Criador do hino de amor à Roma, o músico Antonello Venditti se apresentou no Brasil como um dos candidatos a representante oficial da azzurra na Copa de 2014
Aos seis anos de idade, Antonello Venditti fez uma promessa ao seu tio, sócio-fundador da Roma, time da capital italiana: um dia faria uma canção sentimental em homenagem à equipe do coração da família. Em 1974, compôs a letra Roma – Non Si Discute, Si Ama, que ficou conhecida como Roma, Roma, Roma, e que marcaria sua carreira. A letra é uma declaração de amor e, posteriormente, foi adotada pelo time da Cidade Eterna, cantada sempre antes do início das partidas no Estádio Olímpico de Roma.
No começo da década de 1980, a Roma contratou Paulo Roberto Falcão e, em 1983, o clube conquistou seu segundo título italiano liderado pelo brasileiro. Em homenagem ao bicampeonato, Venditti compôs uma nova declaração: Grazie Roma, música até hoje tocada no estádio quando a equipe vence.
Hoje, com uma carreira de 40 anos e mais de 300 canções, o cantor e compositor pode ser o representante do seu país no maior evento de futebol do planeta, em 2014. Em visita à capital paulista em outubro, o artista contou como surgiu a indicação.
— O convite veio do Gianni Loreti, vice-diretor do ICE para o Brasil (agência italiana responsável pelo comércio exterior). Eu já conhecia o país por meio do futebol de Cafu e Falcão, e da música de Chico Buarque, mas essa é minha primeira vez aqui. Estou achando a cultura bastante diferente, porém muito importante, pois se diz que o futebol nasceu na Inglaterra, mas o espírito futebolístico surgiu no Brasil — declara.
Segundo Venditti, com a situação econômica e política em que se encontra a Itália, o futebol dá força e ajuda o desenvolvimento cultural, com uma função importante de reunir pessoas.
— Eu mesmo fui um dos primeiros a fazer uma canção para um time de futebol. A música agrega tanto o esporte quanto o espírito de paz — afirma.
Poesia para uma torcida menos rude e mais sentimental
Antonello foi a um estádio de futebol pela primeira vez quando o tio sócio-fundador da Roma o levou. Na ocasião, ele achou os jogadores rudes e as canções ainda mais, com palavrões e frases óbvias. Então fez a promessa de fazer uma bela canção sentimental ao tio.
Sua carreira se deu de forma diferenciada. Ele era cantor de músicas políticas, já que era comunista, e se transformou quando criou a canção para a Roma.
— Foi um escândalo na época. Depois disso, todos os times criaram seus próprios hinos na Itália. A música é importante, não somente quando se ganha, mas quando se perde, porque na vida é assim, a vitória das pessoas é estar junto com as outras.
Quando perguntado se acreditava que a Roma seria a campeã do campeonato italiano, o cantor romano brincou:
— Há uma superstição e não podemos dizer quem vai ganhar. Prefiro esperar para ver.
O representante do ICE contou que o cantor se encontrou com a comunidade italiana e o público brasileiro.
— Antonello teve um encontro com empresários no Terraço Itália, onde o Paulo Roberto Falcão esteve presente. Esse foi um exemplo de que Brasil e Itália têm uma grande amizade. Na mesma semana, fez uma palestra na Faculdade de Letras e Filosofia da USP. O tema do encontro com os estudantes foi a importância cultural do futebol nos dois países. Por último, esteve no Instituto Baccarelli, que transforma meninos em situação de risco em grandes músicos. Quem sabe um dia o Antonello não se apresenta com eles… — torce Gianni Loreti.
O cantor ainda foi convidado para ir à casa do ex-jogador Cafu, membro da Comissão de Estudos Técnicos da Fifa. Sobre sua agenda de shows no Brasil, o artista respondeu que ainda não tem previsão para se apresentar no país, e que veio para encontrar alguns amigos e “ver o que vai acontecer no futuro”.
No momento, o artista romano está gravando o álbum Única, depois de concluir uma turnê de dois anos pela Europa. O cantor também revelou ser um apreciador da música brasileira.
— As letras e melodias passam uma verdade, uma magia, e a poesia popular se mistura. Eu admiro e inclusive conheci Chico Buarque e Caetano Veloso — contou.