Produtores e compradores da bebida mais consumida do mundo se reúnem em Minas e traçam o futuro do mercado
Com a participação de mais de 70 países, a Semana Internacional do Café, um dos maiores eventos mundiais do setor cafeeiro, reuniu, em setembro, em Belo Horizonte, mais de 40 mil visitantes, além de dezenas de expositores que lançaram produtos e serviços. Compradores nacionais e internacionais fecharam negócios que ultrapassaram a casa dos 50 milhões de reais.
A 8ª edição do evento, que aconteceu na Expominas, foi viabilizada pelo governo mineiro, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), principal entidade do agronegócio mineiro; o Sebrae, responsável por fomentar o desenvolvimento da cadeia produtiva do setor; a Organização Internacional do Café (OIC); o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa); e a Café Editora, promotora do Espaço Café Brasil. A escolha do local reflete a importância do estado para a cafeicultura mundial, uma vez que 25% de todo o café consumido no mundo é produzido em solo mineiro. Líder na produção brasileira, o estado é responsável por 51,4% da safra nacional e deve colher em 2013 cerca de 25 milhões de sacas, em área plantada de 1,1 milhão de hectares, distribuída por mais de 600 municípios. O produto é o segundo item dentro da pauta econômica de Minas, atrás apenas do minério de ferro. São quatro as regiões produtoras: Sul de Minas (47%), Matas de Minas (30,7%), Cerrado Mineiro (19%) e Chapada de Minas (3,3%). Nos últimos dez anos, os ganhos de produtividade da cafeicultura mineira foram da ordem de 50%. A produtividade estimada para 2013 é de 24,7 sacas por hectare. Nos últimos dez anos, principalmente, os ganhos de produtividade do setor foram da ordem de 50%. Em 2012, o café respondeu por R$ 11,4 bilhões (produção e indústria), ou 8,6% do PIB do agronegócio mineiro, que somou R$ 132,4 bilhões. No primeiro bimestre de 2013, o principal produto das exportações do agronegócio mineiro registrou vendas de US$ 561,1 milhões. O volume exportado no primeiro bimestre foi de 2,8 milhões de sacas.
A abertura da 50ª Reunião Geral da Organização Internacional do Café reuniu os ministros da Agricultura, Antonio Andrade, do Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e interino das Relações Exteriores, Eduardo Santos; o governador Antonio Anastasia; e o diretor executivo da OIC, Robério Oliveira.
— Obtivemos avanços nestes quatro dias de reunião, principalmente em relação ao apoio ao pequeno produtor dos países emergentes. A OIC vê com ótimos olhos as políticas adotadas recentemente pelo governo brasileiro, como o ordenamento do fluxo de safra — ressaltou Robério Silva, ao citar a medida do governo federal de retirar 13 milhões de sacas do mercado.
Financiamento ao pequeno produtor é um dos desafios do setor
Um dos principais desafios da OIC para os próximos anos é a obtenção de financiamentos nos órgãos multilaterais. O Banco Mundial, o Banco Interamericano e a FAO podem desempenhar importante papel para apoiar o pequeno produtor e as cooperativas, o que pode abrir as portas para a obtenção destes recursos. Novas propostas sobre o assunto devem ser examinadas pelo Conselho da OIC em março de 2014, durante a 112ª sessão do Conselho.
Ao fazer um balanço dos 50 anos da OIC, Robério comentou que, após cumprir um importante papel na estabilização do setor cafeeiro na primeira metade de sua atuação, a entidade transformou-se, nos últimos 25 anos, em uma fundamental “agência de coleta e distribuição de estatísticas, funcionando como um elemento que dá transparência para o mercado internacional do café”.
Um tema discutido durante o evento foi a agregação de valor. Quem pode pagar pelo produto especial, mais caro, não é afetado pela crise econômica mundial. Porém, no Brasil, por conta do aumento da renda, mais pessoas agora têm acesso ao café especial.
— O mercado de luxo não se afeta com a crise. No Brasil, também não se perde, pois o consumidor de café especial está muito longe dessa situação. As lojas de café nos Estados Unidos sofreram com a crise, tanto é que muitas lojas fecharam — afirma.
Para o consultor, qualidade é uma coisa nova no Brasil, país que sempre foi conhecido como fornecedor de volume, um fato bastante discutido durante a feira. A recuperação da imagem do café brasileiro começou nos anos 1990, com a criação de uma imagem de qualidade que começou a trabalhar o café especial e formou a Associação Brasileira de Café Especial (BSCA). Em 2000, surgiu o concurso de qualidade Illy Café. Depois, o Brasil foi o país-tema da feira de café especial dos Estados Unidos. Atualmente, a imagem está mudando, porém trata-se de um processo em longo prazo.
Brasil fornece os grãos do melhor espresso italiano
Hoje, o principal fornecedor de café de Starbucks, Nespresso e Illy, entre todos os países do mundo, é o Brasil. Os grãos brasileiros também constituem um componente ideal do espresso italiano de qualidade, e o Brasil é o principal fornecedor da Itália.
— O café brasileiro tem corpo e doçura, que é o que se procura no espresso, ao contrário do mercado alemão, do tipo filtrado, e do escandinavo, um pouco diluído. Este é um mercado onde o café lavado da América Central e da Colômbia não dá para você fazer 100% expresso, e você só pode usar 15-20-30% dele; então esta é a vocação do café brasileiro — explica Brando, que compara o café brasileiro ao vinho tinto, pois seca-se o grão e se faz o produto secado com a casca, enquanto o vinho tinto você fermenta com a casca, sendo que a característica do vinho tinto é o corpo, o aspecto floral, e do vinho branco é o café lavado, fermentado, sem os açúcares e a casca, o que o torna mais ácido e menos doce.
Com relação à ideia de que consumimos um produto de baixa qualidade, Brando garante não ser uma especificidade brasileira, e sim de todos os países exportadores. Se analisarmos a distribuição de renda dos chamados países importadores tradicionais, como Estados Unidos, União Europeia e Japão, o consumidor tem condições de pagar um preço melhor.
— É um sonho conseguirmos desenvolver um mercado no Brasil, vendendo café pelo mesmo preço que está lá fora. Não é uma questão de qualidade; é de mercado. Não existe um plano do maquiavélico de servir café ruim para os países produtores.
Carlos Brando lembra que a P&A desenha projetos dos programas de consumo da Índia, Indonésia, Colômbia, México e El Salvador e, em todos eles, uma das principais questões é o aspecto econômico.
— Você tem que ter também um café mais barato. A qualidade está equacionada com o preço, então é lógico que este preço varia desde supermercados mais baratos até os mais caros e de classe A.
Illy e Triestespresso reforçam presença italiana
A empresa italiana Illy marcou presença durante o 8º Espaço Café e lançou o café monoarábicas — um blend específico do Brasil, da Etiópia e da Guatemala, além de ter mostrado o Illycrema, um frozen de café, e o blend normal que existe há 83 anos no mercado. De acordo com o gerente comercial, Alexandre Bueno, devido à tradição da empresa, durante o evento, foram fechados negócios com 180 clientes na ordem de mais de um milhão de reais.
A Câmara de Comércio de Trieste também participou da feira por meio de estande institucional, com o intuito de promover a Triestespresso — o mais importante evento bienal da indústria de café expresso da Itália, que envolve todas as atividades do setor. Na ocasião, Cristina Scarpa, responsável pelas feiras promovidas pela agência especial da Câmara de Comércio de Triste, se reuniu com representantes do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), da Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais, e da Brazil Specialty Coffee Association, dentre outras cooperativas e produtores locais. Foi apresentada a eles a oportunidade de participar como expositores da feira Triestespresso, em um pavilhão dedicado ao Brasil, com a possibilidade do Brasil ser oficialmente o país convidado para a próxima edição da feira, que ocorre entre os dias 23 e 25 de outubro de 2014, em Trieste.
Entre as atrações do Espaço Café, o 3º Campeonato Brasileiro de Preparo de Cafés e o 6º Campeonato Brasileiro Cup Tasters atraíram o público. Aberto a provadores e classificadores, a competição testou a habilidade de separar corretamente os cafés diferentes. O barista vencedor foi Leo Moço, de Curitiba. Thiago Sabino, de São Paulo, ficou em segundo lugar.