{mosimage}Os intercâmbios entre pessoas acima de 50 anos têm aumentado cada vez mais, apontam pesquisas de agências especializadas. Itália é um dos destinos mais procurados
Para fugir da rotina diária, ou aperfeiçoar-se profissionalmente, ou para minimizar a frustração de nunca ter feito uma viagem de intercâmbio na juventude, muitas pessoas com mais de 50 anos tomam a decisão de embarcar para o exterior através de programas de intercâmbio. Uma parte recorre às agências de intercâmbio também para aprender línguas, e paralelamente aos estudos, realizam muitos passeios e atividades extracurriculares. O setor do turismo foi um dos primeiros a apostar nesse nicho de mercado. Segundo uma pesquisa realizada pelo QuorumBrasil, viajar é o desejo de consumo de 58% dos idosos brasileiros — e o segmento de intercâmbio pegou carona nessa mudança de perfil dos turistas.
Batizados de special age ou mature students, os programas de estudo para estrangeiros são montados pelas próprias escolas no exterior e vendidos no Brasil por empresas de intercâmbio. Apesar mais de 30 agências brasileiras oferecerem esse serviço, o intercâmbio de idosos ganhou mais impulso somente nos últimos dois anos. Na agência Student Travel Bureau (STB), o intercâmbio para a terceira idade registrou alta de 40% de 2010 para 2011. Os destinos mais requisitados são os europeus, como a Itália, conta Suzana Martins, gerente de marketing da STB.
— Os países mais procurados pelos idosos são os de línguas neolatinas, portanto, italiano, francês e espanhol. Mesmo assim, constatamos um crescente número de inscritos em países como Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. O bom momento da economia brasileira, aliado ao acesso aos benefícios da educação internacional, está contribuindo para popularizar o intercâmbio. Além disso, esse percentual de idosos em intercâmbio deve crescer, pois a expectativa de vida das pessoas aumentou — analisa.
A STB tem cursos especiais para pessoas com idade superior a 50 anos. O pacote custa a partir de 1.218 euros, excluídas as passagens. A empresa encaminha seus clientes para a escola Dilit em Roma, por duas semanas. O pacote inclui 20 aulas de italiano em grupo e atividades guiadas por professores especializados em Arqueologia e História da Arte. Aulas de culinária, passeios em Tivoli e Castelli Romani, visitas a adegas, degustações, jantares e excursões por Pompeia e Nápoles fazem parte do cronograma. Suzana Martins conta que as motivações estão relacionadas aos hobbies e às carreiras dos viajantes.
— O público na faixa etária acima de 50 anos geralmente busca programas que unam estudo e atividades ligadas aos hobbies e ao estilo de vida de cada um, como arte, culinária e dança. Nossos clientes continuam muito ativos profissionalmente e, em sua maioria, são profissionais liberais, têm o próprio negócio, a casa própria, não têm mais obrigações financeiras pesadas e seus filhos já cresceram, o que facilita para realizarem viagens longas — completa Suzana.
Rui Barbosa Júnior, de 60 anos, psiquiatra e morador de Belo Horizonte, comprou o pacote de intercâmbio da STB em maio de 2012 para a Itália. Descendente de italianos do Vêneto, estuda a língua há três anos e fez a viagem de intercâmbio para ganhar fluência no idioma e mergulhar na cultura do país. Para Rui, o aspecto mais interessante das viagens de intercâmbio é descobrir as peculiaridades regionais.
— Em Palermo, as lojas fecham no horário de almoço. Isso é muito interessante! Agora posso ler sobre os lugares que visitei e ter uma visão mais concreta do que é dito. Além disso, durante a viagem você conhece pessoas de outros países, de todas as idades, com hábitos diferentes dos seus, mas que acabam seus amigos e te ajudam muito, ainda mais quando você vai sozinho ou é “marinheiro de primeira viagem” — lembrou Rui.
Intercambistas maduros e exigentes
Os alojamentos de estudantes não são tão populares entre os mais velhos, que preferem a tranquilidade e a privacidade. A maioria escolhe como locação um apartamento ou um hotel e, no caso daqueles mais interessados em praticar exclusivamente o idioma, hospedar-se em casas de família é uma boa opção. Rui Barbosa se instalou em hotéis durante o intercâmbio na Itália e enfatiza a importância de se procurar informações na internet sobre preços e a qualidade dos locais de hospedagem em outros países.
— Durante a preparação da viagem, pesquisei em vários blogs de viajantes, que me deram dicas bastante úteis. Em Roma, escolhi o Hotel Rimini, próximo à escola Dilit. Gastei 1700 euros em hotéis, pois passei 13 noites em Roma, duas em Catânia, no Hotel Villa Romeo, e duas em Palermo, no Hotel del Centro. Eram hotéis três estrelas. Humildes, porém limpos, relativamente confortáveis e próximos às estações ferroviárias e rodoviárias.
Aos 59 anos, o contador Mauro Tassi vai acompanhar a esposa Beth Tassi, empresária de 58 anos, na primeira viagem à Florença, pelo Programa 50+ da Central de Intercâmbio (CI), em setembro. O pacote do programa tem valores a partir de 2.600 euros por pessoa e inclui acomodação com café da manhã, materiais de estudo, transfer in/out e todos os passeios. Durante o intercâmbio, os alunos terão aulas na instituição Linguaviva e ficarão hospedados no Hotel Royal Firenze.
O casal vai fazer visitas guiadas a vilas e jardins de Florença, à Galeria Uffizi, à Torre de Pizza e à Igreja Croce que apresenta uma bela arquitetura gótica. Eles querem apreciar obras de Michelangelo, na Galeria Accademia, que fica na cidade de San Gimignano, além de conhecer as melhores grifes de moda do mundo como Gucci e Armani. Mauro fez seu primeiro intercâmbio aos 48 anos no Canadá. Ele compara suas experiências com as do filho Gabriel que, aos 20 anos, viajou para os Estados Unidos.
— Fazer um intercâmbio na minha idade é muito melhor do que fazer um intercâmbio jovem. Além de se ter mais bagagem cultural e de vida, a situação financeira estável também ajuda a aproveitar de maneira mais confortável as viagens. Tomo como exemplo o intercâmbio que meu filho Gabriel fez aos 20 anos para os Estados Unidos. O pacote dele foi mais barato. Ele ficou em casa de família e levou pouco dinheiro para gastar. Com minha esposa, ficarei em um hotel, vou jantar em bons restaurantes e poder comprar o que eu quiser sem ter aquela restrição de dinheiro de quando somos jovens. Além disso, quando se tem 50 anos ou mais, se aproveita de forma diferente os lugares — ressaltou Tassi.
As pessoas mais velhas são mais detalhistas e querem saber, com antecedência, todos os passos que darão. A programação para os idosos costuma ser mais intensa porque dura de duas semanas a um mês, diferente do intercâmbio de jovens, que pode durar até seis meses, um ano ou mais. Para dar conta de todas as atividades, é preciso estar com a saúde sob controle. Os idosos que sofrem de alterações de memória e humor, ou portadores de doença crônica que não esteja controlada, devem viajar acompanhados. De qualquer maneira, é obrigatória a contratação de um plano de saúde para todo o período da viagem, diz Gabriel Canellas, gerente do Programa 50+ da Central de Intercâmbio (CI). O plano de saúde é válido para todas as idades e já está incluído no preço final do pacote do intercâmbio.
Gabriel garante que os intercâmbios na faixa dos 50 anos só tendem a aumentar, pois quem experimenta conhecer novas culturas e outros costumes, acaba querendo repetir essa experiência.
— A aventura em terra estrangeira, somada à experiência de voltar à sala de aula, ajuda os alunos com mais de 50 anos a reciclar ideias e hábitos, abre horizontes e proporciona mais autoconfiança. Em geral, eles já voltam do intercâmbio planejando a próxima viagem para o exterior — conclui.