A decisão pela saída ocorreu ontem (13), quando o ministro da Saúde, Ricardo Barros, veio à cidade cumprir agenda oficial. Apesar da visita, o coletivo nega que a vinda do ministro foi fundamental para a decisão. Segundo uma das integrantes da ocupação, Polyana Loureiro, um grupo de pessoas que estava na sede do Ministério da Saúde chegou a ir em um dos eventos onde estava o ministro para protestar contra ele e contra o governo federal interino.
Ela conta que a desocupação deu-se em um momento estratégico, a partir do qual as pautas serão levadas para as ruas. Além disso, em assembleia, foi criado o Comitê de Defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). É para pautar ações relacionadas à saúde.
“Estar lá, no local, é um processo cansativo e estressante. Portanto, nós avaliamos em assembleia que, no decorrer desses 15 dias, acumulamos um processo formativo e criamos uma rede de contatos aqui de Salvador, tanto de trabalhadores quanto de organizações que constroem a luta pelo SUS e em defesa da democracia. Percebemos que a ocupação estava como água parada, que precisava correr, já que não estávamos conseguindo a visibilidade que era necessária para as nossas pautas, apesar de haver outras ocupações em outras cidades”, explica Polyana, que também é integrante do Levante Popular da Juventude.
Argumentos
A carta aberta, divulgada hoje, detalha os motivos pelos quais o grupo decidiu ocupar o Ministério da Saúde em Salvador e desocupar. Relata as principais reivindicações e detalha o que foi deliberado. No texto, além da defesa do SUS, estão, também, críticas ao presidente interino Michel Temer.
“A #OcupaSUS-BA, além de denunciar o golpe e suas implicações e ameaças ao SUS, cumpriu importante papel na articulação de diferentes setores na luta pela democratização da saúde. Cidadãos sensíveis às causas democráticas e sociais, organizados ou não em movimentos sociais e partidos políticos, tiveram a oportunidade de se encontrar e se integrar, em sua diversidade, a uma luta unitária repleta de aprendizagem, solidariedade e ânimo para a luta. Foram movimentos de trabalhadores de saúde, estudantes universitários e secundaristas, juventude, professores, moradores de rua, sindicatos, conselheiros de saúde distritais, municipais e estadual, movimentos de mulheres, LGBT, anti-racista, anti-proibicionista, anti-manicomial, da cultura, da educação, parlamentares de partidos de esquerda”, diz um trecho da carta, publicada numa rede social.
“Foi formado o comitê das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo para pautar algumas ações. Nós já temos uma agenda e, na próxima sexta-feira, teremos a primeira reunião pós-ocupação. E a gente está pensando em ações como ir aos bairros de Salvador, fazer atividades ligadas à saúde da família, para levarmos o debate relacionado ao SUS e ao momento em que vivemos, o do golpe”, completa a militante Polyana Loureiro, referindo-se ao impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff, processo contra o qual o grupo também se posiciona.
Desafio
A decisão de sair do espaço interno do edifício [do Ministério da Saúde] e ir às ruas também consta da carta aberta do coletivo. Segundo o texto, os militantes estão prontos para “encarar o desafio.”
“A organização incubada nesses 15 dias na ocupação no MS (Ministério da Saúde) na Bahia está pronta para se lançar no desafio de ocupar as ruas, as instituições e as casas de toda a cidade de Salvador, interiorizar a luta e, com o debate fraterno e honesto dos rumos do nosso País e da saúde, animar a cidadania na construção de uma sociedade e um Estado cada vez mais democrático!”, finaliza a carta.
Um dos principais pontos criticados pelos ex-ocupantes é a dificuldade de investimento no SUS, levantada pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros. (Agência Brasil)