Batizado em homenagem ao astronauta soviético Yuri Gagarin, o “Signore degli Anelli”, ouro nas argolas em Atlanta, foi porta-bandeira da Itália em Atenas
O herói olímpico da vez se chama Jury Dimitri Chechi. Russo? Não, italianíssimo. Seus pais homenagearam o astronauta soviético Yuri Gagarin, primeiro homem a viajar no espaço. O Jury italiano não voou tanto quanto o soviético, mas conheceu o degrau mais alto do pódio. Como outros campeões das argolas na ginástica artística ganhou o apelido de senhor dos anéis. Foi dado como acabado para o esporte após grave lesão, mas deu literalmente a volta por cima, retornou e levou para a Itália outra medalha nos Jogos.
Baixo e magro, parecia que Jury, nascido em Prato, na Toscana, no dia 11 de outubro de 1969, não se tornaria atleta. Mas na ginástica os baixinhos têm vez. Sua irmã Tania já praticava esse esporte, quando a família também resolveu inscrevê-lo. E foi em sua terra natal que ele começou a praticá-lo, na Società Ginnastica Etruria, a mesma academia que havia recebido a irmã. Desde pequenino, Jury gostava de fazer estripulias em casa. Tirava lustres do lugar e esmagava sofás, deixando a mamma Rosella histérica. Foi então que os pais viram que a ginástica poderia ser a solução para acalmar aquele menino de sete anos tão levado.
E os resultados não demoraram a aparecer. Aos oito anos de idade, em 1977, o pequeno Jury ganhou o campeonato toscano na ginástica. Em 1984, já fazia parte da seleção júnior da Itália e transferiu-se para Varese, no norte do país. Lá, preparou-se para a vitoriosa carreira sob a batuta do técnico Bruno Franceschetti, especializando-se nas argolas, na Società Ginnastica Varesina.
Chechi já colecionava títulos na ginástica quando chegou o grande momento de sua carreira: a Olimpíada de 1996, em Atlanta. Com exibição quase perfeita nas argolas, levou o ouro com nota 9,887, seguido do húngaro Szilveszter Csollány Dan Burinca, com 9,812. O toscano havia participado dos Jogos de 1988, em Seul, na Coreia do Sul, mas sem medalha. Antes de Barcelona 1992, era considerado o favorito na sua especialidade, mas rompeu o tendão de Aquiles e teve de ficar fora daquela Olimpíada na Espanha.
O campeão queria mais. Preparava-se para os Jogos de Sydney de 2000, quando rompeu o tendão braquial do bíceps esquerdo. Foi considerado acabado como atleta. Porém, em 2003, as coisas mudaram. Leo, seu pai, estava muito doente. E o filho fez uma promessa: se ele conseguisse recuperar-se voltaria a competir. Dito e feito. Jury já tinha nova vida, na qual, entre outras atividades, era vice-presidente da Federação Italiana de Ginástica. Mas não havia abandonado completamente os treinos, depois intensificados. O braço esquerdo já não doía tanto quanto antes. O campeonato europeu de ginástica em Liubliana, capital da Eslovênia, foi decisivo. Dois ginastas ficaram impossibilitados de participar da competição e Chechi soube aproveitar a chance. Classificou-se para as finais das argolas, ficando entre os oito melhores. Terminou em oitavo — e satisfeito, depois de tudo o que passou.
Em Atenas, teve a honra de carregar a bandeira italiana no desfile de abertura da Olimpíada. Na competição, vibrou quando soube sua nota nas argolas: 9,812. Com quase 35 anos, dava a volta por cima com a medalha de bronze, atrás apenas do grego Dimosthenis Tampakos, ouro com 9,862, e do búlgaro Iordan Iovtchev, prata com 9,850. Depois da vibração, o italiano contestou nas entrevistas a decisão do júri: para ele, o verdadeiro vencedor deveria ser o búlgaro e não o grego, atleta da casa. O jornal La Nazione, de Florença, publicou a informação de que, meses após a Olimpíada, a Federação Internacional de Ginástica reuniu um júri neutro para rever a prova — mas os resultados de Atenas nunca foram modificados. Segundo relato do próprio Jury ao jornal, esse júri indicou que ele mesmo deveria ter sido o campeão, enquanto Iovtchev continuaria em segundo e o bronze ficaria com o japonês Tomita, e o grego nem teria levado medalha.
Em março de 2016, circulou na internet a notícia de que o atleta havia morrido. Muita gente se lamentou na rede, escrevendo mensagens tipo “que descanse em paz”, “tão jovem”. Mas o boato acabou prontamente desmentido pelo próprio ex-atleta no Twitter:“Foi uma brincadeira de mau gosto”, esclareceu.
Estava e está mais vivo do que nunca, na companhia de Rosella, mãe de seus dois filhos, Dimitri, de 13 anos, e Anastasia, de 11.