Em viagem ao Brasil, o fundador do movimento Slow Food, Carlo Petrini, lançou aplicativo com dicas de locais para se comer e comprar e assinou acordo de cooperação com o Ministério do Desenvolvimento Agrário
A filosofia do Slow Food — o alimento bom, limpo e justo — agora está disponível na tela do celular ou do tablet através de um aplicativo disponível para Android ou iOS que indica lugares para comer, beber, visitar e comprar, tudo de acordo com os princípios do movimento. Em 1º de agosto, o presidente e fundador do movimento, Carlo Petrini, veio ao Rio de Janeiro para lançar o Slow Food Planet na Livraria Travessa do Leblon. Foi justamente na capital fluminense que Petrini teve a inspiração para criar o aplicativo, em 2012, após a Rio+20, quando o Slow Food lançou um guia bilíngue com 100 dicas sobre a cidade.
A ferramenta reúne 12.500 dicas de 22 países. No Brasil, conta com mais de 847 indicações escolhidas por cerca de dois mil colaboradores, entre chefs de cozinha, produtores e associados, em 11 cidades e regiões, como Belém, Salvador, Brasília, São Paulo e Rio. Até o fim do ano será ampliado para mais 11 localidades. O download referente a um território de escolha do usuário é gratuito. Cada localidade adicional custa US$ 1,99 e associados ao Slow Food têm acesso gratuito a dez locais. Em apenas uma semana, foram efetuados 2500 downloads.
— Nossa ideia é alcançar seis milhões de pessoas em três ou quatro anos. Pode ser um instrumento muito útil para divulgar o trabalho dos pequenos produtores e as batalhas do Slow Food — afirmou Petrini.
O sistema se divide em três áreas de busca: tempo para comer, priorizando os lugares que valorizam a origem e a autenticidade; tempo para comprar, com nomes de lojas de produtos típicos ou locais onde adquirir diretamente do produtor; e tempo para mim, com dicas combinadas com seu estado de espírito. A ferramenta inclui um dicionário gastronômico.
— Um italiano, por exemplo, que não sabe o que é moqueca, aperta o botão e lê a explicação sobre a comida. Isso significa que pode ser uma enciclopédia para ajudar a conhecer o território e os produtos — explicou Petrini.
De acordo com ele, o aplicativo é um guia participativo que está sempre em construção, “uma ação democrática e colaborativa”.
— Essa é a rede, a nova forma de política: não há hierarquias, é horizontal e tem a força de mudar a consciência e a realidade — resumiu o único italiano da lista de “pessoas que podem salvar o planeta” do jornal inglês Guardian.
Slow Food e MDA assinam acordo que favorece a agricultura familiar
Petrini veio ao Brasil também para assinar um acordo de cooperação entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Slow Food a fim de promover e apoiar a produção e o consumo de alimentos da agricultura familiar e de assentamentos rurais brasileiros.
— Trata-se de desenvolver em todo o território brasileiro um mapeamento dos produtos que são patrimônio desse país e que estão ameaçados por um sistema de alimentos demasiado industrializados. Queremos defender esses produtos com a nossa ideia da Arca do Gosto e das Fortalezas Slow Food, que defendem a comunidade e ajudam a vender e qualificar seus produtos para que aumentem a renda — contou à Comunità Petrini, para quem os agricultores familiares são defensores da biodiversidade, cuja sabedoria deve ser preservada.
O piemontese saiu satisfeito do encontro que teve com o titular do MDA, Patrus Ananias.
— É um ministro extraordinário, que me levou a fazer algo que eu nunca tinha feito na vida: falei com todos os funcionários do Ministério sobre a filosofia do Slow Food, as nossas ideias e as dinâmicas do movimento — relatou.
Ao ser indagado se esperava todo esse sucesso quando fundou o Slow Food (1986), hoje presente em 150 países, Petrini citou uma frase de Francisco de Assis: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”.
Críticas à Expo
Carlo Petrini declarou à Comunità que a Expo de Milão 2015 se revelou uma oportunidade perdida.
— A Expo é muito focada nos Estados e nas indústrias. Mas o tema é “Alimentar o planeta”; então tinham que se concentrar nos agricultores, nas pequenas realidades, nos grandes desastres do desperdício e da desnutrição. Isso, infelizmente, está menos presente, enquanto o espetáculo é mais valorizado — concluiu o presidente do movimento que participa da Exposição com o pavilhão Piazza della Biodiversità.