Após as eleições, desafio agora é mostrar a utilidade do organismo à grande maioria dos cidadãos que não participaram do pleito
No Brasil, o número foi superior à média mundial. A Embaixada italiana em Brasília informou que recebeu 24.454 cédulas, correspondentes a 8% dos eleitores aptos a votar, embora estivessem registrados nas listas eleitorais 12,5% dos votantes, ou seja, cerca de 37 mil pessoas. O conselheiro consular da Embaixada, Gabriele Annis, avalia positivamente o novo método de votação, pois “responsabiliza o eleitor e faz com que vote conscientemente apenas aquele que realmente tem a intenção”. Annis o define um método como absolutamente democrático. Além disso, a modalidade diminui as despesas de envio do material eleitoral, que agora só é enviado a quem efetivamente quer votar, ressalta. De opinião contrária é o presidente da Confederação dos Italianos no Mundo (CIM), Angelo Sollazzo, que se posicionou contra o novo sistema de votação e o definiu inconstitucional por violar os direitos consagrados no artigo 48 da Constituição italiana (“o voto é pessoal e igual, livre e secreto”).
— Por serem eleições de um organismo previsto na lei, há obrigação de respeitar as normas constitucionais no caso de eleição, ou seja, voto livre, igual e secreto. O que poderia acontecer se esse sistema fosse adotado para as eleições nacionais? Por outro lado, o percentual catastrófico em alguns países demonstra claramente a inaplicabilidade e o absurdo de tal sistema — frisa Sollazzo à Comunità.
Os conselheiros dos sete Comites tomam posse
A partir desse ano, pela primeira vez, os italianos residentes na circunscrição de Brasília escolheram os conselheiros do próprio Comites. Entre os 16 candidatos da chapa DIM Italiani in Brasile Democratici nel Mondo — a única que se apresentou — 12 saíram-se vencedores e foram os primeiros a se reunir e a escolher o seu presidente, Claudio Zippilli. No estado com a maior comunidade italiana do país, São Paulo, foram eleitos 13 conselheiros do DIM e 5 do CTIM Comitato Tricolore per gli Italiani nel Mondo. O Comites de São Paulo tem as mulheres no comando, com 11 conselheiras. Como presidente, foi escolhido Renato Sartori, de 35 anos — o candidato mais votado em todo Brasil. Devido ao número de inscritos no AIRE na circunscrição de São Paulo ser maior, foram empossados 18 conselheiros, enquanto nas outras foram 12. A chapa DIM se apresentou também nas circunscrições de Rio e Recife.
Nos estados fluminense e capixaba, pela primeira vez, houve apenas uma lista para concorrer à disputa eleitoral. “O novo Comites não será uma entidade fechada; pelo contrário, tentará facilitar o trabalho voluntário e a participação da comunidade”, declaram em uníssono os conselheiros recém-eleitos. Em Minas, concorreu uma única chapa, Itália Viva, onde nem todos os candidatos eram rostos novos, como a última e atual presidente do Comites, Silvia Alciati, que foi a mais votada com 487 preferências. Na circunscrição do nordeste, foram eleitos 12 conselheiros da única chapa que estava concorrendo, a DIM.
No Comites gaúcho, a lista Italia nel Mondo elegeu nove conselheiros de 12, deixando ao Maie-Movimento Associativo Italiani all’Estero três vagas. A presidente nomeada é Rosalina Zorzi. O Comites de Porto Alegre, como o de Belo Horizonte, tem paridade de gêneros entre os conselheiros.
Em Curitiba, a disputa eleitoral foi acirrada entre as duas chapas, a Tutti Insieme, que unia três diferentes correntes ligadas aos movimentos associativos, e a Movimento Passione Italia, criado pela deputada ítalo-brasileira Renata Bueno. Tutti Insieme conquistou oito vagas. A outra chapa, liderada pela vice-governadora do estado de Paraná, Cida Borghetti, elegeu quatro conselheiros. O conselheiro do Cgie, Walter Petruzziello, foi o candidato mais votado com 2.019 preferências. Ele agradeceu aos eleitores que lhe deram mais do que o dobro de votos da vice-governadora.
— Este resultado mostra que a coletividade italiana não quer que a política local se confunda com os nossos representantes — declarou o presidente recém-eleito.
Escassa participação preocupa os representantes da coletividade italiana
As eleições anteriores (2004) terminaram com a participação de 34% dos eleitores aptos a votar, contra 20,5% da consulta anterior de 1997. Uma grande diferença comparada com as recentes eleições que tiveram um baixo fluxo de participação. Ao final, foram poucos os cidadãos que votaram. A causa talvez tenha sido a inscrição prévia nas listas eleitorais; ou também a falta de interesse geral acompanhada da escassa divulgação das eleições. O deputado eleito no exterior, Fabio Porta, cita três causas: a decepção causada pelas contínuas prorrogações e o cansaço dos órgãos eleitos há muitos anos; o novo sistema que tinha que ser anunciado com mais antecedência e precisava de mais recursos para a divulgação; e a decisão equivocada de adiar de novembro para abril a votação, que causou uma maior taxa de abstenção entre aqueles que já estavam inscritos. Apesar disso, o deputado do Partido Democrático se declara satisfeito com o fato de que muitos jovens e mulheres passaram a fazer parte do Comites no Brasil e no mundo.
— É necessário fazer uma reflexão. Por que, na América do Sul, a percentagem dos inscritos é cerca de 10% e na Europa é inferior a 5%? E depois, fazer uma segunda reflexão sobre a atual necessidade de reformar e adaptar esses organismos (Comites e Cgie) de acordo com a época para torná-los mais relevantes para a realidade dos italianos residentes no exterior, assim como as reformas institucionais que nos próximos meses o nosso Parlamento aprovará — declara Porta à Comunità.
A deputada Renata Bueno também considera que o resultado das eleições exige uma reflexão sobre o significado dos Comites e o seu impacto na vida real dos cidadãos italianos no mundo, sobretudo após uma década sem renovação.
— Os Comites devem ser repensados. Acredito que essa votação, apesar das suas limitações, representou um importante passo à frente no sentido de renovação — destaca Bueno.
Para o senador Fausto Longo, a consulta democrática expõe a “urgente necessidade de se definir e adotar políticas públicas que produzam uma maior presença oficial italiana na promoção de nossa cultura e de nossa cidadania, de forma a ampliar e consolidar uma participação mais ativa”.
O próximo encontro com a coletividade se dará nas eleições para a renovação do Conselho Geral dos Italianos no Exterior (CGIE), o mais alto órgão de representação das comunidades fora da Itália.
— Os Comites se reunirão dentro de quatro meses na sede da Embaixada em Brasília para eleger os representantes de CGIE junto aos representantes das associações italianas, que atendem a uma série de requisitos, entre os quais, ter certo número de membros com cidadania italiana, que é o principal — explica Annis.
Os representantes do Brasil este ano serão três, em vez de quatro. Na Argentina, de oito, diminuíram para sete. De acordo com Petruzziello, atual conselheiro CGIE, o Comites ainda é válido, pois tem uma relação direta com as sedes diplomáticas consulares, enquanto o CGIE se tornou um organismo onde os partidos locais italianos mandam e os candidatos não são vistos como representantes da coletividade. A prioridade agora é ampliar a participação dos cidadãos e dar um novo sentido aos órgãos representativos, criando um projeto que una os vários sujeitos da comunidade, dos oriundos à nova imigração italiana.
Os novos presidentes no Brasil
Alessandro Barillà
Circunscrição do Rio de Janeiro
Natural de Palermo, formado em Economia, é atualmente vice-presidente e CFO da Telespazio Brasil, além de vice-presidente da Câmara de Comércio Ítalo-brasileira do Rio de Janeiro
Daniel Taddone
Circunscrição de Recife
Com 36 anos, é empresário e sociólogo graduado
pela USP.
Foi funcionário do Consulado em Recife e em São Paulo e do Instituto Italiano de Cultura
Walter Antonio Petruzziello
Circunscrição de Curitiba
Nascido na Campanha,em 1952, chegou ao Brasil aos dois anos. Sócio do escritório Petruzziello Advogados, ajudou a instalar dezenas de empresas italianas no país. Já foi presidente do Comites (de 1997 a 2004). Foi eleito para o C.G.I.E. (2004) e o único reeleito (2008)
Renato Sartori
Circunscrição de São Paulo
Aos 35 anos, é paulistano e descendente de vênetos e sicilianos. Gestor de TI, faz parte da atual Comissão Jovem do Comites SP e participa de fóruns na internet sobre cidadania e assuntos gerais relacionados a Itália
Silvia Alciati
Estado de Minas Gerais
Nascida em Turim, veio para o Brasil aos dois anos. Formada em arquitetura, ingressou no Comites como conselheira (2004) e ocupa o cargo de presidente desde 2006. Participou da Conferência dos Jovens Italianos no Mundo. É cidadã honorária da capital mineira
Rosalina Zorzi
Estado do Rio Grande do Sul
Nascida em Nova Pádua, é tecnóloga especializada em análise de sistemas. Tradutora de italiano e vêneto, foi uma das incentivadoras do reconhecimento do talian como patrimônio cultural e imaterial do Brasil
Claudio Zippilli
Circunscrição de Brasília
Nascido em Roma em 1958, vive em Brasília desde 2011. Cartógrafo, é dono de uma empresa de consultoria e proprietário de uma loja de artigos esportivos. Visitou vários países a trabalho e a turismo