Comunità conversou com alguns membros do Comites de São Paulo para conhecer seus projetos, atividades e desafios
Organismos representativos da coletividade italiana, os Comites são eleitos pelos italianos no exterior em cada uma das circunscrições consulares, nas quais residem mais de três mil italianos inscritos no Aire. Atualmente, existem 101 Comites, aos quais devem ser adicionados cinco de nomeação consular. No Brasil, operam sete Comites. As últimas eleições foram realizadas em 2015. Os conselheiros eleitos já estão no meio do mandato, que dura cinco anos. O Comites de São Paulo é o maior no Brasil, pois atua na maior circunscrição consular que abrange os estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Rondônia.
— No Brasil, são cerca de 400 mil italianos registrados no Aire, dos quais cerca de 200 mil estão na circunscrição de São Paulo. O restante é composto pelas outras circunscrições — afirma o presidente do Comites de São Paulo, Renato Sartori.
A atuação do órgão é bem diversificada, como na condição de intermediário entre a coletividade italiana e as autoridades consulares a promover iniciativas culturais e sociais. De acordo com Sartori, um dos papéis mais importantes da entidade é trazer o italiano e o ítalo-descendente para perto do país de origem para mostrar a Itália verdadeira.
— Aqui tem a primeira e a segunda gerações, tem muita gente que nunca foi à Itália e que tem a ideia daquela Itália tarantela napolitana, uma Itália que já existiu um dia, mas que hoje é um país mais moderno. É importante fazer com que os jovens descendentes participem da comunidade e também olhem para a nova juventude dos italianos que estão chegando agora. Por isso, criamos o projeto Nuovi Arrivati — explica o presidente ao frisar que é uma atividade voluntária, mas que requer muita dedicação.
Órgãos fazem pressão para uniformizar os procedimentos consulares
Ao ser perguntado sobre a questão das filas de cidadania, Sartori diz que o Consulado de São Paulo está convocando, no momento, os agendados de 2006.
— Por causa da lei da privacidade, os Consulados tiveram que retirar as listas com os nomes do site. Não temos mais essa informação, mas me recordo dos piores anos de fila, os anos de 2004, 2005 e 2006. Depois disso, tende um pouco a cair, então acredito que talvez acelere — comenta o ítalo-paulista, que avalia positivamente o retorno da taxa da cidadania.
Ele destaca que os Comites não têm poder de decisão, porém, junto com o CGIE e os parlamentares eleitos no exterior fazem pressão para que a fila diminua. Além disso, pressionam os Consulados para que sejam uniformizados os procedimentos para o reconhecimento da cidadania italiana, ou seja, para que adotem o melhor procedimento. Entre as dificuldades que o Comites enfrenta, ele cita os recursos escassos, as questões políticas da comunidade que atrapalham um pouco os trabalhos e o fato de não ter poder de decisão.
— O Comites precisaria ser modernizado porque foi criado com a visão de outra realidade. Hoje, com a nova imigração e os novos ítalo-descendentes, a coisa é um pouco diferente. Poderia ter um pouco mais de poder e ser mais independente — avalia o ítalo-paulista.
O Comites de São Paulo é composto por 18 membros mais seis cooptados, ou seja, ítalo-descendentes sem cidadania italiana reconhecida. Sartori adotou o modelo da gestão passada das comissões de trabalho e criou algumas novas, como a comissão Nuovi Arrivati e Comissão do Interior, para as comunidades mais distantes.
— Todas as comissões são abertas ao público — comenta Sartori.
O italiano Jacopo Angelozzi preside a Comissão Nuovi Arrivati, que desenvolveu o projeto Recém-chegados, o qual traçou o perfil da nova imigração italiana no Brasil. A partir da publicação dos resultados do projeto, concluído em 2016, nasceram outras duas iniciativas.
— A primeira é uma publicação de um artigo em parceria com o doutor Pier Francesco De Maria, mestre pela Universidade de Campinas no Relatório dos italianos no mundo, publicado todos os anos pela Fundação Migrantes. Nesse artigo, se fala do nosso projeto, que envolveu o CGIE, graças às iniciativas de Silvia Alciati — conta Angelozzi, que mora em São Paulo desde 2011.
A outra iniciativa é desenvolvida em parceria com a Universidade La Sapienza de Roma. Após tomarem conhecimento do projeto Recém-chegados, os coordenadores da universidade romana convidaram o Comites para participar de um curso de formação no Brasil previsto para o início de 2019.
Comissão Jovem é carro-chefe do Comites paulista
Criada em 2008 pela então presidente do Comites e atual conselheira do CGIE Rita Blasioli, a Comissão Jovem sempre foi muito atuante.
— Este ano, o grupo completa 10 anos e está focado no trabalho de promover a cultura italiana para um público jovem, demonstrando que a Itália não parou no tempo e tem muito ainda a oferecer — declara o atual presidente da Comissão Jovem, Gilles Pires Batista.
No final de julho, foi realizada uma reunião para programar os próximos eventos. O presidente antecipou que, pensando na Semana da Língua Italiana, em outubro, está sendo organizada uma atividade criativa para crianças, e revelou que serão realizadas viagens culturais em algumas cidades, fora da capital paulista, importantes para a comunidade italiana.
A Comissão Jovem e a Comissão de Cultura são muito atuantes e trabalham juntas na organização de diversas atividades, como workshops de fotografia com exposições dos melhores trabalhos, workshops de culinária italiana, e atividades voltadas ao público infantil, como um teatro de sombras que utiliza o conto de Pinóquio.
— Na maioria das atividades que fazemos tentamos envolver a parte social — ressalta o ítalo-descendente, citando a doação de sangue realizada simultaneamente em São Paulo, Campinas, Santos e na Itália.
Atualmente, os participantes têm entre 27 e 50 anos, porém não têm idade para participar da Comissão Jovem.
— Nossa ideia é não restringir público. Se você é jovem de espírito e tem cabeça jovem pode participar — frisa.
Comissão de cultura está prestes a lançar curta-metragem
Muito ativa também é a Comissão de Cultura, que está prestes a lançar um curta-metragem.
— O nosso projeto ganhou um financiamento do Ministério das Relações Exteriores. A ideia era mostrar a presença italiana em São Paulo, não só pelo que a gente está acostumada, e fazer uma ponte com a arte e a cultura concreta. Entrevistamos pessoas de várias profissões com diferentes relações com a Itália, para que contassem o que quer dizer viver numa cidade baseada na cultura italiana — revela a presidente da Comissão de Cultura, Carolina Casati.
O lançamento está previsto para setembro e deverá acontecer na sede do Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, onde também está o Comites. A Comissão de Cultura ainda organiza o concurso literário Brasil-Itália, idealizado pela conselheira Rosalie Gallo, que mora em São José do Rio Preto (SP).
— Sou a conselheira que mora mais longe de São Paulo. A comunidade italiana aqui é bastante grande, pois era uma região com muita cultura de café — diz Gallo.
A primeira edição do concurso aconteceu em 2016 dedicada à emigração italiana no Brasil. O júri selecionou 30 contos que foram publicados no livro bilingue Vozes Ítalo-brasileiras I – VociItalobrasiliane I.
— Fizemos o lançamento na Bienal Internacional do Livro de São Paulo e, no mesmo ano, fizemos o lançamento na Embaixada do Brasil em Roma — conta a conselheira, que acompanhou o grupo de escritoras na Itália.
O tema da segunda edição foi A influência da cozinha italiana na mesa do brasileiro e os textos vencedores foram publicados em um livro bilíngue que teve dois lançamentos oficiais, em São Paulo e em Roma. Nos contos, os autores fizeram referência a pratos italianos. As receitas foram publicadas no encarte culinário bilíngue Arte na cozinha – arte in cucina. Entre os participantes havia ítalo-brasileiros que residem na Grécia, na Itália e na França.
— É um projeto interessante que traz o resgate da presença italiana não só no Brasil, como em outros lugares. Está ficando um concurso internacional! — graceja Gallo, que deve lançar a próxima edição ainda este ano.