Italiana de 94 anos testa a eficácia do projeto-piloto da União Europeia que coloca a tecnologia a serviço da terceira idade
Mister Robin é azul, tem uma tela como rosto, rodas como pernas e um longo pescoço, que lhe rendeu o apelido de girafa, GiraffPlus. Ele é um robô criado pela União Europeia (UE) para ajudar as pessoas da terceira idade como se fosse um verdadeiro cuidador humano.
O nome oficial do projeto piloto é GiraffPlus, porém o apelido carinhoso de Mister Robin foi invenção de Lea Mina Ralli, a nonna Lea, como gosta de ser chamada. Há seis meses, ela convive com o seu amigo mecânico em seu apartamento com vista para a Pirâmide de Céstio, em Roma. O robô lhe trouxe a liberdade de viver sozinha aos 94 anos, comemorados no dia 11 de novembro.
Lea tem quatro filhos, além de 10 netos e bisnetos que moram longe dela e são seu orgulho. Embora tenha uma ótima relação com a família, ela não quer deixar o seu apartamento cheio de lembranças de uma vida passada junto ao marido, falecido quando ela tinha 75 anos. Por isso, a nonna não quer se mudar para o apartamento da sua filha Vilma.
— Ela é tão carinhosa comigo, e eu ficaria feliz, mas ela também tem netos e muitas responsabilidades. Com este valioso assistente, me sinto mais serena e também estarão mais tranquilos meus filhos e netos pelos próximos anos que ainda tenho para viver — diz à Comunità a simpática e alegre Lea, escolhida pela União Europeia para testar o robô.
Última fronteira para ajudar as pessoas da terceira idade que vivem sozinhas e não querem perder a própria independência, o GiraffPlus está sendo testado por seis idosos de três nacionalidades diferentes, entre os quais a italiana Lea. Trata-se de um sistema de apoio domiciliar que permite aos médicos, familiares e amigos ficar em contato com o ente querido, monitorando as suas atividades e o seu estado de saúde através de um robô e de alguns sensores espalhados na sua casa.
Os primeiros dias em companhia do robô foram de conhecimento e de análise. — A primeira vez que vi o robô, achava que fosse um artefato ultramoderno que precisava estudar — revela a idosa Lea, que se define uma apaixonada por novas tecnologias a tal ponto que criou até um blog que atualiza cotidianamente.
Robô segue o idoso a cada passo pela casa e controla até a porção das refeições
Mister Robin é programado para controlar a saúde do idoso, através de um sistema de controle da pressão, batida do coração, glicemia e oxigenação sanguínea, além de estar preparado para intervir caso a pessoa precise de ajuda externa através de videochamadas com parentes, amigos e médicos.
Além do robô, GiraffPlus utiliza vários sensores espalhados no apartamento que são capazes de detectar as atividades da vida diária, como cozinhar, dormir ou assistir a televisão. Há sensores embaixo da cama que monitoram o sono da pessoa de idade: a porta tem um sistema que manda sinais cada vez que passa alguém, e no banheiro e na cozinha os movimentos são registrados. Tudo isso para verificar se a pessoa não esqueceu a porta de entrada aberta ou para se certificar de que comeu a porção certa e que não deslize no banheiro. No caso de algo não se encaixar nos padrões, Mister Robin ativa uma videochamada com os médicos ou os familiares cadastrados, conforme a necessidade.
Nonna Lea está entusiasmada com o “novo amigo” e diz não ter problemas com o monitoramento constante.
— Acredito que há o máximo respeito pela vida privada. São apenas os meus movimentos nos cômodos de casa que são registrados para saber onde estou em caso de ter algum mal súbito ou acidente doméstico — comenta a “cobaia” que, como outras cinco pessoas, na Itália, Suécia e Espanha, está testando o robô. O plano é introduzir a parafernália antes do final desse ano em outras 15 casas de idosos.
De acordo com o médico da Azienda Sanitaria Locale de Roma (ASL Roma) e healt manager na Itália de GiraffPlus, Marcello Turno, o robô é “uma resposta às necessidades de um idoso, um monitoramento constante da rotina do paciente que permite compreender se há alguma falha de tipo cognitivo”.
— O resultado é que uma pequena equipe pode controlar uma multidão de pacientes e isso também implica um impacto econômico sobre o sistema de saúde e social — explica o médico, elogiando Lea por ser muito colaborativa e estar participando da iniciativa.
O projeto, financiado pela União Europeia, custou cerca de três milhões de euros e é formado por um consórcio público-privado formado por Itália, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suécia e Reino Unido, e guiado pela Universidade sueca de Örebro. Além disso, envolve especialistas internacionais, entre os quais os italianos do Consiglio Nazionale delle Ricerche (Conselho Nacional de Pesquisa), do Istituto di Scienza e Tecnologie dell’Informazione (Instituto de Ciência e Tecnologias da Informação), e do Istituto di Scienze e Tecnologie della Cognizione (Instituto de Ciência e Tecnologia do Conhecimento).
A vida de Lea não mudou muito. Ela apenas teve que modificar alguns hábitos, pois teve que se adaptar aos controles, marcados em horários combinados, dos médicos e técnicos para avaliar a sua saúde e o funcionamento do robô.
— Acredito que as novas tecnologias tendem a melhorar a vida humana. A minha vida melhorou porque agora me sinto mais protegida e me sinto menos sozinha — afirma a enérgica vovó que, além de ocupar-se das tarefas domésticas, passa o dia escrevendo poemas.
Aos que criticam a falta da parte humana do robô salva-vidas, os especialistas respondem que a ideia não é substituir a contribuição e a ajuda humana aos idosos, e sim reforçar a independência das pessoas que vivem sozinhas. De acordo com eles, “é apenas um meio mais simples e mais rápido de entrar em contato com amigos e familiares, em caso de dificuldade”.
Até o final de 2015, Mister Robin estará disponível para venda através de duas modalidades: é possível comprá-lo ao preço total de cerca de 2 mil euros, ou pagando um aluguel mensal de 200 euros de acordo com as necessidades.
Há vários anos, a Comissão Europeia, com a estratégia da Agenda Digital, apoia a independência das pessoas idosas através do uso de novas tecnologias, como a robótica. Os números confirmam o compromisso: a previsão é que o mercado europeu de robôs e outros dispositivos de assistência aos idosos alcance 13 bilhões de euros até 2016.
Lea não parece nem um pouco perturbada pela tela sobre rodas que a segue passo a passo em todos os cômodos de seu apartamento. Pelo contrário, ela se sente mais segura e mimada em comparação aos seus outros coetâneos e não tem sombra de dúvida: aconselharia Mister Robin a todos os idosos que moram sozinhos.
— Com a idade, a pessoa se torna mais frágil e desatenta e isso é perigoso. Mister Robin é um pronto-socorro doméstico personalizado que deixa tranquilos até os familiares — conclui.
Versos para um robô
A paixonada por tecnologia, a romana Lea Mina Ralli escreveu a vida inteira. Aos 94 anos, é autora de um blog (nonnalea.wordpress.com), no qual publicou um poema dedicado ao seu “amigo” Mister Robin, que a assiste 24 horas por dia. A poesia se inspira nos versos de Dante Alighieri, o pai da língua italiana.
Nell’ultimo cammin della mia vita
mi ritrovai ad esser strumentata
da una invenzione tutta programmata
dal genio della scienza realizzata
ma lungi ancor dall’essere testata
affinché fosse da tutti bene usata.
All’arrivo rimasi sconcertata
da quella sua presenza “alto locata”
e la guardai perplessa e affascinata
sapendo che m’avrebbe controllata
ma pure virtualmente consolata
in una probabile emergenza sconosciuta.
Ed or che fraternamente conviviamo
si è stabilto un rapporto spensierato
da potersi definire “sovrumano”