Automobilista italiano, que deixou o Rio com dois ouros e uma prata, é fã declarado de Ayrton Senna

Segura o italiano! O bordão lançado pelo saudoso locutor televisivo Luciano do Valle quando narrava corridas da Fórmula Cart (não confundir com o kart), originária da Indy, foi lembrado pelo campeão Alessandro Zanardi quando o campeão esteve no Rio para aumentar sua coleção de medalhas na handbike dos Jogos Paralímpicos, bicicleta impulsionada pelas mãos. O italiano deixou as terras cariocas com dois ouros e uma prata. Alex foi a estrela azzurra na Cidade Maravilhosa durante os Jogos do Esporte adaptado, o nome mais badalado. A mesma onde há 20 anos ele também desafiava a velocidade, mas nos tempos em que se dedicava ao automobilismo e tinha as duas pernas que perdeu em um acidente.
— Foi no Rio que obtive uma pole position em 1996 na Cart. Mas na época não ganhei a corrida e agora pude voltar à cidade para vencer.
Fã de um mito da Fórmula 1 falecido em 1994, Alex Zanardi acha que teve ajuda dele para voltar para casa com mais ouros na Paralimpíada:
— Acho que o Ayrton Senna me deu uma mão lá de cima. Há um monte de pessoas a quem eu gostaria de agradecer. Minha mulher, Daniela, te amo! Meu filho, mesmo sendo uma peste, daria minha vida por ele. Meu treinador… Quero dedicar minha medalha a Ginmarco Tamberi, mandar-lhe um beijo. Ele não pôde vir ao Rio, mas em Tóquio poderá ganhar essa tão sonhada medalha.
Tamberi era uma das maiores esperanças do atletismo italiano, que não levou uma medalha na Olimpíada do Rio. O atleta, especialista no salto em altura, machucou-se no tornozelo esquerdo em julho deste ano pouco antes dos Jogos e não disputou a competição.
Zanardi, que está completando 50 anos, referiu-se a si mesmo como questo vecchietto, mas disse que pretende estar na próxima Paralimpíada em 2020, em Tóquio:
— Talvez como mecânico — brincou.
O que fazer para melhorar o esporte paralímpico? Zanardi tem a receita:
— Vocês — referindo-se aos jornalistas — podem contá-lo melhor.
E Zanardi tem experiência nesse campo. Já apresentou o programa E se domani… na Rai, que tratava de ciência. Agora é o apresentador de Sfide, que conta histórias de personagens e façanhas do esporte. Já de volta à Itália após os Jogos do Rio, o paratleta manifestou-se no Twitter favoravelmente a uma lei para que os projetos arquitetônicos nos espaços públicos fossem projetados também de acordo com as necessidades de pessoas deficientes, como rampas para os cadeirantes:
— Eu assino também porque quem não pode subir uma escada pode mudar sua vida, se você lhe permitir — escreveu Zanardi na rede social.
O campeão paralímpico teve suas duas pernas amputadas num acidente em 15 de setembro 2001, em Lausitzring, na Alemanha: a esquerda, um pouco acima do joelho, e a direita, um pouco abaixo. Depois de uma parada nos boxes, quando voltava à pista, perdeu o controle do carro, que se chocou violentamente com o do canadense Alex Tagliani. A Reynard Honda do italiano foi partida em duas. Zanardi foi levado ao hospital em condições gravíssimas. Esteve entre a vida e a morte. Sofreu 14 operações e teve alta depois de um mês e meio. Então, antes de tentar novamente competições no automobilismo mesmo depois das amputações, venceu outras batalhas, como colocar próteses nas pernas, levantar-se da cama, ir ao banheiro sozinho. O mesmo piloto, que antes do acidente tinha passado sem brilho pela Fórmula-1, então consagrou-se em outro tipo de esporte — a handbike — e tornou-se um dos campeões mais famosos do mundo paraolímpico.

Ficha
Nome: Alessandro Zanardi
Nascimento: 23 de outubro de 1966
Estado civil: Casado com Daniela; pai de Niccolò, 18 anos
Escuderias na Fórmula-1: Jordan, Minardi, Lotus, Williams
Títulos na Cart (automobilismo): 1997 e 1998
Medalhas paralímpicas
no ciclismo:
Londres 2012 – ouro na corrida contra o relógio, categoria H4; ouro na corrida em estrada 48 km, H4; prata no revezamento por equipes misto (homens e mulheres), H4. Rio 2016 – ouro na corrida contra o relógio H5; prata na corrida em estrada 60km, H5; ouro no revezamento por equipes, H2 a H5.
Nota: Categorias de H1 a H5 (handbike), que variam segundo as capacidades limitadas nas pernas, nos braços e no tronco.