Comunità Italiana

Novos roteiros

{mosimage}Com uma nova estratégia de turismo voltada para o público brasileiro, Itália aposta nas redes sociais para divulgar destinos ainda pouco visitados, como Cortina d’Ampezzo, Óstia e Modena

Com o início do inverno, os turistas procuram as estações italianas de esqui mais prestigiadas, concentradas no norte da península, como Madonna di Campiglio, Cogne e Alpe Di Suisi. Ainda não são muitos, porém, os brasileiros que conhecem ou procuram tais locais. Pensando nisso, a Agência Nacional Italiana de Turismo, o Enit, está investindo na divulgação de destinos ainda pouco explorados, como a região da Campânia, a província de Modena, na Emília-Romanha, e a cidade de Cortina d’Ampezzo, conhecida como a rainha vêneta das dolomitas e, sem dúvida, dona da mais charmosa estação do país, palco da copa do mundo de esqui realizada anualmente em janeiro. Situada em uma reserva natural de mais de 11 mil hectares, o parque natural das Dolomitas d’Ampezzo, reúne charmosos cafés de onde se pode apreciar a paisagem que vai do verde dos vales ao branco da neve no cume das montanhas.
— Os turistas brasileiros que eu recebo são sempre alegres e dizem sempre que tudo é “muito lindo”. Mas poucos nos visitam durante o inverno, quando há muitas coisas para se fazer. Em Cortina, a vida é como em Copacabana. Durante o dia, se pratica o esporte; à noite, há muitos locais para se comer, se divertir e dançar. Os brasileiros são o máximo para Cortina e Cortina é o máximo para os brasileiros — resume, mostrando grande entusiasmo para receber visitantes brasileiros, Flavia Sartor, proprietária do Hotel Ancora, em Cortina D’Ampezzo, que esteve no Brasil em outubro para divulgar a região.
Com o objetivo de incrementar ainda mais o fluxo de brasileiros, que cresce cerca de 25% por ano, impulsionado, também, pelo crescimento da classe C, o Enit adotou novas estratégias, como o investimento em redes sociais. Até o final de 2012, cerca de 850 mil turistas do Brasil devem visitar o Belpaese.
— Nosso objetivo é atingir um milhão de turistas brasileiros até 2014. Eles não estão mais procurando visitar apenas as cidades mais conhecidas, como Roma, Florença, Bolonha, mas também locais do sul, como Nápoles, a Costa Amalfitana e a Sicília, que são lugares estupendos, com muita história e gastronomia — revelou o diretor do Enit para a América Latina, Salvatore Costanzo, durante o maior evento dedicado ao setor de turismo do continente, a Feira das Américas, realizada pela Associação Brasileira de Agências de Viagens, a Abav, no final de outubro, no Rio.
O turismo de tipo cultural ainda domina a preferência dos visitantes brasileiros e ainda cresce cerca de 10% ao ano, enquanto o circuito enogastronômico aumentou em média 18%.
O chamado setor de casamentos, por sua vez, tem registrado um crescimento exponencial, de mais de 30% por ano, afirma Costanzo.
— Esse segmento cresce muito rapidamente. As pessoas estão procurando na Itália cenários perfeitos para se casar — comentou Costanzo.
Além disso, a existência de milhões de brasileiros descendentes de italianos contribui amplamente para o fluxo de turismo na Itália: o diretor do Enit calcula que cerca de um terço dos oriundi já esteve no país pelo menos uma vez na vida.

Foco nas redes sociais para atingir os brasileiros
Segundo estudos do Ibope e da Worldwide Independent Network of Market Research (Win), cerca de 87% dos internautas brasileiros acessam sites de redes sociais. O fato não passou despercebido pela agência de turismo italiana, que acaba de criar um perfil especialmente voltado para os internautas brasileiros em duas das mais importantes redes sociais virtuais.
No YouTube, o canal EnitBrasil reúne vídeos com imagens de monumentos, ruínas arqueológicas, praças, praias e atrações gastronômicas de regiões como Campânia, Abruzzo, Basilicata e Calábria. Já a fanpage EnitTurismoNaItalia, criada há  um mês no Facebook, com todas as atualizações publicadas em língua portuguesa, será um canal para divulgar promoções, como um concurso de fotos que melhor representam a Itália e que presenteará os internautas com uma viagem ou um Ipad. O lançamento do concurso está previsto para acontecer até o final do ano.
O Enit aproveitou a participação na Feira das Américas para estreitar os contatos com os operadores de turismo. Além de reuniões entre a comitiva de autoridades italianas e os presidentes executivos de operadoras brasileiras, houve um encontro com o secretário estadual de Turismo do Rio, Ronald Ázaro.
— É importante esta aproximação proporcionada pela ABAV, pois temos a oportunidade de divulgar melhor nossas estratégias, bem como consolidar novos negócios — afirma Costanzo.
A Região Toscana, por exemplo, apresentou no Rio de Janeiro aos operadores turísticos sua mais nova campanha, atualmente em fase de start-up, cujo trailler oficial foi exibido em setembro durante o festival Independent Film Week de Nova York. O conceito inovador, chamado turismo esperenziale, coloca o viajante como se estivesse no centro de um filme, onde os operadores, guias e estabelecimentos fazem papéis de coprotagonistas.
— Existe uma espécie de roteiro. Todos são capazes de participar do filme, elaborado de acordo com o que o cliente deseja de sua viagem. Por exemplo, quem busca uma viagem romântica, tomando um café em um lugar particular, com vista e música de fundo, ou um jantar à luz de velas com essa mesma música, encontrará esses elementos com os quais sonhou — explica Alessandro Fallani, tour operator da Toscana.  
O cliente passará as informações do que deseja de suas férias ao tour operator ou à agência que o atende. Nesse cenário, tudo deriva daquilo que a pessoa quer da sua viagem.
Outro incentivo italiano recém-lançado no mercado brasileiro é o Club Itália Enit, uma espécie de programa voltado para as operadoras que promovem a Itália como destino turístico. Divididas nas categorias prata, ouro e platina, as vantagens incluem recebimento de boletins informativos e material promocional a cursos de formação e consultoria direta.
Também foi anunciado no Rio um projeto de turismo acessível, que procurará aplicar, no país, em parceria com o governo brasileiro, o bem-sucedido exemplo italiano na área. Para isso, serão utilizadas tecnologias, como um banco de dados com informações sobre acessibilidade em locais públicos, como hospitais, parques e estádios. Tais dados poderão ser acessados por uma plataforma multimídia através de ferramentas como GPS, Ipad e Totem.
As estratégias italianas incluem a revitalização do bairro paulistano marcado fortemente pela imigração italiana, o Bixiga. No local, está sendo desenvolvido um projeto pela Acli (Associações Cristãs dos Trabalhadores Italianos). Intitulado Limes, tem como objetivo contribuir para a difusão de um modelo de turismo responsável replicável tanto no Brasil quanto na Itália, além de valorizar o patrimônio histórico, arquitetônico, social e cultural do Bixiga por meio da idealização de um itinerário turístico com o envolvimento da população local. Nesse contexto, serão valorizados o diálogo entre a italianidade, as numerosas influências culturais presentes no bairro e as tradições dos imigrantes junto à identidade do território.

Roma aposta no Ano da Fé e em Óstia
Cidade italiana mais visitada pelos brasileiros, Roma aposta suas fichas no turismo religioso, embalada pelo Ano da Fé, que começou em 11 de outubro deste ano e termina em 24 de novembro de 2013 — e abrange a Jornada Mundial da Juventude que trará o papa Bento XVI ao Rio de Janeiro em julho. O calendário inclui eventos para os fiéis católicos e visitas ao pontífice.
O responsável pelo departamento de Turismo de Roma, Antonio Gazzellone, esteve no Brasil em outubro para uma série de encontros no Rio e em São Paulo com autoridades e empresas de turismo. Na capital paulista, junto a um comitê formado por representantes da indústria pública e privada reunidos na Federação do Comércio, lembrou que Roma é o principal destino dos brasileiros que visitam o país.
— Roma se organiza para ser protagonista na oferta turística para os países do grupo dos Brics, sem esquecer que é muito importante nosso papel de capital para o componente da população de origem italiana e que está na segunda ou terceira geração — frisou à Comunità durante a feira da Abav.
A Cidade Eterna também quer divulgar o seu segundo pólo turístico. Pensando nisso, estiveram no Brasil proprietários de estabelecimentos hoteleiros de locais de Roma pouco conhecidos dos turistas, como a rica zona arqueológica de Ostia Antica, cidade fundada pelos romanos com um muro datado do século IV a.C. e uma grande área com dezenas de ruínas de templos, palácios, fóruns e armazéns daquele que é considerado o primeiro porto fluvial da península.
Poucos sabem que, a poucos minutos dali, fica o Lido de Óstia, com ótima estrutura balneária, hotéis e diversão noturna. Tamanha foi a necessidade de divulgar ao mundo que Roma tem praia que os empreendedores de Óstia criaram a associação Assohotel Mare di Roma, da qual fazem parte seis estabelecimentos hoteleiros, como o Hotel Belvedere, cujo diretor, Nicola della Puca, esteve no Brasil.
— Ostia Antica é um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo, mais ainda pouco conhecido pelos brasileiros — comenta Della Puca.
O diretor do Ostia Antica Park Hotel, Roberto De Prosperis, também esteve no Rio pra divulgar as atrações da região.
— Queremos lembrar também que o Lido de Óstia faz parte do Comune de Roma. Do centro da cidade, o visitante chega de metrô em menos de meia hora. Além disso, a reserva natural de Lipu Ostia possui uma zona de observação de pássaros — ressalta De Prosperis.
No local, espécies que não existem no Brasil podem ser apreciadas, como o noitibó-da-europa e o abelharuco.

Campânia é a que mais cresce em número de visitantes
A região que mais cresce (cerca de 40% ao ano) em termos de visitação entre os turistas brasileiros é a Campânia. Com cinco províncias — Avellino, Bevenento, Caserta, Nápoles e Salerno — a  região reúne um patrimônio cultural inestimável, com marcas deixadas por gregos, sanitas, romanos, normandos, árabes, espanhóis e longobardos.
 — Nosso patrimônio é muito rico, pois foi invadido por muitos povos que ficaram, como franceses, normandos e espanhóis. Agropoli, por exemplo, foi governada pelos árabes no século XI — lembra à Comunità o dirigente de turismo e cultura da Campânia, Rocco Perna.
A Campanha quer mostrar que, além das famosas joias mediterrâneas, como a Costa Amalfitana, Ischia, Capri, Sorrento e Pompeia, tem ainda mais a oferecer em pequenas cidades que oferecem visitas a monumentos de várias épocas, como os templos dóricos de Paestum e o Castello della Leonessa em Montemiletto, edificado em época de dominação longobarda e modificado pelos normandos no século XII. No capítulo enogastronomia, a região tem o mérito de ter inspirado a criação do conceito de dieta mediterrânea, hoje patrimônio cultural da Unesco. Após anos de estudo e observação da dieta seguida pela população da zona do Cilento, especialmente na localidade de Acciaroli, o nutricionista norte-americano Ancel Keys lançou mundialmente o conceito no livro How to eat well and stay well, the mediterranean way.

Guiar uma Ferrari no autódromo de Modena a partir de 400 euros
Localizada em uma zona estratégica da península italiana, a poucas horas da capital e do sul e, ao mesmo tempo, muito próxima do norte industrial, a Emília-Romanha também estreou na maior feira de turismo da América Latina em 2012. A novidade principal é animadora para os brasileiros apaixonados por carros. Inaugurado este ano, o Museu Casa Enzo Ferrari, situado em Modena, reúne, na residência do criador da marca, documentos, fotografias, cartas recolhidas em arquivos da família e relíquias como o primeiro carro com a marca Ferrari, a S 125, de 1947.
Mas não só de museus são feitas as atrações para quem visita a região: no autódromo de Modena, é possível fazer um test drive em uma Ferrari 430 Challenge. São cinco voltas individuais que duram de 10 a 20 minutos, e que representam a realização do “fetiche” do visitante disposto a pagar de 400 a 500 euros pela empreitada.
Por menos do que isso, é possível guiar uma Ferrari esportiva, como a F430 Spider e a F430 Scuderia em ruas próximas a Maranello. Dependendo do modelo Ferrari, um passeio de 10 minutos custa de 60 a 100 euros. A corrida mais cara se faz com o modelo F458 Italia. Possuir a carteira de motorista internacional é necessário em todos os casos.
— A nossa força é que, em um raio de 30 quilômetros, há a possibilidade de ver muitas coleções de época, vários museus e visitar algumas fábricas. Para citar não apenas a Ferrari, mas também Maserati e Lamborghini — conta à Comunità Daniela Fedel, diretora da ModenaTur, empresa que organiza as corridas para os turistas. Ela conta que tem recebido grupos de brasileiros que conseguiram realizar o sonho de dirigir uma potente Ferrari nas pistas de Modena.
Outra atração da Emília-Romanha são as fábricas do famoso aceto balsamico de Modena. Daniela Fedel chama atenção para o fato de que o nome do verdadeiro vinagre é aceto balsamico tradizionale di Modena, caracterizado pela produção artesanal e pelo envelhecimento mais longo, diferente do industrial.
— O tipo industrial é o mais comum. O tradicional de Modena, porém, é encontrado em um só tipo de garrafa, desenhada por Giugiaro, o designer da Fiat, e tem um envelhecimento mínimo de 12 anos, até chegar ao extra envelhecido em 25 anos — explica à Comunità.
Uma garrafa do aceto tradicional de 100 ml pode custar cerca de 40 euros, enquanto o extra envelhecido pode chegar a 80 euros.
É possível agendar uma visita guiada a uma das dezenas de fábricas familiares nas localidades rurais da região. Ali, o turista pode acompanhar o processo de fabricação, do cultivo da uva ao engarrafamento, conversar e até fazer uma refeição com a família tendo à mesa o mais legítimo vinagre balsâmico de Modena.

Brasileiros descobrem aos poucos os encantos sicilianos
Logo depois da Campânia, a Sicília tem registrado o segundo maior percentual de crescimento em termos de visitação de turistas brasileiros, com um aumento de 35%, segundo os dados do Enit.
— Houve um aumento da presença de turistas brasileiros, ainda não conspícuo, mas há certamente um interesse maior. Os turistas que vêm do Brasil têm uma preferência pelas cidades de arte, pelo turismo cultural. Uma parte considerável também faz turismo de tipo religioso — conta à Comunità o diretor do serviço de promoção e marketing de turismo da Região Sicília, Roberto Lanza.
O diretor de vendas do Grand Hotel Villa Igiea, um hotel cinco estrelas situado em Palermo, Alessio Candiloro, nota que os brasileiros chegam normalmente em pequenos grupos, com idade de 40 a 55 anos, e procuram comer bem.
— Eles procuram os bons vinhos, a gastronomia, alugam barcos e buscam hotéis de categoria superior — repara Alessio.
Por falar em vinhos, a Sicília é uma das regiões que mais produzem vinho na Itália. Graças às condições ambientais, chega a produzir anualmente cerca de 400 milhões de litros da bebida. Devido à atuação do Instituto Regional da Videira e do Vinho da Sicília (IRVV), nas últimas duas décadas, a ilha passou a dar prioridade ao estilo original, valorizando o brand Made in Sicily. E não foi à toa que os vinhos sicilianos conquistaram o selo de certificação de qualidade europeia com 22 rótulos DOC (Denominação de Origem Controlada) e um DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida) — motivos que rendem uma visita à Sicília ainda mais irresistível e deliciosa aos brasileiros.