ComunitàItaliana – Como o senhor recebeu a notícia da nomeação para Arquidiocese do Rio de Janeiro?
Dom Orani – Com surpresa e, ao mesmo tempo, muito respeito e responsabilidade pela missão que Deus, através das mediações da Igreja, me confia. Conheço o Rio de Janeiro como todas as pessoas do Brasil conhecem, porém pretendo conhecer agora em profundidade e, principalmente, a Igreja do Rio de Janeiro, sua missão e sua história.
CI – Que problemas acredita que serão os mais desafiantes no Rio?
DO – Só mesmo conhecendo profundamente. A imprensa destacou muito, em perguntas, a questão da violência, que não é exclusividade do Rio. Creio que encontrarei tudo o que existe no Brasil, pois acredito que o Rio seja um resumo do Brasil.
CI – Problemas como a falta de segurança e garantia de direitos básicos dos cidadãos resultaram em diversas manifestações na gestão Dom Eusébio. O senhor acredita que a Igreja possa se aproximar da política sem que haja um conflito?
DO – A Igreja tem suas próprias convicções e liberdade de pensamento e de direcionamento. Porém,no trabalho social, temos consciência de que são necessáriasparcerias e um trabalho com todos, inclusive com os governantes,e também outras igrejas, religiões, associações, para um trabalho mais eficaz.
CI – O que o fez seguir a vida religiosa?
DO – A vocação é, e sempre será, um mistério. Porém, posso ver ossinais desde o início na família. Depois, na participação na paróquia de São Roque, em São José do Rio Pardo. Mais tarde, o dom que o Senhor colocou no profundo do coração para deixar tudo e segui-lo no serviço aos irmãos e
irmãs. A decisão definitiva desse passo foi dada quando estava cursando o atual ensino médio, na época, curso colegial.
CI – Recentemente a Igreja foi muito criticada pela atuação nocaso da menina de 9 anos vítima de abuso pelo padrasto no Recife. O senhor acredita que a postura da Igreja diante dos problemas do século 21 deva sofrer mudanças?
DO – A Igreja tem uma responsabilidade que não depende da votaçãoda maioria e sim de princípios que marcam a sua vida. É por issoque ela é defensora da vida em todas as etapas e situações. Como tem a missão de evangelizar, sabe que o mundo futuro depende muito das posições que hoje tomamos. Acredito que neste caso a pergunta mais importante e que não foi feita é: porque esses fatos ocorre me porque estão aumentando?
CI – Depois do fenômeno Padre Marcelo Rossi, tornou-se públicaa existência de outras correntes de evangelização na Igreja. Atualmente, o sucesso do Padre Fábio de Melo tem sido apontado como canal para aproximação com os jovens. Como o senhor avalia a influência e os avanços desses movimentos na constituição da assembléia hoje?
DO – Cada pessoa tem seu carisma e é muito bom ver as pessoas convictas e coerentes serem canais de graça de Deus e conseguirem levar Jesus Cristo a todos, em especial à juventude. Todos esses irmãos necessitam deum acompanhamento próximo para que, na unidade da Igreja, sirvam com alegria e disponibilidade ao povo de Deus.
CI – O senhor concorda que a Igreja passa por um momento de crise nas vocações?
DO – Na minha experiência acho que sucede exatamente o contrário.Apesar de toda propaganda contra a Igreja Católica e apesarda divulgação de fatos isolados como se fossem comuns e uma regra, vejo muitos jovens pedirem o ingresso na vida consagrada e sacerdotal. O que é necessário é um acompanhamento personalizado, pois hoje o jovem ao entrar traz consigo muito mais questionamentos que no passado. Hoje, existem outros tipos de pessoas consagradas que estão assumindo um belo trabalho na Igreja enquanto que as antigas formas de consagração passampor um amadurecimento e redescoberta do carisma.
CI – “Para que todos sejam um” é o lema de seu episcopado. O queo senhor acredita que seja necessário para que essa seja uma máxima entre os católicos?
DO – É para todos os cristãos, pois é uma palavra exigente de Jesus no Evangelho. Para que o mundo creia. Ele nos pede a unidade, que não significa uniformidade, mas unidade na diversidade, no respeito às diferenças, mas acolhendo- nos e aceitando-nos uns aos outros.
CI – O senhor preside a Comissão Episcopal para a Cultura, Educaçãoe Comunicação Social. Que trabalhos foram realizados comêxito até aqui e quais os planos da comissão para os próximos anos?
DO – Esta é uma resposta que exigiria muitas páginas, pois somoscinco bispos dessa comissão que realiza uma diversidade de trabalhotanto aqui no Brasil como nos seus relacionamentos com o CELAM(América Latina) e com os Pontifícios Conselhos. É uma comissãode fronteira e de diálogo com a sociedade, além do trabalhocom os grupos e meios da igreja católica. Acredito que são muitosos êxitos e o plano bienal da CNBB aponta ainda mais trabalhos paraos últimos dois anos que ainda nos restam para essa missão.
CI – O senhor esteve em Roma para um seminário sobre Comunicação no mês passado e, no iníciodo ano, a Igreja lançou seu canal no Youtube. Como a Igrejapercebe as novas tecnologias e de que forma sua passagem pelo Rio de Janeiro pretende privilegiar essa área?
DO – O encontro em Roma foi para os bispos responsáveis pelosetor comunicação das conferências episcopais e estivemos em quase 90 conferências representadas dos cinco continentes. A presença da Igreja não se resume nos meios de comunicação, mas é uma preocupação de trabalhar o processo de comunicação do ser humano que é muito mais amplo. A presençano Youtube demonstra a presença em todos os novos e modernos meios. É impossível trabalhar hoje na evangelização sem utilizara mídia e, em especial, as assim chamadas novas mídias.
CI – Além desse compromisso, a passagem por Roma teve algum envolvimento com sua posse?
DO – Esse encontro do Pontifício Conselho de Comunicações já estava agendado desde o ano passado, por isso nada teve a vercom a minha nomeação. Porém, aproveitamos para conversar com alguns amigos em Roma sobrea minha missão.
CI – O senhor tem ascendência italiana?
DO – Meu pai veio da Itália com meus avós e seus irmãos, quandotinha 5 anos. Na Itália temos muitos familiares, porém distantes,pois meus avós vieram ao Brasil com toda a família. Eles são daRegião de Abruzzo, entre L’Aquila e Rieti. Algumas vezes encontrei familiares na Itália e até celebrei em um encontro da família, numdesses anos. Normalmente, quando vou à Itália, a visita é maisa Roma onde tenho as reuniões e os trabalhos. Porém, é um paísque sempre nos reserva belos locais para visitar e nunca terminamosde admirar as suas belezas.
CI – Como percebe a participação da comunidade italiana na igreja do Brasil?
DO – A Igreja do Brasil deve muitas características aos imigrantes italianos que, vindo para cá, trouxeram a sua religiosidade e seu entusiasmo católico. No passado, os italianos foram presenças marcantes nesse trabalho. Hoje, muitos dos seus descendentes estão presentes na Igreja e trazem no coração o exemplo de seus antepassados. Muitas devoções e santos e muitas maneiras de celebrar se deve a comunidadeitaliana.