Comunità Italiana

Novos membros, velhos desafios

O novo secretário-geral do Consiglio Generale degli Italiani all’Estero (CGIE) apresenta suas propostas para um melhor atendimento dos italianos residentes no exterior

Entre os dias 21 e 25 de março, aconteceu em Roma a primeira Assembleia Plenária do Conselho Geral dos Italianos no Exterior (CGIE) de 2016, durante a qual foi feita a escolha dos componentes da entidade, assim como a composição das Comissões Continentais e o novo secretário-geral do CGIE, Michele Schiavone. Veterano da entidade, Schiavone é pugliese de Fasano e tem 56 anos. Ele se mudou para a Suíça aos 18 anos e sempre foi muito participativo na política e no mundo do associacionismo, trabalhando ativamente junto à comunidade italiana na Confederazione Elvetica. Schiavone se disse “honrado e lisonjeado de dar as boas-vindas a todos os colegas” e desejou que todos fizessem da assembleia um ponto de reencontro.
A assembleia foi presidida por Vittorio Pessina (FI) e teve a participação da embaixadora Cristina Ravaglia, diretora-geral para políticas migratórias e italianos no exterior, que prestou homenagens às sete estudantes italianas do programa Erasmus que perderam a vida em um acidente na Catalunha, na Espanha.
— Elas também eram italianas no exterior. Poderiam ser nossas filhas — comentou.
Os italianos e os ítalo-brasileiros estiveram representados no evento através dos conselheiros eleitos do CGIE no Brasil, Silvia Alciati, Rita Blasioli Costa e Cesare Villone. Também presente, a deputada Renata Bueno (USEI) elogiou o conselho  e recomendou ao Ministério uma abordagem diferente no que diz respeito a tecnologia, que é sempre bem vinda, mas que acima de tudo “deve funcionar”.
No segundo dia do encontro, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Paolo Gentiloni, inaugurou a Assembleia, fazendo um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos ataques terroristas ocorridos em Bruxelas no mesmo dia.  
Rita Blasioli Costa foi eleita a conselheira, e o argentino Mariano Gazzola foi escolhido como vice-secretário: ambos representam a América do Sul no Comitato di Presidenza del Cgie. Natural de Abruzzo, Blasioli vive em São Paulo há 29 anos e por 17 anos fez parte do Comites de São Paulo.

A participação dos jovens é a garantia da renovação das entidades
Blasioli lembrou que a participação é um “ato de responsabilidade de cada um de nós”.
— O que podemos fazer como Conselheiros do CGIE é promover iniciativas e convidar, mas vai depender do quanto cada cidadão se sente envolvido nos assuntos que dizem respeito à comunidade italiana. Pessoalmente, faço parte da terceira comissão de trabalho do CGIE, “Diritti civili, politici e di partecipazione”. Nosso primeiro compromisso será aquele de apresentar propostas de reformas dos Comites e CGIE entre o plano mais amplo da reforma da representatividade no exterior, que deverá ter início em junho. Naturalmente convidaremos a comunidade a se manifestar a respeito e espero sinceramente que participe — explicou a nova conselheira para a América do Sul.
Blasioli, que sempre defendeu uma maior participação dos jovens, classificou como positivos os trabalhos e destacou a importância da participação das novas gerações.
— A Comissão Nuove Generazioni e Generazioni Nuove fez uma brilhante apresentação sobre os trabalhos que pretendem desenvolver e que acredito serão de muito sucesso, pois os jovens estão sentindo uma grande vontade de participar. Foi muito gratificante a participação dos jovens na conferência promovida pelo CGIE. Estavam agora participando como conselheiros, entre eles, a nossa colega Silvia Alciati. Isto representa a garantia do futuro das nossas instituições. Pessoalmente, sempre apostei na comissão de jovens do Comites de São Paulo durante a minha Presidência e o êxito está no atual Comites, com uma grande presença de jovens. Continuo participando dos projetos deles em forma de colaboração, mas aqui poderia repetir as minhas considerações sobre a participação, ou seja, o sentimento de pertencer de cada um — completou Blasioli.
Além das eleições, foram criadas sete comissões temáticas permanentes com Cesare Villone eleito secretário na Commissione V “Promozione Sistema Italia” – Formazione – Impresa – Lavoro – Cooperazione Internazionale”, que terá como presidente Nello Collevecchio (da Venezuela), e como vice-presidente Mirko Dolzadelli.
Villone conversou com Comunità e falou sobre alguns aspectos da Commissione V, destacando a atuação das instituições italianas no exterior.
— A forte atenção da parte das instituições centrais para o efeito do Jobs Act, nosso Sistema Paese no exterior, acompanha há muito tempo os numerosos programas de cooperação entre universidades, associações, associações profissionais. Certamente, a questão é fundamental, e pode ser melhorada através de maior cooperação público-privada, com políticas de incentivos que ampliam os acordos e programas de estudo e de formação profissional no exterior, a fim de incentivar os nossos jovens na orientação educação e mercado de trabalho. Nosso compromisso também se presta à simplificação no reconhecimento bilateral das qualificações e títulos de especialização — explicou Villone.
O presidente do Comitato italiani nel mondo della Camera, Fabio Porta (Pd) deu as boas-vindas aos novos membros e destacou a importância do momento para o futuro da relação entre a Itália e as comunidades no mundo, e lembrou os 60 anos da Marcinelle e os 110 anos  do naufrágio do Sirio. Porta também convidou os conselheiros a “não acreditarem no fechamento do CGIE, pois foi dito a vocês que estava destinado a morrer”.
— Trabalhemos juntos para mudar e reforçar os Comites. Vamos olhar para os desafios que temos pela frente: língua e cultura e políticas sócio-assistenciais, com a luz da nova mobilidade, informações, sem a qual não poderia internacionalizar recursos para os serviços consulares — afirmou o deputado aos presentes.  
Porta ainda destacou a nova composição e as propostas apresentadas pelo órgão.
— O novo CGIE me parece renovado não somente em relação às pessoas, mas também na qualidade das intervenções e nas contribuições. Parece-me também que a redução do número de conselheiros se traduziu em uma maior eficiência e funcionalidade. Tudo isso dá esperança no futuro dos trabalhos deste CGIE. Também a representação eleita no Brasil demonstrou competência e solidez nos temas apresentados e obteve um importante reconhecimento dos novos organismos criados — disse à Comunità.
Em sua primeira participação no plenário, o CGIE Brasile pediu para que fossem realizadas ao menos duas conferências de jovens no mundo para promover a integração com a comunidade. O segundo pedido foi para que a reforma da lei de nacionalidade possa corrigir uma discriminação que não honra os descendentes de linhagem materna, nascidos antes de 1948.  A mudança no atendimento eletrônico do Consulado foi outro pedido dos representantes do Brasil, que solicitam que o sistema seja corrigido e funcione corretamente, uma vez que até o momento tem-se mostrado um sistema frágil e sujeito a fraudes, permitindo que pessoas sem escrúpulos vendam reservas.
No último dia da assembleia plenária, foram oito as ordens aprovadas, das quais duas apresentadas pelo CGIE Brasile, todas por unanimidade dos 56 conselheiros presentes. Os pedidos de cidadania foram a questão central apresentada por Silvia Alciati. O problema é bem conhecido: os cortes na estrutura consular não fizeram nada mais do que piorar a situação. A questão voltou ao centro dos debates na quinta ordem do dia apresentada por Cesare Villone. Ele fala da situação “crítica na prestação de serviços consulares”, que começa a se transformar em “extrema urgência” em alguns países da América do Sul. No entanto, poderia ocorrer uma “normalização” se as taxas consulares, de 300 euros, para a prática de cidadania, fossem reinvestidas na área em vez de chegar a Roma.