{mosimage}Em preparação para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, profissionais do sexo aprendem italiano para se comunicar com os turistas
Aulas de inglês, espanhol, francês e italiano de graça para poder se comunicar no mesmo idioma com os clientes. Os alunos? Profissionais do sexo.
— Eu amo o meu trabalho e quero lutar contra os preconceitos — assim a diretora da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), Cida Vieira, explica como nasceu a iniciativa de organizar cursos de idiomas para as associadas, que têm entre 18 e 70 anos.
Ela comenta que “os eventos internacionais que vão acontecer no Brasil vão movimentar todos os trabalhadores, assim como o setor das prostitutas, e que os profissionais do sexo podem passear com o cliente e ser guias turísticos para mostrar a cidade”.
A ideia de organizar cursos de idiomas para garotas de programas e travestis nasceu porque “houve uma demanda muito forte por parte da militância que quer uma maior qualificação”.
Em vista da Copa das Confederações que começa em junho, Cida antecipa que estão organizando um grande show que movimentará todas as associações das prostitutas do Brasil.
— Muito provável que seja no dia internacional das prostitutas, dia 2 de junho. Os alunos vão aprender os nomes das frutas, verduras, legumes e também palavras mais técnicas, relacionadas com o nosso trabalho — comenta a diretora da associação, que tem nove meses de existência.
De acordo com Cida, várias pessoas que moraram no exterior ou formadas em Letras já se ofereceram voluntariamente como professores de inglês, espanhol, francês, italiano e português.
— A demanda vem aumentando. Já existem 300 pessoas cadastradas para participar das aulas. As aulas começam depois do carnaval, no dia 4 de março, e vão durar de seis a oito meses.
Há mais de dez professores interessados na iniciativa, como Michelle, professora de francês e italiano, e Eduardo Marchetti, professor de italiano.
— Li a notícia sobre a proposta da associação e vi que estavam procurando professores voluntários. Foi assim que decidi entrar em contato com eles. Já conhecia a Itália, mas quando fui a Siena conheci melhor o país. O povo italiano é muito caloroso e é muito similar ao povo brasileiro — afirma Marchetti, estudante de economia de 24 anos que herdou o sobrenome do bisavô italiano e fez um intercâmbio em Siena no ano passado.
Os professores voluntários estão se organizando para elaborar um material didático comum para todos os idiomas e o limite de cada turma será de 20 alunos para que se dê mais atenção a cada participante. Os alunos assistirão às aulas de graça.
— Eu gosto muito de ensinar e já tenho prática e experiência, pois sempre dei aula. Além disso, acredito que seja uma boa capacitação para os profissionais do sexo e também é uma tentativa de dar maior visibilidade e quem sabe pode ser um início da legalização da profissão — comenta o professor de italiano.
A idealizadora da iniciativa defende a legalização da profissão.
— Há mulheres de 70 anos que pagam os impostos, mas não têm direito a aposentadoria — comenta a mineira de 46 anos, que exerce a profissão há 20 anos.
Cida conta que largou a área de direito para se dedicar ao trabalho que ama:
— Eu sou especializada na área de fetiche e fantasia erótica. Não sou prostituta 24 horas, tenho um horário de trabalho, tenho um namorado. Organizo os meus horários e separo a vida profissional da vida privada. Luto contra o preconceito quando declaro a minha profissão, e as pessoas não acreditam — comenta Cida, que admite ter feito cursos de defesa pessoal para estar preparada contra possíveis violências.