{mosimage}Exposição de fotógrafa de origem lombarda em São Paulo chamou atenção para o tema da automutilação
Realizada no início deste mês, a exposição Self Harm/Cutting, da fotógrafa Stephany Julia Panteghini, chamou a atenção para um problema que aflige inúmeras pessoas em todo o mundo, das mais diferentes culturas, idades e camadas sociais: a automutilação.
A exposição aconteceu no Centro Cultural da Marinha de São Paulo e teve o apoio do Instituto Italiano de Cultura, da Associação Lombardi in Brasile e da Associação da Imprensa Italiana no Brasil. A mostra, aberta ao público e com entrada gratuita, ficou em cartaz de 2 a 9 de março.
O ato de autoflagelação, no qual a pessoa se machuca sem a intenção de suicídio, é interpretado como um meio de aliviar, por meio da dor física, uma dor emocional, mais intensa e difícil de ser curada. Muitas vezes acompanhada de arrependimento, a automutilação pode ser indício de um distúrbio psicológico ou de um ato desencadeado pelo meio em que a pessoa vive.
Fotógrafa com mais de dez anos de experiência, Stephany Julia Panteghini fez uso do nu artístico para denunciar esse problema, desconhecido por grande parte da sociedade. Brasileira com cidadania italiana (seus descendentes são originários da Lombardia), Stephany é formada em fotografia pela faculdade Senac, de São Paulo.
— Nas fotografias apresentadas por Steph Julia, não há nada de contraditório. É um alerta. Aborda o tema da automutilação com delicadeza; mescla a fantasia e o real. Ela nos abre uma janela poética para a questão — opina Jairo Casoy, fotógrafo e professor de fotojornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no texto de abertura da exposição.
Sem intenção suicida
A mostra contou ainda com textos explicativos da antropóloga e doutoranda pela Universidade Estadual de Campinas, Carolina Branco Ferreira; do professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, Hermano Tavares; da psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da USP, Jackeline Giusti, especializada em automutilação; e do coordenador do Programa de Tratamento de Automutilação do Instituto de Psiquiatria da USP, Marcelo Nogueira.
— A automutilação patológica consiste em múltiplos episódios de lesão ao próprio corpo (principalmente cortes e queimaduras), sem intenção suicida, com sensação de alívio subsequente e duração de muitos anos. Pessoas que se automutilam vivenciam um extremo sofrimento e descrevem sentimentos de insensibilidade, de desintegração interna e de morte imediatamente antes de seus atos. Muitas vezes, não experienciam a dor durante o ato e relatam sensação de alívio após o mesmo — explica o texto dos especialistas.
Segundo os estudiosos, trata-se de uma forma mórbida de auto-ajuda, aliviando, embora apenas temporariamente, sensações de vazio, depressão, solidão, ansiedade e raiva. Por mais contraditório que seja, trata-se de um ato anti-suicida, por ser usado como meio rápido e efetivo de trazer a pessoa de volta de uma sensação irreal de morte.
Com seu olhar fotográfico, Steph Julia, de 25 anos, desnuda o que, muitas vezes, permanece oculto. Com a iniciativa, ela dá aos seus modelos fotográficos e a quem mais se identifique com eles uma oportunidade de expressão que dispensa palavras sem, com isso, ter que recorrer à dor mais uma vez.
A exposição contou ainda com o apoio da associação Viver Bem, uma organização sem fins lucrativos que visa promover a aceitação e o bem-estar de portadores de transtorno do impulso e suas famílias. Mais informações sobre esse transtorno podem ser encontradas no site da associação www.associacaoviverbem.org.br
Um dos mais recentes trabalhos de Steph Julia foi a elaboração do conteúdo fotográfico do livro Influências lombardas na paisagem paulistana, de Ezio Maranesi, publicação que faz parte do projeto Momento Itália-Brasil e que tem o apoio da Embaixada, reunindo informações sobre as obras de artistas, arquitetos e empresários de origem lombarda que ainda hoje caracterizam a paisagem paulistana.