forte na questão da gestão e da profissionalização da Fulig. Nós não queremos que aconteça de novo o que aconteceu no passado e já estamos preparando uma próxima geração, que não é mais familiar, para gerir a fábrica daqui aos próximos 40 anos se for o caso — revela Kemel.

Necessidade de internacionalizar para não sofrer tanto com a crise do mercado brasileiro
Com a participação na Câmera Ítalo-Brasileira de Comércio, a diretoria da Fulig sentiu a necessidade de buscar a internacionalização para não sofrer com os altos e baixos da economia do país e conseguir preços bem competitivos e volumes mais expressivos de produção. Hoje, a fábrica tem uma capacidade produtiva da ordem de 250 toneladas por mês. Quase 95% das peças são usinadas. É uma política da Fulig a de não vender apenas peças brutas, e sim agregar a elas algum valor. A empresa tem capacidade de fazer dispositivos e equipamentos para montar junto ao cliente, ou seja, oferece uma gestão única: fundição, tratamento, usinagem, montagem, entrega e a garantia tudo dentro de uma empresa só.
A companhia tem 140 funcionários, que evita demitir:
— A gente investe muito na qualificação e treinamento. Simplesmente dispensar é mais caro de que tentar manter os funcionários. E porque eles já conhecem todo o processo de trabalho da empresa. Temos uma gestão muito bem controlada. Passamos por dificuldades, mas não temos pendências, débitos ou financiamentos.
Os clientes da Fulig estão em todo o Brasil: São Paulo, Minas, Rio, Espírito Santo, Bahia, Pará e nos estados do Sul do país. No setor metroviário, é fornecedora de todas as companhias operadoras de metrô no Brasil. Além disso, fornece a GE, Alstom, Siemens e Vallourec, e está tentando desenvolver agora a linha de fundidos para a CNH e a americana AESCO.
A produção é bastante diversificada, desde produtos simples a peças usadas em sistemas de freio, de metrô ou de aerogeradores eólicos. Em 2003, o estabelecimento recebeu o pedido do Exército Brasileiro para produzir carcaças de morteiro fundidas, quando no mundo inteiro eram todas forjadas. Depois de quatro anos de desenvolvimentos e pesquisa, foram homologadas quatro carcaças de morteiros para o Exército. Assim, a Fulig se tornou fornecedora exclusiva destas peças.
Kemel conta que, hoje, a presidente da empresa é a mãe dele, Neile Rachid Villaretti.
— Ela é pedagoga, mas quando meu pai faleceu, em 1994, o baque foi muito grande. Então, nós trazemos nossa mãe para dentro da empresa — conta ele, que está na empresa desde 1987, enquanto Antônio está desde 1992, e Breno, um irmão metalúrgico com pós-graduação, trabalha na Fulig desde 1998. Um quarto irmão, o caçula, é médico cirurgião e“não quis saber de metalurgia.”
A crise é momento de dificuldade, mas também de oportunidade: no ano passado, a Fulig contatou 12 clientes de áreas diversas e com boas possibilidades de fechar negócios.
— Já fomos homologados pelo menos pela metade destes clientes. Existe uma perspetiva boa para o ano de 2017 e nós estamos nos capacitando para buscar estas oportunidades. É crise para um e oportunidade para outro. Eu sei que, na crise, você cresce quando tem boa vontade e determinação. Nós crescemos muito nas crises pelas quais já passamos anteriormente e vamos crescer nesta também — conclui.