Ercole Baldini, o ciclista que encantou a comunidade dos imigrantes italianos na Austrália nos Jogos de Melbourne
Falou em Itália, falou em ciclismo. O veículo de duas rodas é muito popular no Belpaese seja como transporte, seja como lazer, além de fonte inesgotável de medalhas em competições. E de tantos heróis olímpicos. Em 1956, em Melbourne, Austrália, Ercole Baldini surpreendeu o mundo e os organizadores, que nem tinham o disco com a gravação do hino italiano, ao ganhar o ouro na prova de estrada, de 187 quilômetros. Os imigrantes da numerosa colônia italiana, estabelecidos naquele país da Oceania, cantaram o hino de Mameli quando Baldini recebeu o prêmio no pódio. Não era considerado favorito, porém deu uma aula de ciclismo, segundo alguns especialistas australianos.
Baldini foi o primeiro dos 44 ciclistas (88 largaram, justamente o dobro), que completaram a corrida, com o tempo de 5 horas, 21 minutos e 17 segundos — a uma velocidade média de 36 quilômetros horários naquele 7 de dezembro de 1956. Uma prova dominada quase o tempo inteiro pelo “Trem de Forlì”, como ele era conhecido devido à sua rapidez e à sua terra natal, a cidade da Emília-Romanha, onde nasceu, em 26 de janeiro de 1933. Mais precisamente, Ercole Baldini veio ao mundo em Villanova — um distrito do município de Forlì.
Crônicas australianas da época comentaram que ele venceu facilmente e arrancou aplausos do público de cerca de dez mil pessoas. Segundo o relato de Bill Long na revista The Australian Cyclist, Baldini fugiu do grupo que o perseguia, faltando 48 quilômetros para o fim.
“Ele cruzou a linha de chegada com um largo sorriso, acenando para a multidão, uma milha (1.609,344 metros) à frente do segundo colocado, o francês Arnaud Geyre”, escreveu a mesma publicação australiana. E acrescente-se: com 1 minuto e 59 segundos de vantagem sobre o ciclista que levou a medalha de prata. Um formidável atleta de Forlì, então com 23 anos, aclamado na época como novo Fausto Coppi, lenda do ciclismo italiano. Comparação nada confortável, que o próprio Baldini não gosta nem um pouco.
Filho de camponeses, o quarto de uma família de seis irmãos, também trabalhava na agricultura em Villanova e ia à escola de bicicleta. Desde os 20 anos de idade, Baldini vencia provas e batia recordes em seus tempos de amador. Além de campeão olímpico, conquistou outros títulos e marcas de sua época importantes em cima de uma bicicleta. Bateu duas vezes os recordes da hora, ganhou um campeonato mundial de estrada e um na pista. Foi vencedor do Giro d’Italia — corrida histórica que percorre vários cantos do país — em 1958, quando já se tinha tornado profissional do ciclismo. As Olimpíadas, naquele tempo, eram restritas aos atletas amadores. Poucos meses depois dos Jogos de Melbourne, Baldini profissionalizou-se.
Porém, uma operação de apendicite em 1959, que naquele tempo não era tão simples como nos dias de hoje, começou a apressar o fim de sua carreira de ciclista. Quinze dias depois da cirurgia, o campeão já corria em sua bicicleta e, uma semana depois de voltar aos treinos, disputava uma competição. Decisão da qual se arrepende: “Talvez tenha voltado com muita pressa”, disse ele certa vez ao Corriere della Sera.
Muito criticado pela imprensa esportiva italiana pela facilidade com que engordava, lamenta que na época não existissem nutricionistas do nível atual para orientar sua dieta. As vitórias começaram a rarear depois de ter-se submetido à cirurgia e 1964 foi o último ano em que o campeão olímpico competiu. Retirou-se aos 31 anos como atleta, voltou a trabalhar na agricultura, mas não abandonou o ciclismo. Foi dirigente do esporte que o consagrou, além de presidente da associação e da liga ciclística na Itália. Nos últimos tempos, foi frequentemente homenageado pelos serviços prestados ao esporte italiano. Possui um museu com seu nome em Villanova, no qual estão imortalizados seus feitos no ciclismo, com troféus, medalhas, fotos, vídeos, bicicletas antigas e outras recordações.