Um novo espaço na capital lombarda engloba os símbolos da criatividade, do design e da tecnologia

Milão ganha um novo baricentro. A abertura do complexo Feltrinelli Porta Volta desloca as atenções do mercado imobiliário para a revitalização de uma antiga zona da cidade. Um prisma de vidro e aço surge no velho espaço ocupado por um viveiro, principalmente. No lugar de sementes e plantas novas, o prédio vai abrigar polos de inovação cultural e tecnológica. A recém-reformada Praça XXV Aprile faz de contraponto para este lançamento, capaz de reafirmar a vocação internacional de Milão. A transformação urbana e social de Milão ganha um novo palco, muito perto da citada praça e da operação de requalificação urbana de Porta Garibaldi. Da primeira pedra até a entrega do imóvel passaram-se apenas dois anos, um tempo digno da velocidade da luz, tendo em vista o mar de burocracia no qual navega o país, com suas regras e contrarregras.
A nau-capitânea da operação foi, como deduz o nome, o grupo italiano Feltrinelli, um dos mais importantes do setor editorial da Europa. A bordo subiu Manfredi Catella, administrador da Coima SGR, sujeito imobiliário que realizou Porta Garibaldi. Ele afirma que transformar o território com uma relação virtuosa e responsável entre o cliente e o arquiteto é um ato de civilização que a Itália soube expressar ao longo da sua história e, por isso, ”obras como esta renovam a capacidade de sedução e atração da Milão e do nosso país”. O lugar vai abrigar as instalações da homônima fundação e a nova sede da Microsoft na Itália, no segundo prédio do complexo. O projeto foi realizado pelo renomado escritório suíço Herzog & Meuron, criador do estádio Ninho de Pássaro, para a Olimpíada de Pequim, em 2008. O condomínio Feltrinelli Porta Volta foi o primeiro edifício público da dupla de Zurique. Apesar de ser visionário e futurístico, o prédio “dialoga” com seus vizinhos de rua, que atravessam o tempo como porta-bandeira de épocas passadas, tão passadas que remontam ao período romano, primeiro, e espanhol, depois.
Compridos e lineares, os novos prédios acompanham o estilo das velhas cascine, marcas registradas dos campos da Lombardia, referência e ponto de partida para empreendimentos de arquitetos históricos da cidade, como Aldo Rossi e o seu projeto Gallaratese. Longa e estreita, a arquitetura representa a essência dos desenhos urbanos mais emblemáticos de Milão, como o Castelo Sforzesco, o Ospedale Maggiore, la Rotonda della Besana e o Lazzaretto. O resultado é uma estrutura amálgamada no tecido urbano, uma espécie de pincelada final e genial, capaz de transformar um rascunho, um esboço, um desenho preparatório, numa solução majestosa. A geometria ganha um teto que se funde com as fachadas. Os quatro andares triangulares se apoiam nos três retangulares que saem do solo. Os jogos de transparência, de ilusão de ótica, e as divisórias dos espaços internos e externos imprimem movimento e transformam o imóvel num símbolo animado. Pode-se dizer que Feltrinelli Porta Volta assume o papel de herdeiro do estilo milanês. Jacques Herzog e Pierre De Meuron afirmam que graças a esta herança, Milão é largamente reconhecida”.

A empresa de Bill Gates é hóspede do Smart Building, repleto de assistentes virtuais e aplicativos
A Microsoft como inquilina do complexo é um claro sinal de como aquela zona entra, sem pedir licença, no mapa da inovação, uma espécie de filial de Silicon Valley. O Microsoft Technology Center incorpora a alma do projeto ao aplicar na estrutura-hóspede seus conceitos de pesquisa avançada: o prédio é um Smart Building, com sensores, assistentes virtuais, telas multimidiáticas e aplicativos para render a experiência do visitante ou do funcionário a mais interativa possível entre as pessoas, em todos os espaços. Novo epicentro de projetos de transformação digital, a sede se equipa para ser um polo de formação e consultoria do ambiente Microsoft. O presidente da empresa na Itália, Carlo Purassanta, revela, com otimismo, o desejo de revolucionar o futuro digital da cidade e do país.
— Aqui cria-se um novo espaço osmótico, de troca contínua entre a inovação que podemos oferecer em termos de inovação digital e as ideias e os pedidos dos clientes, parceiros e consumidores. Queremos que este edifício se torne um espaço vivo sob o signo da criatividade e do design italiano, unidos à tecnologia mais avançada — afirma.