Último patriarca de uma geração de estilistas que inventou a moda italiana como a conhecemos hoje, Ottavio Missoni faleceu em maio, aos 92 anos. Ele deixa para trás não apenas um legado único na moda mundial, mas também um drama familiar. Com a morte do fundador, a mítica grife Missoni permanece sob o comando da família, mas continua envolvida no mistério do desaparecimento do filho mais velho de Ottavio, que atuava como diretor comercial da marca, Vittorio, vítima de um misterioso acidente aéreo no mar da Venezuela em janeiro deste ano. Amigos da família afirmam que, desde então, o patriarca não havia se recuperado, tanto que nunca comentou publicamente qualquer assunto referente ao desaparecimento do filho. A tragédia mudou a vida de todos na família Missoni, que se dividiram entre as buscas pelo corpo e as atividades da empresa. O irmão de Vittorio, Luca, diretor criativo da empresa, continua diretamente envolvido nas atividades de busca do corpo na Venezuela. Até agora, foram encontrados apenas pedaços do avião bimotor que levava o herdeiro Missoni e sua esposa de volta a Caracas, após um período de férias na ilha de Los Roques. No funeral de Ottavio, realizado na pequena Sumirago que, desde 1969, é o quartel-general da grife e da família, na Lombardia, compareceram em peso amigos do mundo da moda, a exemplo da estilista Donatella Versace, que não hesitou em afirmar que “o seu legado é tudo, ele era a moda”. Ou como Carla Suzzani, diretora da Vogue Itália, que o intitulou nada menos que “fundador do made in Italy”.
A história da grife Missoni continua até hoje a fascinar o mundo, pois é emblemática de um modo italiano de ser empreendedor. Nascido e criado na região da Dalmácia, hoje um território croata, Ottavio foi atleta profissional na juventude, tendo integrado a seleção italiana de atletismo durante as Olimpíadas de Londres de 1948, quando conheceu sua esposa e companheira de vida e de trabalho Rosita, com quem logo iniciou uma pequena confecção de roupas esportivas. Do pequeno atelier no interior da Lombardia, o casal começou uma história que seduziria o público da moda e celebridades como Jackie Kennedy e Kate Middleton pelos próximos 60 anos. A marca registrada da Missoni — as malhas em zigue-zague — começou a partir de uma velha máquina de xales pertencente à família de Rosita, a qual, nas mãos do artesão Missoni, começou a produzir vestidos e peças finas. Em 1958, uma encomenda da cadeia de lojas Rinascente marcou o início do crescimento da Missoni. Em 1969, o casal construiu a casa e a fábrica em Sumirago, que hoje abriga 250 fiéis funcionários.
O sucesso mundial começou nos anos 70. Revistas de moda, desfiles e exposições em museus apresentavam as estampas Missoni como obras de arte, logo consideradas uma “nova interpretação gráfica” da moda. Com as lojas em Nova York e Milão, veio a conquista do mundo através de uma explosão de cores, traços, estampas, geometrias e um mix de tecidos diversos, apelidada pelos americanos de “put together”. Nos anos 90, os três filhos do casal assumem a direção deste gigante da moda, mostrando mais uma vez o caráter tipicamente italiano e familiar da grife. Hoje, uma neta do casal, Margherita, viaja o mundo como embaixadora da marca e designer de acessórios.
O fundador da Missoni que, até o fim, considerava-se um artesão da moda, deixa nas mãos da família um império que fatura anualmente 70 milhões de euros, com mais de 40 lojas espalhadas pelo mundo. Além das coleções prêt-à-porter e alta costura, possui linhas de perfumaria, casa e decoração, e ainda hotéis na Escócia e no Kuwait. No Brasil, a grife inaugurou suas primeiras lojas em 2009, em São Paulo e em Brasília. Em 2011, com um desfile na Embaixada italiana que contou com a presença de Vittorio Missoni, lançou a sua linha jovem M. Missoni, atualmente com lojas próprias no Rio e em São Paulo. Já a Missoni Home conta com uma flagship também na capital paulista.