Durante o Salão do Móvel deste ano, a capital lombarda confirmou sua boa fase econômica com hotéis e apartamentos cheios de inquilinos de passagem, entre profissionais e industriais de 165 países
Milão lança as tendências da mobília do amanhã por todas as esquinas e pátios internos. O Salão Internacional do Móvel invadiu todos os quarteirões e contagiou de entusiasmo os moradores. Nas calçadas, nas lojas, nas praças, o design é de casa. E como não podia deixar ser diferente, o mundo inteiro dos desenhistas industriais, criativos e arquitetos invadiram a metrópole, que é a locomotiva italiana. Parece que ninguém segura mais Milão, depois do sucesso da Expo 2015. Hotéis lotados, prédios com apartamentos cheios de inquilinos de passagem ou fixos, uma economia que dá sinais de vitalidade. O Salão do Móvel, mais do que a feira internacional de design, transforma-se em um vetor fundamental e “termômetro” do país. Para dar ideia do quanto este evento conta, basta dizer que foi inaugurado pelo presidente da Itália, Sergio Matarella.
— Aqui assistimos a um evento não apenas de exposição, mas também de cultura empresarial, símbolo de um método de trabalho conjunto e de um modo de interpretar a manufatura moderna — disse ele.
Nesta edição, realizada entre 4 e 9 de abril, ao contrário do ano passado, deram as luzes, literalmente, os participantes da Euroluce, que alterna com a Eurocucina uma mostra bienal. E, mais uma vez, apesar da crise que assola o estado do Rio de Janeiro, a mostra carioca Rio + Design esteve presente e fez “sistema” com a exposição Be Brasil — sinais dos tempos, ambas nos corredores históricos da Università degli Studi di Milano, no centro da cidade, o que garantiu uma visibilidade internacional sem fronteiras.
Ao final, o Salão do Móvel é a vitrine de um setor da economia italiana que não conhece crise, um cartão de visitas da criatividade de seus designers, mas também e principalmente do casamento perfeito entre o artesanato e a indústria, entre a beleza e a funcionalidade e a produção em série, entre a tradição e a tecnologia de ponta. A decoração italiana movimentou sozinha, 8,8 bilhões de euros em exportação no ano passado, ou seja, 1,2% a mais do que em 2015, registrando aumentos de 21,9% para a China e de 8,8% para os Estados Unidos. Somente no setor das lâmpadas e luminárias, a Itália vendeu 1,64 bilhões de euros, sendo 37% para os Emirados Árabes e 10% para a Suíça, números surpreendentes que fizeram a alegria de empresas de ponta como a Artemide, a Flos, a Foscarini e outras excelências do made in Italy.
— Este é um momento único no qual a cultura e o sistema industrial tornam-se pontos de referência internacional e modelo virtuoso de uma Itália que funciona — afirmou Claudio Luti, presidente do Salão e também da empresa Kartell.
Eis a razão da presença de dois mil expositores, sendo 34% do exterior e 343.602 visitantes de 165 países durante os seis dias do Salão. Entre eles, tantos brasileiros em caravanas e comitivas, compostas por arquitetos, decoradores, lojistas, industriais, empresários e, é claro, designers. Neste ano, assistiu-se a um ambiente caseiro que, com a tecnologia, conseguiu interagir com o morador.
Cômodos que mudam de cor
Quartos e salas mudam de cor através de programas pré-estabelecidos ou em função da luminosidade natural e até do estado de espírito de quem estiver no local. A iluminação do tipo dimmer ganha todos os cômodos e guarda na memória a intensidade e as cores programadas com antecipação.
Por isso, não importa como ou onde. O importante era marcar presença. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) organizou o evento que contou com o apoio do Sebrae-RJ.
— O Brasil tem uma qualidade, uma variedade. O design é arte e funcionalidade, mas também é processo industrial. Temos que valorizar o design brasileiro e não podemos ficar de fora. A presença aqui inclusive serve para facilitar a entrada de nossos outros produtos no exterior — disse à Comunità o presidente da Apex, o embaixador Roberto Jaguaribe Gomes de Mattos, enquanto visitava a mostra Be Brasil.
Quatorze peças representaram a criatividade brazuca
Para a edição deste ano, pela nona vez consecutiva, a mostra carioca trouxe 14 peças de designers consagrados que refletem a potencialidade deste setor que não conhece fronteiras geográficas e criativas. Um deles é o curioso banco Ratoeira, projeto da Em2Design, vencedor do prêmio IF Design Award 2017. E o que dizer da mesa de centro Dada, de Gisela Simas, da Original Practical Design (OPD)? Brasileira radicada em Londres e com produção em Portugal e em Petrópolis (RJ), no caso a Elon Móveis Design, ela explica à Comunità:
— A minha paixão pela madeira se uniu àquela pelo design da Escandinávia e pelos anos 1950. Ambientes muito iluminados, muito alegres, com cores sóbrias, desenho puro e muito leve com a minha tradição de criar móveis utilitários que as pessoas possam usar e tocar. Tenho esta colaboração muito bacana com a Elon e, agora, com as luminárias, estamos abrindo trabalhos com quatro fábricas em Portugal.
Ao lado, sob as arcadas seculares da Università degli Studi, está a Freeze, um simpático abajur em titânio e banhado a ouro, do designer Ricardo Saint Clair, da Dialogo Design, doutorando em Milão. Ele está produzindo a lâmpada em Londres.
— A minha ideia foi a de congelar a escultura, como o nome diz. Ela perde uma função já que se torna sem movimento, mas ganha a beleza da presença no espaço. Esta é uma versão única, porém, no futuro, a pessoa vai poder realizá-la na impressora 3D dentro de casa, por exemplo. Basta comprar o programa de software. O legal é que ela permite uma modelagem orgânica e assimétrica que vai sendo construída camada por camada — afirma Ricardo Saint-Clair, revelando a profecia do amanhã, na vanguarda de uma tendência vista na Euroluce, com luminárias em painel flexível OLED e criadas através destas impressoras “mágicas”.