BIANUAL

BIANUAL

A partir de
Por R$ 299,00

ASSINAR
ANUAL

ANUAL

A partir de
Por R$ 178,00

ASSINAR
ANUAL ONLINE

ANUAL ONLINE

A partir de
Por R$ 99,00

ASSINAR


Mosaico Italiano é o melhor caderno de literatura italiana, realizado com a participação dos maiores nomes da linguística italiana e a colaboração de universidades brasileiras e italianas.


DOWNLOAD MOSAICO
Vozes: Cinco <br>Décadas de Poesia Italiana

Vozes: Cinco
Décadas de Poesia Italiana

Por R$ 299,00

COMPRAR
Administração Financeira para Executivos

Administração Financeira para Executivos

Por R$ 39,00

COMPRAR
Grico Guia de Restaurantes Italianos

Grico Guia de Restaurantes Italianos

Por R$ 40,00

COMPRAR

Baixe nosso aplicativo nas lojas oficiais:

Home > O Tyson do Vesúvio

O Tyson do Vesúvio

22 de agosto de 2016 - Por Comunità Italiana
O Tyson do Vesúvio

O Tyson do VesúvioPugilista nascido em Pernambuco e adotado por família napolitana quando era bebê representa a Itália nos ringues olímpicos

Valentino Manfredonia vai lutar em casa, representando a Itália no Brasil. O peso médio-máximo de Nápoles afunda as suas raízes na cidade de Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife. Com menos de um mês de vida ele foi adotado por uma família de italianos, o seu Mario Manfredonia  e a dona Giovanna.
— Meus pais sempre falaram muito bem do Brasil. Para mim, o país é de casa, mesmo tendo vindo para a Itália ainda muito pequenininho — diz ele à Comunità, no intervalo dos treinos no centro nacional de pugilismo, em Assis.
A contagem regressiva para conhecer a terra natal, ainda mais num contexto olímpico, tem um sabor para lá de especial.
— Falo com você, com o coração — afirma o boxeador de voz tranquila com um sotaque inconfundível do sul da Itália, num italiano “napolitanizado”.
Ele não pensa duas vezes sobre a lembrança, o “souvenir” que trará do Brasil, ao final da Olimpíada do Rio de Janeiro:
— Certamente quero  trazer uma bela medalha, na minha mala. Vou fazer de tudo para isso. Volto para a pátria e tenho que fazer tudo muito bem feito neste torneio — afirma ele, rindo.
Valentino é um dos 286 pugilistas das dez categorias presentes aos Jogos Olímpicos, pré-destinado a escrever uma importante página da história de sua vida e da sua cidade, terra que já deu nomes olímpicos como  o judoca Pino Maddaloni, ouro em Sidney, e o boxeador Patrizio Oliva, campeão em Moscou.
O atleta italiano foi o primeiro a carimbar o passaporte para o Brasil. De todos os integrantes da delegação do país, ele foi o mais rápido em garantir a vaga, “abrindo a dança” no ringue, enfim, quebrando, com os punhos, o gelo para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Dessa forma, traçou a estrada para os outros que viriam atrás, tendo-o como exemplo. Foi em abril de 2015. Logo depois, o atleta tratou de colocar o ombro esquerdo no lugar através de uma operação que lhe custou quatro meses de banho-maria. Em seguida, retomou à vida “normal” com os treinos intensivos. Ao mesmo tempo, ganhou mais notoriedade.
— Devagar e aos poucos, as pessoas começaram a me parar pela rua, a pedir para tirar uma foto. Nápoles é uma cidade muito calorosa. Ser um exemplo esportivo é muito positivo para mim e para ela — afirma Valentino Manfredonia, cheio de orgulho napolitano no peito e na voz. E não podia ser diferente para quem viveu boa parte da vida dentro da academia de boxe de Guido De Novallis, em pleno Rione Traiano, quarteirão problemático da cidade.
A viagem para o Rio de Janeiro é  um prêmio mais do que merecido e devido para tanta dedicação, esforço e sacrifício de quem nunca desistiu de lutar, literalmente. Tudo isso, distribuído em 1,80 metro de altura e 81 quilos de peso. 
— Eu coloquei os pés num ginásio aos dez anos de idade pela primeira vez. Eu era gordo e queria emagrecer. E me apaixonei pelo pugilismo. O professor Guido De Novallis, ao me observar no ringue, notou que eu levava jeito, e praticamente me adotou como um filho e dali segui adiante — conta Valentino Manfredonia, campeão italiano em 2006, ano de um incidente que quase nocauteou a sua carreira. Ele lembra que sofreu com o ombro esquerdo, mas superou o problema. Ficou afastado por quase três anos do esporte, uma eternidade, devido às complicações durante a recuperação do ombro. Nessa época, dava uma mão como sorveteiro, quando a família entrou no ramo, em Rimini, obrigando-o a mudar de cidade. Naquele meio tempo, seus concorrentes cresciam. E ele conhece bem os seus principais adversários, ainda que não os estude antes de subir no ringue:
— Sem dúvida, é o cubano La Cruz, atual número um do ranking, além do pugilista do Casaquistão — diz ele, acalentando o sonho de vencer uma final que já viu a Itália no lugar mais alto do pódio na sua categoria de médio-máximo, com Cosimo Pinto, em 1964, nos Jogos de Tóquio, sucessor do norte-americano Cassius Clay, vencedor na Olímpiada de Roma quatro anos antes.
 
Fã de Muhammad Ali, boxeador não fala português
O pugilista tem como exemplo o grande Cassius Clay — o Muhammad Ali, campeão absoluto dos pesos-pesados e líder incontestável dos negros americanos, e não somente durante as batalhas pelos direitos civis. Se os seus diretos e ganchos derrubavam os adversários como folhas mortas e ramos secos, suas declarações políticas e sociais abatiam os muros do preconceito e da discriminação raciais. 
— A dança dele no ringue serve de inspiração para mim. O que ele fazia dentro e fora da arena era impressionante — conta o atleta napolitano.
Mas o jovem Valentino Manfredonia nasceu na era de Mike Tyson, o demolidor dos anos 1990. E não foi difícil receber o apelido de Tyson do Vesúvio, a quem é semelhante fisicamente.
— Foram os jornalistas. Eu gosto. Num mundo onde o futebol é o esporte de maior fama, se eu posso contribuir para a popularidade do boxe, faço com prazer. Enche-me de orgulho — diz ele, que não não corre para cima e para baixo do sonolento e tranquilo vulcão, aos pés do qual Nápoles cresceu. Nem corre, muito menos, atrás de galinhas pelas encostas da enorme cratera, como faria Rocky, o Lutador, personagem cinematográfico criado pelo ator e diretor Sylvester Stallone, famoso nos anos 1980, também de origem italiana, ambos, criador e criatura, na vida real e nas telas, caso o ambiente da história fosse na região da Campânia.
Valentino Manfredonia não pensa ainda em se tornar profissional, seguindo os passos de tantos outros pugilistas que pularam as cordas do amadorismo, em busca de outros desafios.
— Eu estou concentrado no Rio de Janeiro. Quero uma medalha. Depois, vamos ver. Não estou preocupado com isso. Depende das propostas que poderão chegar em função do meu desempenho na Olimpíada — avisa.
A escalada de Valentino Manfredonia acompanhou, naturalmente, o seu crescimento de peso e o seu amadurecimento como esportista.
— A passagem de categoria é algo natural e segue junto com a sua evolução. Sobretudo é uma questão mental, além do peso, claro. Tenho um lema: “Querer é poder”. Com ele, que venha o mundo inteiro. O boxe é um esporte individual. Ninguém pode ajudá-lo ali em cima. No ringue, estão você, o juiz e o seu adversário. Este é um esporte que ensina o respeito ao próximo, isto é fundamental — resume o lutador.
O Tyson do Vesúvio cuida muito bem da alma e do corpo. E não podia ser diferente. Mulato de cabeça raspada, com sobrancelhas bem feitas, sorriso aberto e personalidade extrovertida, ele adora as tatuagens. A musculatura do atleta empresta as formas para desenhos e escrituras impressas na pele. Um guerreiro maori aqui, uma caveira para lembrar os anos difíceis ali, um soco quebrando um muro e anunciando o seu renascimento lá, o beijo da mãe acolá, além da coroa atrás do pescoço como sinal de lealdade. Mas, esperando os cinco círculos olímpicos, ainda tem espaço para a sentença “Eu pertenço a você e você me pertence”, frase escrita no corpo do boxeador, em português, língua original que ele não fala nem entende. Uma declaração de amor, sem dúvida, também e quem sabe, a um passado não vivido que carrega e levará sempre consigo, ao longo da vida. Até e, principalmente, em nome do filho, que vai chegar em janeiro do ano que vem.

Títulos
Valentino Manfredonia foi o vencedor WSB (World Series of Boxing) de 2015 e vice-campeão dos Jogos Europeus; ouro nos Campeonatos da União Europeia de 2014; campeão italiano de 2006 na categoria 66 kg e de 2007 na categoria 75 kg; e vencedor do campeonato italiano de elite em dezembro de 2013.

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.