{mosimage}Ministro Terzi entrega o cargo após o retorno dos marinheiros da Índia e o ex-embaixador no Brasil, Michele Valensise, recebe Monti, que assumiu interinamente a Farnesina
A Itália já vive um dos momentos mais delicados da história da Itália, com uma ameaçadora especulação financeira e as principais forças políticas empenhadas na árdua tentativa de dar vida a um novo governo. Em meio a esse cenário, explodiu a bomba Terzi. No final de março, o ministro italiano do Exterior entregou o cargo, após “escorregar” no caso de dois militares italianos detidos na Índia sob acusação de homicídio. Ambos retornaram provisoriamente à Itália com a permissão do governo indiano. Inicialmente iludidos a ficarem na terra natal, foram obrigados a voltar para Nova Déli.
— Coloquei sérias reservas em relação à decisão de transferir para a Índia os dois fuzileiros. Demito-me em solidariedade aos nossos dois militares e suas famílias — disse o agora ex-ministro Giulio Terzi, em pronunciamento na Câmara.
A decisão de Terzi suscitou uma fria reação no palácio Quirinale, sede da presidência da República, e um desapontamento da parte do presidente do Conselho de Ministros, Mario Monti, que declarou não acreditar na motivação alegada, e que o objetivo de Terzi seria “aquele menos evidente de conseguir outros resultados que, talvez, nos próximos tempos, irão se tornar mais evidentes”. O caso teve início em meados de fevereiro de 2012, quando os marò — como são chamados na Itália os marinheiros — Massimiliano Latorre e Salvatore Girone, dois fuzileiros em serviço em uma petrolífera italiana, abriram fogo contra um barco pesqueiro que levava a bordo 11 tripulantes, provocando a morte de dois homens. Os dois oficiais da Marinha de Guerra alegaram ter pensado que se tratasse de um ataque de piratas. Mesmo não ficando claro se o acontecimento tinha ocorrido em águas internacionais, ambos foram presos e detidos na Embaixada italiana para aguardar o processo. Após alguns meses, as autoridades indianas concederam duas licenças a Latorre e Girone: durante o Natal e, depois, para as eleições parlamentares de 24 e 25 de fevereiro. Em 11 de março, no entanto, Terzi avisou ao ministro indiano que não estava inclinado a respeitar os acordos e queria manter os fuzileiros na Itália. A reação não se fez esperar: da capital da Índia, foi emitida uma ordem de prisão contra o embaixador. Ao mesmo tempo, cresceu a indignação da opinião pública local e aumentaram as pressões para que os militares retornassem ao país asiático. Em 21 de março, foi anunciado que Latorre e Girone estavam viajando rumo a Nova Déli.
— A decisão de não enviar para a Índia os dois fuzileiros não deveria ter sido objeto de precipitadas declarações na imprensa, que o ministro Terzi resolveu, no entanto, pronunciar, antecipando um resultado final que não poderia ainda dar-se como certo. Fiquei estupefato com o que o ministro fez e com o que não fez. Não informou ninguém e não se opôs, mesmo podendo antecipar as próprias decisões — citou Monti, que desmentiu enfaticamente os rumores de que o êxito da negociação teria sido condicionado por ameaças de sanções econômicas. Segundo essa ótica, a Índia estaria em uma posição privilegiada: no país, estão em jogo as encomendas da Finmeccanica e os interesses de 400 empresas italianas, totalizando um volume de negócios de cerca de 8 milhões de euros.
Mario Monti se encarregou pessoalmente da responsabilidade e mostrou um otimismo cauteloso. Afirmou que o governo iniciou um diálogo com a Índia e “um percurso que nos induz a acreditar em uma solução rápida e positiva para o caso”.
Após a demissão de Terzi, o premier assumiu interinamente o Ministério do Exterior, tomando posse na Farnesina na manhã de 27 de março. Foi recebido pelo secretário geral do Ministério, Michele Valensise, embaixador no Brasil de 2004 a 2009. Monti estabeleceu um longo diálogo com Valensise, acompanhado de seu conselheiro diplomático Pasquale Terracciano, que assumiu as funções de chefe de gabinete do ministro do Exterior interino.
Poucos dias depois das declarações de Monti, no início de abril, a Corte Suprema da Índia revogou as restrições anteriormente impostas ao embaixador italiano Daniele Mancini de sair do país.