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Home > O campo repaginado

O campo repaginado

17 de janeiro de 2013 - Por Comunità Italiana

{mosimage}Novas profissões levam os jovens italianos de volta ao campo. Do sommelier de frutas ao personal trainer de jardins, mais de 100 mil vagas de trabalho devem surgir nos próximos anos no setor agrícola do Belpaese

Do blogueiro de receitas ou do food blogger, todo mundo já deve ter ouvido falar. Mas do personal trainer de jardins ou do sommelier de frutas, certamente não. Novas e curiosas profissões agrícolas, algumas extremamente especializadas, estão levando para o campo jovens empreendedores italianos que encontram no setor agrícola oportunidades cada vez mais raras em outros setores da economia. O avanço da chamada economia sustentável no Belpaese vem abrindo novas oportunidades de trabalho para os jovens no campo, longe das cidades onde a crise aperta, com previsões de índices ainda maiores de desemprego para 2013.
Uma pesquisa realizada pela Confederação dos Agricultores Italianos (Coldiretti) mostra que, pela primeira vez em dez anos, ocorre uma inversão de tendência na Itália: no segundo trimestre de 2012 cresceu em 4,2% o número de empresas agrícolas comandadas por jovens com menos de 30 anos. De acordo com a Coldiretti, a tendência seria o resultado das novas profissões que surgiram nos últimos anos, como sommelier de frutas, agrossorveteiro, personal trainer de jardins, refinador de queijos e degustador de mel, entre muitas outras. São todas profissões ligadas ao meio agrário e à alimentação, que levarão milhares de novos trabalhadores para o campo na Itália nos próximos anos, prevê a Coldiretti.
— A crescente atenção à qualidade da alimentação está favorecendo o nascimento de novas e importantes oportunidades de trabalho na Itália — afirma Sergio Marini, presidente da Coldiretti.
Marini indica que estas novas profissões devem gerar nos próximos anos nada menos que 100 mil oportunidades de trabalho no país. A pesquisa realizada em parceria com o instituto SWG afirma que a maioria dos jovens italianos, diferentemente das gerações que os precederam, não sonha mais com um trabalho em escritórios ou bancos em grandes metrópoles, mas almejam gerenciar uma propriedade de agroturismo no campo. Quase a metade dos entrevistados entre 18 e 34 anos afirma preferir gerenciar uma propriedade agrícola voltada para o turismo rural, contra 23% que gostariam de ser empregados em um banco ou 19% que gostariam de trabalhar para uma multinacional. Quanto às vantagens de um emprego fixo, muitos criticam  atividades que consideram repetitivas e pouco gratificantes quando comparadas com o trabalho no campo. O percentual de italianos que trocariam o atual trabalho para se tornarem agricultores chega a 28%. Os motivos de tal escolha se dividem entre os que pensam que assim levariam uma vida mais saudável (50%), aqueles que se sentiriam mais livres e autônomos (18%) e aqueles que simplesmente teriam prazer em viver no campo (17%). Apenas 7% dos entrevistados acreditam que os ganhos financeiros seriam mais altos no campo.

O agrossorveteiro produz o sorvete mais saudável possível
As novas profissões do sabor vão muito além do simples e árduo trabalho do agricultor. São profissões que incluem atividades especializadas e, ao mesmo tempo, tradicionais, como o agrossorveteiro, como se chamam os produtores de leite que transformam a sua matéria-prima fresca, que acabou de ser ordenhada, em sorvete. Esses sorveteiros orgânicos recebem o apoio de órgãos governamentais, pois, além de criarem uma fonte de renda, produzem iguarias artesanais da mais alta qualidade com ingredientes naturais e saudáveis. No Vêneto, Valentinza Manzati é um exemplo de jovem empreendedora por trás da Azienda Agricola Manzati, propriedade da sua família que, nos últimos anos, decidiu utilizar parte do leite produzido em um novo negócio. O leite fresco é transformado em um fino gelato no “laboratório-sorveteria” instalado nos fundos da pequena propriedade familiar, na província de Verona. Hoje, o local é referência no assunto.
Outra especialização promissora é a do refinador de queijos, um produtor de leite que aproveita a matéria-prima fresca para elaborar produtos refinados através de processos de envelhecimento mais complexos. Assim, refinar um queijo significa levar o produto, após a curagem, a uma qualidade superior e a um sabor típico, adquirindo qualidades exclusivas do território de proveniência. É o trabalho de Renata Madaio, jovem empreendedora da Campânia, atuante na propriedade agrícola da sua família, a Casa Madaio. Na província de Salerno, terra da mais famosa mussarela de búfala da Itália, a jovem convenceu a família de que era preciso fazer algo de novo. Há mais de quatro gerações, a família comprava o leite de búfala dos produtores da região e o transformava em mussarela fresca para ser comercializada. Hoje, este mesmo queijo é levado para os laboratórios da empresa, onde ficam armazenados e são submetidos a tratamentos diários.
— Produzimos queijo de búfala e o deixamos sendo curado nas grutas naturais do Parque Nacional do Cilento. Os tratamentos diários transmitem os aromas do nosso território, ou seja, fazemos curagem com azeite de oliva e vinagre, e temperamos com ervas típicas da região — explica Renata, que recentemente conquistou um prêmio da Coldiretti direcionado às empresas agrícolas inovadoras.

Sommelier de frutas e personal trainer de jardins entre as novas profissões
O sommelier de frutas é uma nova figura profissional na Itália, regulamentada oficialmente pela Onafrut, a associação italiana de degustadores de frutas, criada em 2002. Eles são, na realidade, degustadores especializados que atuam como consultores ou professores. Ensinam as variedades, os graus de amadurecimento, os sabores e os aromas para o correto consumo de frutas. O percurso formativo para alguém se tornar degustador profissional inclui dois cursos de formação básica oferecidos pela própria Onafrut, cujo objetivo é aprofundar os conhecimentos sobre o setor hortifrutícola e sobre as técnicas para a análise sensorial das frutas. Para quem se propõe a realmente a estudar o assunto e adquirir o grau mais alto da categoria, o de maestro degustador, é preciso participar de painéis específicos de degustação até que o hobby possa se transformar em um verdadeiro trabalho.
— As atividades profissionais para os degustadores incluem consultorias a empresas e redes de distribuição de frutas, como centros de pesquisa, revistas técnicas, cooperativas agrícolas e também escolas, com as quais a Onafrut mantém o projeto FruttAScuola, com aulas específicas para crianças — explica o degustador Cesare Gallesio, secretário da Onafrut e atuante na região do Piemonte. Ele conta que, por enquanto, ninguém consegue se manter apenas com a atividade de degustador, mas que aumentam cada vez mais as ocasiões em que são requisitados.
A maior parte dos degustadores de frutas na Itália é constituída por técnicos e empreendedores do meio rural, provenientes de diversas categorias profissionais. Os jovens atuantes na profissão, que aumentam a cada dia, segundo Gallesio, são geralmente provenientes de percursos de estudos de matriz agrícola, como agrônomos, técnicos agrícolas e peritos agrários.
— Muitos jovens estão se tornando agricultores na Itália, já que este é o único setor produtivo que não está em crise — garante Danielle Taffon, responsável pelo projeto Hortas Urbanas da Fundação Campagna Amica, uma iniciativa que, além de sustentar uma rede nacional de apoio às pessoas interessadas em implantarem hortas e jardins urbanos, é diretamente responsável pela criação de uma figura profissional em franco crescimento na Itália: a de personal trainer de hortas e jardins.
A tarefa desse profissional é auxiliar quem pretende implantar uma horta na cidade ou preparar uma varanda ou terraço. Trata-se de um agricultor que oferece consultoria e auxílio àqueles que amam plantas e ervas aromáticas, porém sabem pouco do mundo agrícola. A profissão nasceu da crescente busca das pessoas por plantas para crescerem em casa, nas grandes cidades. O projeto também difunde o conceito de horta comunitária e trabalha junto às prefeituras a fim de obter terrenos para a comunidade.
Conforme explica Taffon, os personal trainers de jardins são normalmente agrônomos de formação ou produtores agrícolas.
 — É um mercado com enormes potencialidades, já que o trabalho difere do de jardineiro genérico — salienta Taffon, explicando que as hortas feitas com auxílio de um personal trainer do projeto Hortas Urbanas entram em uma rede nacional de apoio e consultoria, onde os membros trocam opiniões e dividem problemáticas e soluções. Assim como ocorre com os sommeliers de frutas, também a maior parte dos personal trainers de hortas e jardins ainda não consegue fazer desta atividade a sua principal ocupação.
— Aos poucos eles conseguirão. Muitos precisam levar adiante a sua própria propriedade agrícola — salienta Taffon.
É o caso de Pietro Hausmann, 30 anos, que já trabalhou nos Estados Unidos como consultor de produtos típicos italianos. Ele decidiu voltar à Itália e se dedicar ao seu grande hobby: a jardinagem. Hoje, ainda atua como consultor para uma distribuidora de alimentos e divide o tempo entre os cuidados com a sua terra, um hectare de jardim ao lado de casa entre o Lácio e a Úmbria, e a consultoria que presta à rede Hortas Urbanas.
— Meu hobby se tornou parte do meu trabalho como personal trainer — afirma Pietro, há dois anos no setor.
O pacote completo do trabalho de Pietro como personal trainer de hortas prevê cinco momentos: a visita gratuita de avaliação, a organização do espaço, o plantio das plantas, a visita de controle e a colheita. Tudo realizado em forma de aulas para os participantes. A maior parte dos clientes quer saber como tornar a horta o mais diversificada possível. Para terraços e sacadas, o agricultor costuma adotar soluções como vasos de diversas dimensões e sacos de fibras que são pendurados nas paredes e recebem mudas de ervas aromáticas e pequenas flores. 
— O futuro no campo é um futuro de sacrifícios, mas também de muitas satisfações. Os jovens estão prontos para esta vida dura? — questiona Bruno, que defende novas formas de agricultura na Itália.
Ele aposta na agricultura multifuncional, ou seja, fazendas didáticas, agroescolas, agroturismos e hortas comunitárias como soluções para o futuro, pois acredita que “ao trabalho da terra, se somarão outras atividades que repovoarão os campos com os jovens”.

Os novos alquimistas do campo entre o cultivo de ervas e as vendas online
Alquimista do campo é o nome genérico para a profissão de produtor de ervas e plantas medicinais que transforma ervas em valiosas bebidas destiladas através de enormes alambiques e muitos experimentos. No interior da Emília-Romanha, o jovem Saverio Denti, de 28 anos, aproveitou a propriedade agrícola familiar, que já produzia licores a partir das ervas aromáticas, para realizar um sonho: recuperar o absinto tão amado pelos poetas e tão buscado ao longo dos séculos através de experimentos com essências e ervas. Embasado na sua monografia da faculdade de Farmácia, intitulada A fada verde: a verdade sobre o absinto, Saverio hoje é o produtor e empresário por trás da Mistico Speziale, uma empresa que produz um absinto artesanal de alta qualidade, único do gênero na Itália, composto por ervas como anis verde, funcho, artemísia, melissa e hissopo. Nos laboratórios de Saverio, as ervas cultivadas passam por processos rigorosamente manuais, seguindo receitas do século XIX, e atravessam períodos de secagem e imersão em enormes alambiques com álcool a 85 graus.
A ideia de iniciar o próprio negócio surgiu após terminar a faculdade, quando Saverio não encontrava um trabalho satisfatório.
— Tinha à disposição o terreno, então decidimos tentar por este caminho. Fixamos um objetivo: produzir um produto de alta qualidade, em quantidades limitadas, seguindo minuciosamente todas as fases produtivas, da germinação das plantas ao engarrafamento da bebida — explica o jovem.
O cultivo das ervas e todo o processo de produção da bebida é feito de modo manual e ecológico, sem o uso de agrotóxicos ou pesticidas. A empresa de Saverio já realiza vendas online.
— As vendas através da internet são um instrumento fundamental para qualquer empresa, especialmente para produtos como os nossos — afirma o jovem empreendedor, que admite que este não é melhor momento da economia italiana. Apesar da crise, ele diz que segue adiante com as vendas, embora esteja ainda no início da atividade, precisando divulgar mais o produto.
Saverio também acredita no futuro agrícola para os jovens na Itália.
— A agricultura é um dos poucos setores que, mesmo com a crise, consegue avançar, porque a terra é o recurso principal para todos nós. É o bem mais importante que temos e deve ser valorizado e protegido da melhor maneira possível — salienta.
O alquimista revela a sua fórmula de negócio: o futuro para as pequenas propriedades agrícolas é “fechar a cadeia produtiva, ou seja, não se limitar a cultivar, por exemplo, uma fruta, mas tentar transformá-la em algo pronto para ser comercializado, com foco na qualidade e na particularidade do próprio produto”. 
Saverio, que mora a poucos quilômetros da sua propriedade, na província de Reggio Emilia, afirma que possui muitos amigos da sua idade que trabalham em ramos como jardinagem, viticultura ou no cultivo de verduras, frutas e cereais, e garante que não conseguiria viver em uma grande cidade.
— Como nasci aqui, não conseguiria viver em uma cidade. O campo tem os ritmos mais lentos, mais humanos — resume.
O cervejeiro Km Zero é o título do cultivador de cereais que transforma os seus próprios grãos em uma cerveja artesanal de qualidade. Nas montanhas de Avellino, na região da Campânia, Vito Pagnotta aproveita a propriedade da sua família, produtora de grãos, para colocar em prática as técnicas que aprendeu diretamente na fonte, com os mais famosos maestros cervejeiros da Bélgica. Após terminar os estudos em Agronomia com especialização em cereais, que incluíram um mestrado em empreendedorismo agrário e cursos de especialização no Centro Italiano de Pesquisa sobre a Cerveja (CERB), Pagnotta partiu para as terras belgas, onde aprendeu na prática como se produz a melhor cerveja do mundo. Voltou para a sua pequena Monteverde, com menos de mil habitantes, e transformou a propriedade familiar de três gerações, acostumada a fornecer farinha para pães e pizzas, em uma famosa cervejaria artesanal italiana.
— Decidimos iniciar o trabalho com a cerveja após avaliarmos bem as matérias-primas produzidas em nossa propriedade, o potencial do nosso projeto e a conclusão dos meus estudos — afirma Pagnotta, cujos clientes principais são restaurantes, pizzarias, bares e compradores diretos em diversas regiões italianas do sul.
Para o cervejeiro, a análise da Coldiretti está corretíssima.
— No setor agrícola existem muitas possibilidades para os jovens que criam coisas novas, novos modos de produção, novos produtos que satisfazem as exigências dos consumidores — confirma.
Ele tem muitos amigos da sua idade que vivem e trabalham no mundo rural. Eles produzem artigos como vinhos, mel, castanhas, salames e presuntos, e “dividem as alegrias e tristezas de uma propriedade rural nos dias de hoje”. Da plantação da cevada ao fechamento das garrafas, tudo passa pelo seu crivo — e este é o grande mérito da sua produção.
— É uma cerveja pura, com os sabores da mãe natureza — conclui. 

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.