Nas entranhas de Roma

O local onde foi encarcerado Pedro foi reaberto ao público depois de um longo período de escavações que revelaram detalhes sobre a prisão do apóstolo
O espaço subterrâneo é úmido e apertado, escuro, sem janelas ou banheiro. Ali eram aprisionados os ilustres estrangeiros, intelectuais e revolucionários considerados inimigos por discordarem do Império Romano. Entre eles, Pedro, apóstolo de Jesus e o primeiro papa da história. Nas ruínas do Fórum Romano, o Cárcere Mamertino, também chamado Carcer Tullianum ou Prisão de São Pedro, é a prisão mais antiga de Roma, construída há quase três mil anos, sobre a qual foram erguidas as igrejas São José dos Carpinteiros e São Pedro em Cárcere.
Com as escavações realizadas pela Superintendência Especial para os Bens Arqueológicos de Roma e promovidas pela Opera Romana Peregrinações, os arqueólogos traçaram as etapas históricas do local. O primeiro assentamento data de três milênios atrás, quando os antigos construíram um muro redondo de pedras como lugar de culto em torno de uma fonte de água. Esta estrutura subterrânea em tufo permanece intacta no segundo nível abaixo do solo, que, mais tarde, na época Republicana (600 a.C. ), se transformou em prisão. O único acesso ao subsolo no qual ficavam os prisioneiros era um buraco no chão, no qual eles eram brutalmente empurrados por seus algozes. Aqueles que sobreviviam eram conduzidos à praça pública para que a pena de morte fosse executada.
— Naquela época, as prisões não eram um lugar de reabilitação do detido, como é o conceito atual de reclusão. Os prisioneiros não podiam escapar dali e só saiam para serem executados — explica Francesco Prosperetti, superintendente para a área arqueológica central de Roma.
O lugar representa uma passagem simbólica da realidade subterrânea à superfície terrestre por meio da água. Segundo a tradição cristã, Pedro, quando esteve preso no local (cerca de 60 d.C., durante o reinado de Nero), converteu os dois carcereiros Martiniano e Processo — posteriormente mártires — e outros prisioneiros. Sem água para batizá-los, fez brotar a fonte do chão. O milagre foi que, com a água, surgiu um anjo, que libertou Pedro. As correntes que o prendiam são hoje veneradas como relíquias na igreja San Pietro ai Vincoli.
— Existe um texto no Evangelho sobre o martírio dos dois carcereiros de Pedro, que, posteriormente, também se tornaram santos. Este lugar é descrito com clareza. Além disso, os afrescos de outras épocas e os sinais arqueológicos falam da presença de Pedro aqui. Portanto, é uma questão de fé, mas a tradição não desmente a si mesma — diz o monsenhor Liberio Andreatta, vice-presidente da Opera Romana Peregrinações, à Comunità.
Muitos acreditam que o apóstolo Paulo tenha sido preso junto com Pedro no mesmo local. Mas Andreatta descarta esta possibilidade:
— Na tradição cristã, Pedro e Paulo eram unidos. Mas Paulo não ficou detido aqui, porque ele era um civis romanus, e os cidadãos romanos não eram aprisionados neste cárcere reservado só aos estrangeiros. Portanto, Pedro esteve aqui, mas Paulo certamente não.
Segundo os arqueólogos, o lugar foi cultuado pelos cristãos desde a Idade Média.
— Há afrescos de Jesus colocando a mão no ombro de Pedro para tranquilizá-lo. Mas, acima de tudo, descobriu-se algo extraordinário: Nossa Senhora da Misericórdia, que remonta entre os séculos XII e XIII, a única conservada em Roma — revela Andreatta.
Hoje existem quatro camadas. Na parte superior está a igreja de São José dos Carpinteiros, de 1600. Logo abaixo, está o Santuário do Crucifixo, sob o qual, na igreja de São Pedro em Cárcere, estão os afrescos e o buraco no qual eram empurrados os detidos. Por último, descendendo por uma escada, é possível ver o lugar onde os prisioneiros eram mantidos e onde ficava a antiga fonte de água.
Durante a visita, o público pode ver a reconstrução dos afrescos em um tablet. No museu ao lado, há peças arqueológicas e esqueletos encontrados nas escavações.
Para saber mais
www.operaromanapellegrinaggi.org/it/roma-cristiana/
carcer-tullianum