{mosimage}Ícone do alpinismo, Reinhold Messner conta a jovens escaladores o segredo da coragem que o levou a ser o primeiro homem a subir as 14 montanhas mais altas do mundo
Pai de quatro filhos, com cem expedições, 3.500 escaladas e autor de vários livros sobre alpinismo, ele é ainda proprietário de uma cadeia de cinco museus da montanha instalados em castelos no Alto Ádige — chamados de MMM, Messner Mountain Museum. Este é Reinhold Messner, nascido no Sul do Tirol. Perto de completar 70 anos, o italiano caminha a passos largos pelas montanhas das Dolomitas.
Não importa o grau de inclinação do terreno, o ritmo é o mesmo. O seu fôlego é de sobra. Nele, o cansaço não dá o ar da presença. O alpinista percorre a trilha em silêncio e com a intimidade de quem conhece cada metro quadrado de onde pisa. O barulho da respiração, em afã, vem dos pulmões e das narinas dos quase 70 “trekkers” que acompanham o grande escalador em retorno à sua origem — as Dolomitas, que foram, para Messner, o seu ginásio esportivo.
— Já faz uns dez anos que me sinto disponível a dividir as minhas experiências com outras pessoas. E o faço com prazer em eventos como este, o IMS de Bressanone, nos quais posso interagir com grandes grupos. Ao fazer isto na montanha, fica muito fácil contar minhas emoções e aventuras — conta. Enquanto ganha tempo pensando nas questões e recuperando o fôlego, o alpinista admira a paisagem, no Monte Muro, a 2.332 metros de altura.
Para chegar até lá em cima, o grupo acompanhou o escalador por quase duas horas e meia de subidas e descidas.
— Vim de Gênova. Fiz esta viagem até aqui para conhecer de perto o homem Reinhold Messner. Ele é um ponto de referência para mim. Adora a montanha, assim como o grande Walter Bonatti, que nos deixou pouco tempo atrás. A sua vitalidade e as suas lições de vida me impressionam — diz Enrico Cardillo durante a caminhada que tinha as Dolomitas, do lado do Alto Agide, como companheiras de viagem.
— A mim interessa a aproximação, quando ainda não sei como serão as coisas. Mas tento me cercar de gente especialista em terrenos que não conheço. E quando chegam pessoas de outro “mundo”, elas me ensinam como algumas coisas funcionam. Por exemplo, quando fui à Antártica, tive acesso a informações importantes para a minha caminhada no gelo — conta Messner. Ainda que, para os seus fãs, Messner seja, ele próprio, uma figura quase extraterrestre.
O primeiro homem a escalar as 14 montanhas mais altas do mundo, sem o auxílio de garrafas de oxigênio, confessa, para espanto geral, ser um medroso. E é graças ao medo que está vivo, depois de ver a morte de perto em diferentes ocasiões. Em uma delas, sofreu a perda do irmão, Günther Messner, na montanha Nanga Parbat, em 1970.
O medo e a coragem são duas faces da mesma medalha, define.
— Se eu não fosse medroso, não estaria vivo. O medo é o aquilo que lhe diz ‘até aqui tudo bem, mais além, não’. Todos nós temos medo. Os melhores alpinistas são aqueles que têm medo. Se não fosse assim, não estariam vivos. Porque conhecem mais do que os outros os riscos de tudo aquilo que pode ocorrer. O problema maior é quando somos jovens e ainda não temos a experiência para enfrentar a natureza. A natureza é diferente todos os dias. É caótica, selvagem. Não sabemos como reagiremos e me interessa descobrir o que ocorre conosco quando nos confrontamos com a natureza selvagem.
Nascido em 1944, Messner começa a viver a sua última grande exploração: a velhice.
— A última aventura de todos nós é a velhice. Uma aventura séria, não fácil, mas muito interessante. Tive a sorte de passar 50, 60 anos na montanha, tendo a sabedoria, os meios e o tempo, algo que consegui obter. A maioria das pessoas faz um trabalho sério e não são como eu, o conquistador do inútil. Elas não têm tempo para passar a vida girando pelas montanhas. Assim, eu posso transmitir um pouco das minhas emoções, da minha vida.