Comunità Italiana

O monumento da gastronomia em São Paulo

Com dez meses de vida, o complexo, que une restaurante, loja e escola, já se tornou um dos mais visitados pontos turísticos da capital paulista

A cena foi estampada em diversos jornais e revistas e, depois, reproduzida nas redes sociais. Assim que foi inaugurado, em 19 de maio do ano passado, os paulistanos começaram a fazer fila para conhecer o Eataly, um complexo gastronômico que reúne restaurantes, loja e escola, localizado na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 1489, na Vila Nova Conceição, um dos pontos mais nobres da zona sul de São Paulo. Antes mesmo de suas portas abrirem pela primeira vez, várias pessoas, em geral funcionários que trabalham nos inúmeros escritórios localizados na própria Juscelino e nas ruas ao redor, já esperavam na escada. Nos finais de semana posteriores, o movimento foi ainda maior, com a diferença de que a turma dos escritórios havia sido substituída pelos casais, famílias com filhos e grupos de amigos que também queriam explorar o novo espaço gastronômico da cidade. Passados dez meses, o fluxo de clientes continua intenso — embora sem o furor das primeiras semanas.
— O Eataly caiu no gosto do paulistano. O resultado, para nossa sorte, tem sido bem acima das nossas expectativas. Um dos motivos desse enorme sucesso é o fato de que muitos paulistanos já conheciam o Eataly de Nova York ou mesmo de alguma unidade da Itália. Mas também recebemos muitos clientes que vêm pela primeira vez, inclusive turistas do Brasil e do exterior. Até de italianos que buscam matar a vontade de um legítimo capuccino — conta o gerente-geral Luigi Testa, que divide o comando do negócio com Tito Paolone.

Clientes procuram “experiência do paladar”
De fato, o que todos procuram quando entram em uma das 31 unidades do Eataly espalhadas pelo mundo é uma nova experiência gastronômica. Esse é um dos principais conceitos da casa desde que foi inaugurada a primeira unidade, em 2007, em Turim, Itália.
— Naquela época, a gastronomia era meio elitizada, e o Eataly veio quebrar essa ideia. Em todas as nossas unidades, seja na Itália, seja nos outros países onde atuamos, procuramos resgatar a simplicidade da comida italiana, sem abrir mão da qualidade dos produtos que oferecemos. Nossas receitas são simples, sem serem banais. Usamos os ingredientes da forma mais pura possível porque confiamos neles. Claro que também oferecemos pratos mais elaborados, pois fazem parte do avanço do universo gastronômico — comenta Luigi Testa.
Em São Paulo, os clientes podem desfrutar de um espaço com mais de 4,5 mil metros quadrados, distribuídos por três andares. Nos mais de 600 lugares dos cinco restaurantes e pontos de alimentação, podem saborear massas, pizzas, risotos, peixes e carnes. Em outros ambientes, encontram pães, focaccias, doces, águas, sorvetes e café — tudo com sabor veramente italiano. Na loja, podem comprar diversos produtos, como massas, molhos, frutas, água, legumes, embutidos, queijos, sucos, licores, cervejas, uma infinidade de rótulos de vinhos, além de diversos produtos com design italiano.
— No total, oferecemos um sortimento com sete mil itens. Cerca de 70% deles são importados da Itália. Os outros 30% vêm de 150 fornecedores brasileiros — comenta Testa.
Essa, aliás, é outra característica do Eataly.
— Sempre que inauguramos uma unidade, procuramos também abrir um canal de diálogo com os fornecedores e produtores locais. Isso é muito importante dentro da nossa cultura. Acreditamos que, com isso, valorizamos os microprodutores, pois é uma forma de fazer com que algumas tradições não se percam. Não nos interessa importar um modelo de negócio pronto. Queremos construir com a cidade esse nosso conceito. Creio que estamos conseguindo fazer isso de um modo sustentável — acrescenta Testa.  
Além de comer e comprar, lá também se aprende. No espaço chamado La Scuola di Eataly, há diversos cursos relacionados ao universo da gastronomia, como aula sobre queijos ou atividades práticas de cozinha, degustação de vinhos e cervejas, encontro de chefs renomados, entre outras atividades. De algumas aulas até as crianças podem participar.

Antes da abertura, funcionários passaram temporada em unidades nos outros países
Há ainda outros fatores que explicam o sucesso do Eataly em São Paulo. Um deles foi o treinamento dado a alguns funcionários antes da abertura da loja na capital paulista. Testa conta que, alguns meses antes de abrir as portas da nova unidade, dez colaboradores foram selecionados para passar algumas semanas em treinamento no exterior. Uns foram para a Itália; outros para os Estados Unidos.
— Não adianta muito contar o que é o Eataly. É bem mais fácil, rápido e melhor viver o Eataly por um certo tempo para entender o nosso conceito. Por isso, essa vivência foi importante para que todos eles percebessem como trabalhamos em outros lugares — conta Testa, que, antes de vir a São Paulo, também passou por um longo período de treinamento em Turim e em Roma e acompanhou as aberturas das unidades de Bari, Florença e Milão.
Além disso, duas semanas antes da inauguração da unidade paulista e duas semanas depois, experientes profissionais do próprio Eataly, entre italianos e americanos, também vieram para dar o apoio necessário. Cada restaurante contou com um chef italiano ou americano. Assim como cada departamento também teve um gerente com experiência em outras unidades. Passados os primeiros meses e superados os obstáculos iniciais de um negócio desse porte — como as barreiras da língua e até as inevitáveis dificuldades de importação de produtos — o fato é que o sucesso do primeiro Eataly da América Latina tem sido saborosamente degustado por quem o dirige.
— Sim. Estamos contentes com os resultados. Esses primeiros meses demonstraram que fizemos as apostas certas e trilhamos o caminho correto. Com isso, agora, podemos olhar com mais atenção os detalhes e crescer ainda mais. Está bom, mas podemos melhorar sempre — comenta Luigi Testa.

Gerente italiano se diz apaixonado por São Paulo, “cidade muito pulsante,
que lembra Nápoles, Gênova e Marselha”
Nascido na pequena Cuneo, no Piemonte, Luigi Testa, que irá completar 29 anos em abril, trabalha no Eataly desde 2012, após finalizar seu master em International Management na conceituada Universidade Comercial Luigi Bocconi, em Milão. Quando, naquele ano, recebeu o convite para comandar a abertura do novo Eataly, em São Paulo, não hesitou.
— Eu comecei a pensar no Brasil e na América do Sul, bem antes, em 2010, durante um intercâmbio de seis meses que fiz na Holanda. Foi surpreendente, pois, antes, eu estava mais focado em morar nos Estados Unidos e na Inglaterra. As amizades que fiz naquele intercâmbio mudaram minha vida — lembra Testa, que logo depois veio para São Paulo estudar na Fundação Getúlio Vargas, como complemento ao curso que havia começado na Bocconi. Claro que a realidade que ele aqui encontrou não condizia com os clichês sobre o Brasil que tinha em mente, como um país só de praias, samba e caipirinha (embora, claro, isso também exista).
— Nos dois primeiros meses, fiquei totalmente surpreendido com São Paulo, uma cidade agitada e efervescente como Nova York e Milão, onde morei durante muitos anos — lembra.
Com o tempo, e passado o choque inicial, ele foi desbravando os segredos paulistanos e conhecendo suas principais atrações, como o Mercado Municipal.
— Fiquei impressionado com a diversidade das frutas. Adoro as frutas brasileiras, principalmente caju — diz.
Além disso, passou a morar na Vila Madalena, um dos bairros mais badalados da capital paulista.
— Fiquei superapaixonado por São Paulo. Agora, a Vila Madalena é minha casa. Também gosto muito do centro e da região da Praça da República — conta.
Para ele, uma das vantagens de São Paulo é a energia que flui da mistura de variadas culturas, raças e perfis socioculturais.
— A cidade é muito pulsante. Lembra-me muito Nápoles, Gênova, na Itália e Marselha, na França. Nos Estados Unidos e na Europa, incluindo a Itália, parece que está tudo pronto, finalizado. Aqui, não. Ainda há muito para criar, por fazer, por construir.

Uma espécie de museu da gastronomia italiana
Além de Luigi Testa, o Eataly de São Paulo conta com outros profissionais nascidos na Itália. Um deles é o romano Marco Russo, que há dois anos escolheu o Brasil para morar. Depois de se graduar em Economia em Boston, ele percebeu que não gostava de trabalhar enclausurado em um escritório. No Eataly, começou a atuar junto à equipe que procurava por bons fornecedores no Norte e Nordeste do Brasil. Depois, passou a ser responsável pelos produtos da Mercearia e do Bazar .
— Eu brinco que o Eataly pode ser chamado de Museu da Gastronomia Italiana em São Paulo. Nossa mercearia é muito forte. Os clientes sabem que aqui eles encontrarão produtos que não são achados em outros lugares. Temos, por exemplo, azeites especiais e cortes de massa seca diferenciados a preços muito bons — diz Russo.
Seu colega Marco Giancola, gerente do Mercado, vem de Milão.
— O Eataly é a cara de São Paulo. Como a cidade tem uma comunidade de descendentes muito forte, aqui eles podem comer, aprender e comprar e, com isso, ter uma experiência italiana completa — observa.    

O Eataly em São Paulo tem três andares, totalizando  4,5 mil metros quadrados
Possui cinco laboratórios de produção própria
Tem uma sala de aula com 18 lugares para cursos sobre gastronomia
Oferece mais de 600 lugares em cinco restaurantes
Serve mais de duas mil refeições por dia (incluindo 250 pizzas)
Tem sete mil itens à venda, entre perecíveis e não perecíveis. Do total, 30% são fornecedores brasileiros
Emprega mais de 500 funcionários

O Eataly no mundo
Primeira loja aberta em janeiro de 2007, em Turim
Hoje, são 31: 15 na Itália, nove no Japão, duas nos Estados Unidos, uma nos Emirados Árabes (Dubai), uma na Turquia, uma na Coreia do Sul (Seul), uma no Brasil e uma na Alemanha
Quatro mil empregos diretos
Faturamento: 400 milhões de euros por ano
Inaugurações previstas nos próximos três anos: Verona e Trieste; Londres; Paris; Moscou; mais uma em Nova York, Los Angeles, Filadélfia e Boston; e Toronto