Comunità Italiana

O cavalo e o tridente

{mosimage}Exposição no museu casa Enzo Ferrari reúne 19 automóveis entre os mais representativos da Ferrari e da Maserati, concorrentes mundiais que nasceram na mesma região italiana: a Emília-Romanha

A Ferrari e a Maserati competem entre si desde que vieram ao mundo. Os bólidos de Enzo Ferrari e de Adolfo Orsi parecem que foram criados à imagem e semelhança do outro no que diz respeito ao design e à potência dos motores. A leal concorrência pelo carro mais bonito e eficiente se traduziu em corridas com modelos únicos que escreveram a história do automobilismo mundial. Para celebrar esta competição eterna dentro e fora das pistas, as duas marcas decidiram realizar uma exposição com os automóveis que ficaram registrados na memória coletiva dos apaixonados pelo mundo das quatro rodas. O grid de largada para esta viagem no tempo é o interior do museu Enzo Ferrari, no coração de Modena.
O amplo espaço criado ao lado da casa natal de Enzo Ferrari abriga uma coleção sem precedentes que reúne o melhor dos colecionadores, os quais, ao longo dos anos, leilão após leilão, juntaram em suas garagens os carros que mais fizeram sucesso. O cavalo empinado e o tridente, os dois símbolos máximos da velocidade e da beleza, estão estacionados nas plataformas de plexiglass. Ao todo, são 19 bólidos da Ferrari e da Maserati. Cada um representa um momento especial. Da Fórmula Um às Mil Milhas, das 24 Horas de Le Mans a Indianápolis, os dois carros desafiaram em duelos únicos a perícia de quem estava ao volante e a resistência dos motores em circuitos espalhados por todo o mundo.
Ali, estão alinhados uma Ferrari 340 MM, uma Maserati 250F, a Ferrari 50TRC e a Maserati A6 GCS/53. Eles são alguns dos 19 carros expostos que contam as aventuras de Enzo Ferrari e dos irmãos Maserati, antes, e de Adolfo Orsi, depois. A história destes pilares da odisseia italiana começa com a entrada em cena de Enzo Ferrari na Alfa Romeo. Na época, metade dos anos 1920, a Ferrari disputava com a Maserati, fábrica criada em 1914, em Bolonha (e transferida a Modena em 1937) por Alfieri Maserati, da Isotta Fraschini. Dos cinco empregados, dois eram irmãos de Alfieri, Ettore e Ernesto Maserati. A competição entre a Maserati e a Ferrari começaria para valer apenas após a saída de Enzo da Alfa Romeo e a fundação da sua fábrica em 1939. Antes, a escuderia já existia dentro da estrutura da Alfa Romeo, porém, não produzia seus próprios carros.
A linhagem nobre desses automóveis esportivos e de luxo ganhou fama internacional e catapultou a cidade de Modena no Olimpo dos carros mais desejados do mundo. Os carros citados acima representam a ponta do iceberg de uma mostra rara. A Ferrari 340 MM foi um carro de corrida produzido em 1953, em apenas quatro exemplares. O modelo exposto venceu a Volta da Sicília e chegou a bater recorde de velocidade ao atingir 142km/h. Nem todos os carros exibidos foram escolhidos por seus resultados. A Maserati tipo 63 Birdcage ganhou um lugar no panteão dos eleitos pelo seu design futurístico para a época. O chassis tubular projetava o modelo à frente do seu tempo, ainda que na corrida cronométrica com os concorrentes deixasse a desejar. Já a Ferrari 500TRC foi construída em 1957 para fazer frente ao domínio dos carros da Maserati na competição World Championship Sport Prototypes. O chassis era tubular em aço e a carroceria em alumínio. O carro tinha sido desenhado pelo projetista Scaglietti e chegou a marcar 245km/h.
Quem pensa que a admiração pelos carros esportivos do passado é apenas um exercício de nostalgia e contemplação se engana. Eles são investimento seguro para uma aplicação financeira. Uma pesquisa do Wall Street Journal revelou que um carro antigo de Maranello, uma Ferrari, garantiu, no ano passado, uma valorização de 28%, em média. Segundo a bíblia dos automóveis históricos — o Classic Car Auction Yearbook — dos cem leilões mais concorridos, em 37 eventos, foram vendidos 35 modelos de Ferrari, avaliados em mais de um milhão de euros. É o investimento no passado para garantir o futuro. Naturalmente, os carros exibidos no museu Casa Enzo Ferrari não estão à venda. Mas até março de 2013 — quando termina a exposição — quem sabe, uma oferta irrecusável não poderá mudar o destino, ou melhor, a garagem de um desses carros.