Comunità Italiana

O último adeus

“Pai da comédia italiana” comete suicídio aos 95 anos

{mosimage}Os apreciadores da comédia italiana perdem um de seus maiores mestres:Mario Monicelli. O cineasta tinha 95 anos e passava porum tratamento de câncer terminal na próstata. No dia 30 de novembros e atirou da janela do quinto andardo Hospital San Giovanni de Roma, onde estava internado.

 

Considerado um dos maiores mestres do cinema italiano do pósguerra,o diretor fez vários filmes de sucesso, entre eles: “O Incrível Exército de Brancaleone”, “Quinteto irreverente”, “Meus CarosAmigos” e “Parente é Serpente”. Eledirigiu mais de 60 longas-metragense escreveu mais de 80 roteiros.

Mario Monicelli nasceu em Viareggio, cidade litorânea da regiãoda Toscana, em 15 de maio de 1915. Era filho do crítico teatral e jornalista Tommaso Monicelli, que também se suicidou, em 1946. O cineasta chegou a estudar História e Filosofia na cidade de Pisa. A partirde 1934 – com menos de 20 anos –, estreou dois curtas-metragens com seu amigo Alberto Mondadori: “Cuore rivelatore” e “I ragazzi della via Paal”. Este último foi destaque na Mostra de Veneza, criada dois anos antes. Em 1959, seu filme “A Grande Guerra” ganhou o Leão de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Veneza, rendendo aindaa primeira de suas quatro indicações ao Oscar. A segunda viria em1963, com “I compagni”.

Foi a partir de 1953 que Monicelli entrou no mundo da direção e tornou-se um mestre de um gênero de comédia que colocava em cena problemas da sociedade da época,em plena evolução. Trabalhou com os maiores atores da Itália, como Totò, Aldo Fabrizi, VittorioDe Sica, Sophia Loren, Marcello Mastroianni, Vittorio Gassman, Ugo Tognazzi, Anna Magnani, Alberto Sordi, Nino Manfredi, PaoloVillaggio, Monica Vitti, Enrico Montesano, Giancarlo Giannini, Philippe Noiret, Giuliano Gemma,Stefania Sandrelli, Gian Maria Volontée Leonardo Pieraccioni.

Sua morte gerou uma série  de discussões na Câmara dos Deputados na Itália durante uma homenagem, realizada este mês, ao mestre da comédia. Walter Veltroni, ex-prefeito de Roma e ex-candidato ao cargo de premier pela centro-esquerda, deu início aos debates ao iniciar seu pronunciamento. Para ele, Monicelli era um “artista anti-retórico e coerente”,o que ficou comprovado em seu “último ato da vida”.

— Mario viveu e não se deixou viver, assim como não se deixou morrer — enfatizou.

O momento foi oportuno para a deputada Rita Bernardini. A parlamentarressaltou que a morte de Monicelli deveria fazer com que o Parlamento “refletisse sobre o modopelo qual algumas pessoas, que não conseguem seguir em frente, se veem obrigadas a deixar suas vidas, ao invés de morrerem ao ladode seus entes queridos”. Dessa forma, ela acabou fazendo uma referência mais clara à eutanásia, queé proibida pela legislação italiana eque fez com que as discussões esquentassemna sede do Legislativo.

Já a democrata-cristã Paola Binetti pediu o “fim dos avisos em favor da interrupção da vida, partindo do caso de homens desesperados,porque Monicelli havia sido deixado pela família e pelos amigos, e o seu foi um gesto de enorme solidão, não de liberdade”.

Em outro momento, o presidente da República italiana, Giorgio Napolitano,que mais cedo visitou a câmara ardente com os restos mortais do diretor, considerou que “Monicellise foi com uma última e forte manifestaçãode sua personalidade, uma vontade que devemos respeitar”.

Em telegrama enviado à família, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi também manifestou suas condolências: “Expresso a minha dor e do Governo italiano pelo trágico desaparecimentode Mario Monicelli,mestre da cinematografia italiana”.