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O desafio de manter-se viva

16 de junho de 2014 - Por Comunità Italiana
O desafio de manter-se viva

O desafio de manter-se vivaTestemunha ainda viva do cotidiano do Império Romano, Pompeia se mantém de pé com dificuldades, em meio a problemas com alagamentos e desabamentos que comprometem sua preservação

As nuvens pesadas encobrem o vulcão Vesúvio. Mas desta vez elas são de chuvas e não de cinzas, como ocorreu no ano de 79 d.C. O tempo incerto não tira o entusiasmo dos turistas. Eles chegam em grandes grupos, desembarcam do trenzinho que gira ao redor das cidades aos pés do velho vulcão, como Torre Greco, Torre Annunziata e a própria Pompeia, centro agrícola do antigo Império Romano. A sua estação é o portal do tempo que atravessa quase dois mil anos de história e é como se os ponteiros dos relógios dos turistas andassem para trás, em uma época remota. De um momento para outro, os visitantes se tornam figurantes de um espetáculo monumental e cinematográfico. Um formigueiro humano invade as ruas da cidade de Pompeia, dois milhões e meio de pessoas passam por aqui, todos os anos. E tem sido assim desde a descoberta do sítio arqueológico, no fim do século XIX. Casas, palácios, praças e templos renasceram das cinzas, literalmente. As escavações revelariam ainda como era a vida de seus habitantes e como foram seus últimos momentos sobre a terra antes que a nuvem de fogo, lava e gases se abatesse sobre a população, na manhã de 24 de agosto do ano de 79. Era verão. No dia seguinte, uma violenta explosão de cinzas ardentes e gás tóxico exterminou o que ainda se movia. Foi o golpe de misericórdia do vulcão que devastou a cidade e a soterrou com seis metros de material lávico.
Cada visitante leva para casa um pedacinho de Pompeia. Todos estão armados com máquinas fotográficas, tablets e outras geringonças para capturar uma cena do lugar. O que fizeram as cinzas, na época, fazem os chips, hoje. A vida como ela era, antes da impressionante erupção, que surpreendeu os moradores em plena noite, pode ser revisitada em todo o seu esplendor. E não existe outro lugar no mundo que tenha tido uma preservação, por parte da natureza, tão completa e eficiente, talvez apenas o que as geleiras dos pólos ainda escondem parte da história do planeta dos olhos dos homens. O homem escavou 44 hectares de terra (ainda faltam 22), e trouxe de volta à luz um passado soterrado, inteiro e esquecido. Os afrescos das casas, as decorações dos mosaicos nos pavimentos, enfim, tudo parece ter voz, uma tênue voz que ecoa já faz dois milênios. E pensar que nada se construía pensando em uma geração além daquela dos filhos e, talvez, dos netos. Ou seja, algo para durar cem, 200 anos, nunca dois mil.
Depois da descoberta, a cidade foi condenada para sobreviver a si própria,  e deve durar para além da eternidade. Ela se transformou em um grande filme, projetado ao ar livre. Mas tudo ali é real. Os tijolos das casas, as caneletas das águas das saunas públicas e, principalmente, os personagens principais — os moradores — com suas expressões de horror carbonizadas pela asfixia provocada pela nuvem tóxica e quente que incinerou e moldou os corpos. As cinzas ardentes “congelaram” no tempo até mesmo as pregas das roupas, as sandálias, os cintos. É como se os personagens reais e mortos nunca tivessem saído de cena e continuassem a velar as suas vidas, imobilizadas pela ação violenta da natureza. Uma apurada técnica de modelagem permitiu recompor os corpos. Os arqueólogos preencheram com gesso o espaço interno e vazio deixado pela decomposição das matérias fluidas do corpo humano. E moldaram os rostos e os gestos das vítimas a partir das cinzas endurecidas externamente. Elas serviram como um molde, como um decalque que conta com detalhes a reação dos habitantes diante do cataclisma que chegou enquanto eles dormiam profundamente, sem chance de fuga.
 
Projeto da Unesco investiu mais de cem milhões de euros na preservação do patrimônio da humanidade
Hoje, outro cataclisma ameaça Pompeia. Além da iminência e do risco de uma nova erupção (o último sinal de vida foi o lançamento de cinzas em 1944), a cidade sofre com as intempéries e a falta de manutenção, principalmente. O esqueleto urbano é frágil. A chuva quando cai penetra nas fundações das casas e, durante a evaporação do subsolo, carregam consigo os materiais usados para manter os tijolos unidos. Resultado: pequenos desmoronamentos estão na ordem do dia. A ausência de uma eficaz rede de drenagem amplia o problema. Uma precipitação de poucos minutos provoca poças de água em todos os lugares e esquinas, as ruas se transformam em córregos e, lentamente, Pompeia vai se desconstruindo, se desfazendo, se desmanchando. As interdições estão por todas as partes, com alambrados aqui e escoramentos ali. Diante de tanta beleza e história, os turistas nem notam e se satisfazem em entrar em pouco, porém bem preservados domus. Na pressa de tentar ver tudo, eles não percebem a presença dos técnicos restauradores que tentam recompor o quebra-cabeça pompeiano, encaixando um pedaço de pedra num muro, por exemplo, em uma tentativa de devolver o esplendor da cidade. Mas o time da manutenção é pequeno diante de tanto trabalho. Quem tira as gramas selvagens que se insinuam por entre as pedras dos caminhos? Que cobertura se pode dar a uma casa construída dois mil anos atrás, sem tirar o seu fascínio?
— Os últimos desmoronamentos, depois das chuvas do inverno, levaram a uma situação crítica. Tivemos problemas, mas, com o Grande Projeto Pompeia, vamos resolver os principais problemas. Vamos canalizar a água que entra na zona não escavada e corre para aquela escavada. Estamos planejando a construção de uma rede hidrológica para minimizar os efeitos da erosão provocada pelas chuvas. Um sistema de satélite vai monitorar os pequenos movimentos de terra e isso vai nos permitir uma intervenção eficiente nas zonas de risco. Além disso, a prevenção vai ser reforçada, pois estamos contratando cerca de 30 técnicos. Lembramos que tratamos de uma cidade morta como se fosse viva. Os 44 hectares de ruínas que, fisiologicamente, tendem a desaparecer, estão sendo colocados em segurança. Com uma restauração capilar, tudo vai se normalizar até 2015 — afirma o superintendente Massimo Osanna.
Tudo faz parte do projeto Grande Pompeia, da Unesco, que está investindo mais de cem milhões de euros na preservação deste patrimônio da humanidade. E quer ver os resultados. Os trabalhos de restauração acontecem em diferentes zonas do sítio arqueológico. As casas dei Dioscuri, del Criptoportico, del Marinaio e de Sirico são algumas das residências com canteiros abertos para as obras. As casas de Marco Lucrezio Frontone, com belos afrescos de Rômulo e Remo e, finalmente, de Trittolemo, já foram reabertas ao público como um belo presente aos visitantes durante a Páscoa. Algumas destas reformas foram realizadas com recursos dos fundos da Superintendência e outras estão incluídas no projeto da Unesco.
O problema se repete, em menor escala, na vila de Oplontis, em Torre Annunziata, distante poucos minutos de Pompeia. Suas ruas de pedras vulcânicas conduzem a um sítio arqueológico da vila de Pompea, esposa do imperador Nero. Situada na então periferia da cidade, a vila sofreu menos a erupção do Vesúvio. Já naquela época, os ricos habitavam longe da confusão da cidade, em tranquilos subúrbios. Foi a salvação da vila e de seus impressionantes afrescos e mosaicos que revelam um faustoso estilo de vida. Salões com as paredes transformadas em quadros estão desenhados com cenas do cotidiano, festas e animais exóticos de outras paragens, como a caça de um leopardo. Assim como as pinturas das cavernas dos homens pré-históricos, estes afrescos trazem para o presente as vozes, os gestos e os hábitos da elite da sociedade romana. Passear pelas alas, corredores, salas, quartos, cozinha, sauna e piscina de Oplontis é como entrar em um filme histórico surreal: quando se olha ao redor, lá estão os modernos prédios, altos como dentes afiados querendo morder todo os arredores. Como em Pompeia, um terço de Oplontis continua embaixo da terra. Talvez seja a melhor proteção contra esses tempos difíceis.  

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.