A chegada da primavera, seguida pelo verão, abre a todos a possibilidade de se ver de perto os raros tesouros culturais da Itália, quase sempre escondidos ou fechados, pouco notórios ou expostos. O casarão abandonado, o museu desconhecido, o parque de plantas exóticas e os jardins de vilas fazem parte de um catálogo com 40 bens e que não para de crescer.
A FAI, Fundação Ambiente Italiano — com nome em maiúsculo, não apenas pela sigla em si, mas pela grandeza de seus objetivos —nasceu em 1975, seguindo os passos da britânica National Trust for Places of Historic Interest or Natural Beuty, fundada em 1875, abrangendo Inglaterra, País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia. A herança italiana é a maior do mundo. Nenhum país concentra tanta cultura e obras artísticas por metro quadrado. Mais da metade do patrimônio da humanidade da Unesco está em território italiano. Todos os anos, 576 mil pessoas visitam os locais administrados pela FAI, um fluxo contínuo de apaixonados pelo turismo cultural, fundamental para a economia do país.
A preservação do passado serve para não deixar as tradições e os ensinamentos para trás. Em 40 anos de atividades, a FAI descobre e salva lugares e objetos ao longo de toda a Itália. A lista é longa: na Puglia, a Abbazia di Santa Maria di Cerrate; o Giardino Pantesco Donnafugata, na Sicília; o Parque da Villa Gregoriana, em Roma; o Bosco de São Fracisco, na Úmbria; a Abbazia di San Fruttuoso, na Ligúria; a Villa Necchi Campiglio, em Milão; o castelo de Avio, no Trentino Alto-Ádige, somente para citar alguns. Recentemente, a FAI recebeu como comodato gratuito, por 20 anos, a reserva florestal I Giganti della Sila, através de um acordo entre a instituição e o Parque Nacional da Sila, com características e especificações de rara beleza.
— Esta é uma grande confiança que o Parque demonstra na colaboração entre os setores público e privado, na gestão e valorização do patrimônio. É um novo motivo de orgulho para o cidadão. A Constituição italiana, segundo o artigo 118, aprova este tipo de acordo — diz o presidente do FAI, Andrea Carandini, ressaltando que a entidade vai “ajudar a aumentar o número de visitantes”.
O acordo foi o primeiro na Calábria e o desafio é administrar uma reserva com árvores centenárias de diâmetros de mais de dois metros e meio, e altura que supera os 45 metros. Tais troncos são de grande raridade na paisagem europeia. A integridade do ecossistema impressiona pela biodiversidade, testemunha da história daquele território a 1.420 metros acima do nível do mar. E como de cosa nasce cosa, a FAI recebeu como doação um velho casario do século XV, o Casino Mollo, que pertenceu à família da nobreza Mollo e vai ser reformado e usado para projetos de pesquisa da universidade e entidades locais.
As empresas patrocinadoras podem realizar eventos em castelos e vilas
O esforço de pessoas privadas e jurídicas é fundamental para a sobrevivência da instituição. As contribuições das empresas à FAI podem ser deduzidas do imposto de renda e a figura do voluntário-empresário ajuda a criar um forte elo entre a empresa e os empregados. Juntos, todos participam de eventos e visitas que, de uma forma ou de outra, solidificam as relações humanas entre si e com a realidade paisagística e cultural ao redor. Uma das vantagens para as empresas é a possibilidade de usar castelos, vilas, casas históricas, parques e jardins para eventos.
Atualmente, existem mais 500 empresas que patrocinam a FAI. A inscrição de pessoas privadas aumentou em 13%, passando de 90.063 em 2013 para 101.571 em 2014. A arrecadação com doações, incentivos fiscais e contribuições oscila em torno dos 25 milhões de euros anuais.
Na outra extremidade, está o trabalho junto às escolas. Um dos programas de maior sucesso é o de aprendiz de cicerone. Nele, a classe de um colégio se torna “amiga” da entidade. As atividades preveem viagens escolares em lugares da instituição. A menina dos olhos é um projeto de formação, criado em 1996. Mais de 35 mil alunos, de todos os níveis, passaram por ele, em seus 20 anos de criação. A finalidade é de sensibilizar o jovem a “tomar em responsabilidade” um bem artístico ou ambiental, tornando-se um estudioso profundo e um sentinela atento sobre aquela riqueza. Os participantes aprendem a cuidar do patrimônio, além de adquirir conhecimento teórico e prático. Os jovens participam como cicerones e anfitriões de coetâneos e adultos em visita pelos locais ao longo do projeto. Assim, o FAI cultiva o passado investindo no futuro.