Know how italiano é destaque em seminário sobre uva e vinho promovido no estado
Especialistas italianos reconhecidos mundialmente pela pesquisa de vinhos participaram, no último dia 3 de setembro, do 1º Seminário Internacional para Inovação e Desenvolvimento Tecnológico da Vitivinicultura Catarinense, evento que ocorreu na cidade de Videira, um dos pólos da produção vinícola em Santa Catarina. A importância da pesquisa científica para a qualidade do vinho e as ações para a competitividade vitivinícola estiveram em debate no encontro, que reuniu mais de mil pessoas, entre pesquisadores brasileiros, profissionais e estudantes dos setores de vitivinicultura e turismo, e gestores públicos provenientes de diversas regiões do estado.
— Nossos vinhos estão entre os melhores do mundo, mas falta competitividade da indústria. Acreditamos que, com a troca de experiências com os italianos, que nos trouxeram ótimas ideias, vamos melhorar ainda mais nossa qualidade — afirmou Celso Panceri, presidente do Sindicato das Indústrias do Vinho de Santa Catarina (Sindivinho), entidade promotora do seminário, fruto de uma parceria firmada em 2014 entre o governo estadual, através da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), e a Confederação Geral da Agricultura Italiana (Confagricoltura).
— A Itália é um país que produz vinhos há séculos e possui vasta experiência em relação à qualidade, à inovação, à valorização de produtos regionais e ao enoturismo. Por isso, a presença da delegação italiana tem como objetivo transferir conhecimento e experiências que possam ser alternativas sustentáveis para alavancar a vitivinicultura catarinense — explicou Panceri, salientando que este é o primeiro evento do gênero organizado pelo Sindivinho, entidade que reúne mais de 80 vinícolas, englobando cerca de 3500 famílias que vivem da produção da uva e seus derivados.
Para enólogo do Piemonte, SC deve desenvolver pesquisas para fazer vinho com características próprias
Um dos destaques foi a participação do enólogo Claudio Fenocchio, proprietário da tradicional vinícola Giacomo Fenocchio Azienda Agricola, fundada em 1864, no Piemonte. Ele abordou a vitivinicultura da uva Barbera, típica da Itália, que os produtores catarinenses pretendem implantar no Vale do Rio do Peixe. Outro pesquisador italiano renomado que participou do seminário foi o enólogo Donato Lanati, professor da Universidade de Turim e fundador do Enosis, renomado centro de pesquisa especializado em estudos de DNA nos terrenos destinados à plantação de vinhas e no metabolismo da fruta para produzir vinhos de alta qualidade. Lanati, autor de várias publicações utilizadas em universidades europeias, como o Livro do Vinho, acredita que a bebida faz parte da cultura de uma comunidade agrícola e sua elaboração deve ser a união da sensibilidade com a pesquisa e tecnologia.
— Santa Catarina deve desenvolver vinhos com características próprias, através de mais investimentos em pesquisas — defendeu o enólogo, que ministrou sua palestra diretamente da Itália através da internet.
Lanati, considerado um dos mais renomados pesquisadores do assunto, afirmou que há muita expectativa em relação aos vinhos do Brasil e de Santa Catarina para os próximos anos:
— Acreditamos que, em breve, eles devem conquistar o mercado internacional. O segredo para se ter sucesso na produção de vinho é pensar, em primeiro lugar, no consumidor final — conclui.
Dentre os pesquisadores brasileiros que participaram dos painéis de discussão, estava o gerente de pesquisa da Estação Experimental de Videira da Epagri, Vinicius Caliari, que abordou a evolução da viticultura em Santa Catarina.
— Há muitas técnicas inovadoras adotadas pelos produtores catarinenses, inclusive novos projetos com espumantes, sucos, vinhos licorosos, variedades resistentes a doenças e indicações geográficas com as quais estamos trabalhando — afirmou Caliari, especialista em enologia e professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina.
Uma das pesquisas apresentadas defendeu mais investimentos na produção de suco de uva, cuja demanda cresceu muito nos últimos anos, podendo se tornar uma alternativa de renda para os vitivinicultores.
Editor do Gambero Rosso defende criação de roteiros enoturísticos com estrutura hoteleira na região
Um dos painéis foi mediado pelo jornalista italiano Carlo Ottaviano, especialista em enogastronomia com mais de 40 anos de experiência e editor do Gambero Rosso, considerado o mais importante guia gastronômico do país. Ottaviano recomendou aos produtores catarinenses a criação de roteiros enoturísticos, envolvendo várias vinícolas.
— É importante que as vinícolas sejam polos de atração turística, criando em torno delas ‘estradas do vinho’ com atrações diversas para facilitar o acesso dos turistas, como restaurantes, hotéis, pousadas e museus — frisou Ottaviano.
O painel contou também com a presença do secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, Filipe Mello, que destacou a importância da contribuição dos especialistas italianos.
— Estamos trabalhando para fortalecer os roteiros do enoturismo em Santa Catarina, principalmente nas regiões da Serra, Oeste e Vale do Rio do Peixe, onde temos produtos da vitivinicultura com alto valor agregado, assim como roteiros com paisagens belíssimas — destacou.
A vitivinicultura catarinense
Segundo os dados do Sindivinho, Santa Catarina possui 111 vinícolas. Há 3.500 famílias que trabalham na produção, ao longo de 4.800 hectares de área plantada. A maior parte da plantação concentra-se no Alto Vale do Rio do Peixe, com destaque para os municípios de Videira, Pinheiro Preto e Tangará. Outras regiões de destaque, principalmente pelo enoturismo, são os Vales da Uva Goethe, Vale do Itajaí e os campos de altitude, como São Joaquim, Campos Novos e Caçador. Conforme o presidente do Sindivinho, o estado produz 35 milhões de quilos de uva, dos quais 30% são usados para produzir vinho. Os outros 70% são empregados para fazer geleias e sucos.