A Roma foi a primeira, com os americanos do grupo de James Pallotta. Depois veio o Inter, com o indonésio Erick Thoir, que recentemente passou a quota de 68,55% para os chineses do Suning Commerce Group. Agora é a vez do Milan, que está fechando um acordo com os também chineses Sonny Wu e Steven Zheng. Os grandes clubes italianos estão cada vez mais nas mãos de proprietários estrangeiros. Mas os investidores de fora são um beneficio para o futebol italiano? E será que investir em clubes italianos é um bom negócio? O calcio está perdendo a sua identidade?
Tu vuo’ fa’ l’americano/mericano, mericano, diz a canção do genial napolitano Renato Carosone, escrita em 1956. O texto fala de um italiano que queria imitar o estilo de vida americano. A trajetória do oriundo James Pallotta Jr é oposta. Nasceu em 1958, em Boston, filho de imigrantes de diversas regiões, como Lácio, Abruzzo, Calábria e Puglia. Ao invés do italiano que queria fazer a América nos Estados Unidos, Pallota apostou em realizar o sonho americano na Itália. Mais ainda: conquistar Roma, o clube de futebol símbolo da cidade eterna. Ele, que estudou nas grandes universidades americanas, como a University of Massachusetts Amherst, é apaixonado pelo esporte. Em 2002, se tornou sócio minoritário do Boston Basketball Partners, proprietário do Boston Celtics. Pallotta também é dono da Raptor Group Holdings, empresa de investimentos no campo de esporte, consumo, tecnologia, mídia, entretenimento e serviços financeiros.
Em fevereiro de 2011, Pallotta deu o grande passo na conquista do clube da Cidade Eterna. Juntamente com outros três empresários americanos, Thomas Di Benedetto, Michael Ruane e Richard D’Amore, decidiu concorrer para a aquisição do AS Roma. Em 2011, o grupo gastou cerca de 100 milhões de euros para comprar 69% da Neep Roma holding — sociedade criada especialmente para comprar a AS Roma — enquanto os outros 31% ficaram com o banco Unicredit. Em 2014, o banco vendeu sua participação por 33 milhões de euros. No total, Pallota investiu cerca de 130 milhões de euros.
Segundo a revista Forbes, o clube da capital está avaliado em 307 milhões de dólares (cerca de 275 milhões de euros no cambio atual), classificado no 19° lugar no ranking mundial dos clubes mais valorizados e em quarto entre os italianos, depois de Milan, Juventus e Inter.
Como os investidores lucram com o futebol azzurro
Depois da Roma, o Inter seguiu o mesmo passo. O milionário indonésio Erick Thohir comprou 70% do clube de Massimo Moratti em 15 de novembro de 2013 por cerca de 250 milhões de euros. Esportivamente, a presidência de Thohir não deixou traços. Em dois anos e meio, o time não venceu nada. Na temporada de 2014-15, ficou fora das competições europeias e, na última temporada, conseguiu se classificar em quarto para a Europe League. O indonésio se dedicou principalmente à organização administrativa e burocrática, de olho no balanço, deixando de lado o resultado esportivo. Desde o começo de sua aventura italiana, ele deixou claro que realizaria um projeto de três anos. E assim foi. Depois deste triênio, em junho deste ano, vendeu a maioria da sua quota (68,55%) aos chineses do Suning Commerce Group. Agora é a vez do Milan. O clube de Silvio Berlusconi vem tentando fechar com o consórcio chinês dos milionários Sonny Wu e Steven Zheng.
Para o jornalista francês Thierry Cros, especializado em futebol italiano, os investidores estrangeiros podem trazer benefícios para os clubes da Itália.
— Eles trazem dinheiro, cultura de management esportivo e contatos, além da possibilidade de crescimento da marca em nível internacional. Em compensação, os estrangeiros investem para lucrar. E como eles lucram? Principalmente construindo um estádio de futebol de propriedade do clube, onde, além das partidas, a área construída pode ser usada como shopping center, escritórios, eventos, concertos etc — disse à Comunità.
Thierry Cros também cita eventuais conflitos de interesses entre os estrangeiros e os chefes locais.
— O problema é que nem Pallotta em Roma nem os asiáticos em Milão conseguem fazer decolar o projeto deles, em particular na Roma, onde Pallotta se choca com interesses econômicos e políticos locais que não aceitam a ideia de que em torno ao estádio possam existir tantas áreas comerciais. Uma coisa é certa: os investidores internacionais não querem comprar gato por lebre — alerta.