Itália se despede de um de seus mais admirados líderes: o estadista que resgatou o orgulho de ser italiano
A Itália deu adeus a um dos seus políticos mais queridos, Carlo Azeglio Ciampi, que faleceu em uma clínica, em Roma, aos 95 anos. A causa da morte não foi divulgada. Ciampi nasceu em Livorno, na província de mesmo nome, no dia 9 de dezembro de 1920. Filho de um ótico e uma professora de música, se formou em Literatura Grega Antiga e Filosofia Clássica em 1941, na Scuola Normale Superiore di Pisa, antes de se formar em Direito. Sua longa carreira no Banco Central Italiano, o Bankitalia, começou em 1960, quando ele recebeu um convite para trabalhar na administração da entidade. Com uma rica biografia, se destacou por onde passou, seja como economista, seja como premier e presidente.
Trabalhou ativamente para a implantação do Euro no país. Também foi ministro do tesouro de 1996 a 1999, nos governos de Romano Prodi e Massimo D’Alema, e conseguiu reduzir o déficit de 6,4% para 2,7%. Na época, ressaltou a importância da Itália participar da nova moeda comum europeia. Ciampi também escolheu pessoalmente o design da moeda italiana de 1 Euro.
Na política, nunca pertenceu a nenhum partido político e foi o primeiro não parlamentar a se tornar premier, após ter sido nomeado pelo presidente Oscar Luigi Scalfaro, que pediu para que liderasse a nação, na época abalada por escândalos de corrupção. Como premier, implantou medidas para frear os gastos do Estado, com a redução de débitos públicos após vários anos de gastos desenfreados. Demitiu-se após 13 meses, dizendo que considerava que o país já se encontrava no caminho para a recuperação.
Retornaria ao governo italiano ao ser eleito o décimo presidente italiano em 13 de maio de 1999 naquela que é até hoje a mais rápida votação da história, com duração de apenas duas horas e 40 minutos, na qual conquistou 770 votos dos 990 registrados em sessão conjunta com membros da Câmara, do Senado e representantes regionais.
Como presidente, Ciampi sempre teve elevados índices de aprovação popular, em todas as sondagens feitas por vários institutos italianos, desfrutando de uma média de 70 a 80% de aprovação. Em 2005, recebeu o prêmio Carlo Magno da cidade alemã de Aquisgrana pelo seu empenho por uma Europa unida e pacífica. Ainda em 2005, recebeu o título honoris causa David di Donatello por seu empenho em relançar o cinema italiano.
Visita ao Brasil em 2000
Em visita ao país em 2000, se encontrou com o vice-presidente brasileiro Marco Maciel, destacando a importância da visita para o fortalecimento das relações com o Brasil. Esteve no Rio de Janeiro, em Jacarepaguá, onde visitou os estúdios da novela Terra Nostra, que contava a saga da imigração italiana no Brasil. Acompanhado pelos irmãos João Roberto e Roberto Irineu Marinho, conversou com atores de origem italiana Antonio Calloni e Lu Grimaldi, além do diretor Jaime Monjardim, tendo sido presenteado pela atriz Maria Fernanda Candido, que interpretava a protagonista Paola.
O fim de sua passagem pela presidência foi anunciado no dia 3 de maio de 2006. Em nota oficial, Ciampi confirmou a sua indisponibilidade para um settennato-bis, devido à idade avançada e à convicção que “a renovação de um mandato longo, como o settenale, não é adequado às características próprias da forma republicana do nosso Estado”. O Palazzo Chigi, sede do governo italiano, declarou o dia 19 de setembro um dia de luto nacional, com as bandeiras italianas e da União Europeia hasteadas a meio mastro em todos os edifícios públicos do país.